“Por ocasião da festa era costume do governador soltar um prisioneiro escolhido pela multidão. Eles tinham, naquela ocasião, um prisioneiro muito conhecido, chamado Barrabás. Pilatos perguntou à multidão que ali se havia reunido: ‘Qual destes vocês querem que solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?’ Porque sabia que o haviam entregado por inveja. Estando Pilatos sentado no tribunal, sua mulher lhe enviou esta mensagem: ‘Não se envolva com este inocente, porque hoje, em sonho, sofri muito por causa dele’. Mas os chefes dos sacerdotes e os líderes religiosos convenceram a multidão a que pedisse Barrabás e mandasse executar Jesus. Então, perguntou o governador: ‘Qual dos dois vocês querem que eu solte?’ Responderam eles: ‘Barrabás!’” (Mt 27, 15-21).
Vamos debruçar diante da passagem bíblica acima. Quem era Barrabás? No Evangelho de MT 15,6-7 diz o seguinte:
“Ora, por ocasião da festa, fazia parte da tradição libertar um prisioneiro por aclamação popular. Um homem conhecido por Barrabás estava na prisão junto a rebeldes que haviam cometido assassinato durante uma rebelião.”
Então, Barrabás não era um preso qualquer mas um rebelde político e assassino. Talvez possamos até atribuir-lhe o adjetivo de terrorista. Alguns estudos atribuem que Barrabás possa ter sido integrante dos Zelotes (partido judaico nacionalista), onde se defendia a libertação do povo judeu das mãos dos estrangeiros, isto é, do Império Romano. Por essa linha de raciocínio, podemos concluir que possivelmente ele pertencia a um grupo golpista que realizou um ataque a soldados do império que resultou na morte de um dos soldados.
Analisando o Evangelista Marcos, em Mc 15, 7; dá a entender que o ocorrido teve grande repercussão na época. E São Mateus (Mt 27, 15) mostra que Barrabás era uma figura bastante conhecida e talvez com uma possível fama entre o povo, alguém que seus delitos fossem justificáveis pelo bem do povo e em nome da liberdade. Independente desse lado filosófico, ainda assim era um perturbador da ordem pública e assassino.
Na altura desse texto, o caro leitor deve estar pensando… “já sei aonde esse texto quer chegar” ou ainda “parece que depois de tantos anos o povo ainda continua escolhendo os bandidos”. Bem, o objetivo da reflexão desse texto não é tão óbvio assim… Gastar tantas linhas para repetir discurso de papagaio seria uma verdadeira perda de tempo.
Vamos continuar e dessa vez, vamos avançar para a América Latina. Enquanto, muitos países investiram na luta contra o militarismo de direita, existiu um país em particular que escreveu uma história um pouco diferente. Estamos na Venezuela, durante a época da Guerra Fria. Marcos Evangelista Pérez Jiménez foi convidado a se retirar, em 1958, após tentar um golpe através de um plebiscito, como consequência, surgiu o Pacto de Punto Fijo. Esse pacto ocasionou o aumento do poder do Estado e o aumento dos gastos públicos.
Com tudo isso, alguns grupos de esquerda começaram a se infiltrar dentro das forças armadas. O grupo terrorista Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), ingressou no militarismo e formou o grupo que se intitulava “Terceiro Caminho”. Um dos nomes de destaque neste grupo seria o de Adán Chávez, irmão mais velho de um famoso nome venezuelano.
No ano de 1986, surge o Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200) pelo, então, Tenente Hugo Cháves. Em 1989, começam as manifestações violentas nas ruas lideradas por Hugo Cháves que acaba preso após o fracasso do golpe. Pronto. Nasce a figura do herói do povo venezuelano, preso “injustamente na tentativa de libertar o povo”.
Paralelamente surge em 1990 o Foro de São Paulo, criado por Fidel Castro e Lula. Certamente não por mera coincidência, os envolvidos neste movimento subiriam ao poder anos seguintes após mudança drástica no discurso, modo de falar e vestir.
Assim, com o discurso ganhador de Oscar que pregava contra a “elite governante corrupta falha”, Hugo Cháves conquista a presidência da República venezuelana. Fez várias reformas e com apoio popular mudou a Constituição do país. Autoridades militares incomodadas com as mudanças radicais tentaram destituir o presidente, porém sem êxito. Com milhares de apoiadores continuou no poder e radicalizou suas ações: exilou opositores, fechou a principal emissora do país, reformou a estatal petrolífera, despediu inúmeros trabalhadores em greve e reformou a Suprema Corte.
Avancemos um pouco, mesmo com a crescente crise econômica em que a Venezuela mergulhou com apoio bolivariano e o aumento da insatisfação popular o mal já estava instaurado e o caos era seu aliado. Em 2013, Hugo Cháves morre e deixa seu discípulo: Nicolas Maduro. Com tantas revoltas e perseguições, a população começou a se refugiar em países vizinhos, como o Brasil.
Vamos saltar agora para o tal país vizinho, o Brasil. Chegamos em 2023. Eleições não se ganham, mas se tomam. Mas paremos para uma reflexão… Longe de nós questionarmos a legitimidade das eleições. Não é esse intuito desse texto. Não é mesmo. O que há de tão semelhante entre Barrabás, Hugo Cháves e o Brasil?
Qual a relação entre a Sagrada Escritura e a América Latina? Repare bem… Não se trata do povo preferir ex-presidiarios. Se trata do povo se identificar com “os injustiçados”. O discurso socialista de Robin Hood é sedutor. Tirar dos ricos e dar aos pobres. Não importam os meios, para eles importa o fim.
Mudar essa atração que a população tem pelo herói do povo, preso, injustiçado… É mudar uma estrutura já enraizada no inconsciente das pessoas. É ensinar desde a educação básica que a divisão justa anda lado a lado com o esforço.
O cristianismo nos ensina a importância de se preocupar com o próximo, do valor da caridade e da empatia. Infelizmente, parece que pegaram os ideais do cristianismo e deturparam a mensagem para desconstruir a imagem do Cristo e transformá-lo em um revoltado Barrabás.
Precisamos ser vigilantes. Que Jesus estamos seguindo? Jesus Nazareno ou Jesus Barrabás? Queremos um herói que nos salve das mazelas terrenas ou que nos prepare para a vida eterna? Será que os líderes continuam a convencer a multidão a pedir Barrabás e mandar executar Jesus? Fiquemos hoje com essa reflexão.
Obra veiculada na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N. º 31