Uma análise teológica
Por Pastor Neto Curvina
O conceito de “Lei Natural”, aquele raio de luz que rasga as eras conectando-as intelectualmente entre si, ainda que de uma forma ao mesmo tempo sobrenatural e transcendente, caminha sobre os trilhos daquilo que serve de alicerce para a realidade.
Ao dizer que “Por mais maciço e imenso que seja este mundo, sua existência depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a consciência em que aparece”, Schopenhauer mira na raiz metafísica de toda a realidade como algo limitado aos sentidos conscientes do homem.
“Cogito, ergo sum”, disse Descartes, não o “logo existo” tradicional, mas o correto: “logo sou”. Nos fundos caminhos que se cruzam em lugar algum, porque entendem, ao modo de Protágoras, que “O homem é a medida de todas as coisas”.
Não é de estranhar que mais dia menos dia, a manipulação das fontes de formação e informação de uma turba que de fato crê nesses conceitos, se encontrasse em um vácuo existencial onde sua própria vida perde a razão de ser diante de uma realidade que elas teimam em desconstruir como forma de se adequarem ao status quo de referência produzido por aqueles que puxam as cordinhas.
A “Lei Natural”, termo fartamente utilizado por C S Lewis para designar o poderoso “inconsciente coletivo” da humanidade, o que Chesterton chamou de “ditadura dos mortos”, o que os orientais chamam de “tao”, anda em completo desacordo com aquilo que – obviamente – desafia a ordem natural das coisas.
Observe que as nomenclaturas não são aleatórias. Em posição antagônica com a “Ordem Natural das Coisas” sempre há uma “Nova Ordem Mundial”, e elas seguem travando uma batalha desde o Éden pelo controle da espécie humana e de seus recursos. Já dizia Pascal, “A natureza pôs as suas verdades cada uma em si mesma”. Ou seja, de uma forma perigosamente simplificada podemos inferir que a “Lei Natural” é a primeira representação da verdade para a humanidade. E por que é assim?
Simples: porque aqui chegamos.
A “Lei Natural” foi estabelecida pelo Criador. E o seu primeiro juízo de valor determinou os limites que subsidiariam os demais juízos de valor (e de direito) que viriam a ser feitos pela humanidade. Ele disse: “E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas” (Gênesis 1:4). Dessa primeira assertiva temos a primeira verdade e a também a primeira premissa da “Lei”. É o que Krishina chama no Gitã de “Verdade Espiritual”. Sua fonte primária: O Senhor Deus de Israel.
Já no Éden, os elementos da “Ordem Natural das Coisas” começam a ser estabelecidos, e a sua primeira manifestação do ponto de vista civilizacional atendeu pelo nome de “Família”. A família como embrião da humanidade, nos moldes instituídos por Iavé Adonai, é a primeira “Lei Natural”, é o ponto de partida para a “Ordem Natural das Coisas”.
O ataque à família é o ataque à verdade. E o ataque à verdade é o ataque à “Lei Natural”, que por sua vez é o ataque à própria civilização. Por isso C S Lewis afirma que a “Lei Natural” é “a única fonte possível de todos os juízos de valor”, porque ela, em si, é a representação de uma única realidade possível. Ao rejeitarmos um único valor, ele conclui, os demais serão rejeitados da mesma forma.
Então o que tínhamos no Éden, a priori? Dois elementos, um espiritual e um material. O primeiro se concentrava no relacionamento de Adão – e em seguida Eva – com Deus, esse o primeiro relacionamento que o homem teve desde que foi criado. E o segundo falava do relacionamento de Adão com a sua esposa. Na “Ordem Natural das Coisas” temos esses dois relacionamentos como base de uma sociedade que se pretende subsistir em si mesma.
Fé e família são, portanto, as bases essenciais daquilo que quer seguir adiante, daquilo que quer se conservar. Foi o que Deus planejou para o mundo, e que preservou em toda a sua Lei (agora a escrita, e não a natural) que entregou diretamente aos Hebreus e posteriormente a toda a humanidade até se revelar na pessoa de seu Filho Unigênito e completá-la.
O que o progressismo quer é criar um reflexo invertido de tudo isso em um espelho quebrado que está nas mãos de Satanás, e vender essa imagem deturpada da criação como sendo o melhor dos mundos, usando, para isso, as ervas daninhas plantadas na mente da humanidade por fábulas antropocêntricas desenvolvidas por homens desde a queda, sempre nos mesmos moldes do diálogo entre Eva e a serpente, divaga-se, interroga-se, brinca-se com sofismas e falácias, e ao final convence-se, num estelionato antropológico e intelectual que vem se arrastando há milênios, afastando os homens da verdade, da “Lei Natural”, da “Ordem Natural das Coisas”, e sempre lançando-os, de tempos em tempos, em turbilhões insanos de revoluções selvagens urdidas na obscuridade das sombras, onde as mentiras são maquiadas e adornadas para parecerem verdades, benefícios e vantagens para os que nelas acreditarem.
O progressismo precisa, a todo instante, criar mundos virtuais, caricaturas da verdade, para que possa lançar suas sementes de destruição e caos. Sem mentira não há progressismo e vice-versa. A única forma de combater a desconstrução de uma sociedade sadia é evitar que os que estão no poder ou detém os meios de comunicação manipulem a verdade/realidade ao seu bel prazer, e isso deve ser feito sempre sob duas bandeiras, as originais: fé e família.
A Verdade diz que “O que justifica o ímpio e o que condena o justo são abomináveis ao Senhor, tanto um como o outro” (Provérbios 17:15). Para que o progressismo possa existir, é necessário que essa afirmação de Salomão seja aniquilada, ou seja, que a verdade seja aniquilada ou, pelo menos, invertida. Por que isso acontece? Porque em um mundo progressista todas as leis instituídas pelo Criador desde o Éden devem ser subvertidas em prol de valores que inevitavelmente contrariam qualquer esfera de valor que se queira aceitar como legítima, seja ela a Palavra de Deus, a “Lei Natural”, a “Verdade Espiritual”, o “Tao” ou “A Ordem Natural das Coisas”.
O que o progressismo busca é uma espécie de autodestruição social, o rompimento com todos os parâmetros divinos, o que levaria a humanidade, caso ele – o progressismo – vencesse, à completa extinção. É quase impossível não admitir um componente sobrenatural nisso tudo, aquele, constante do primeiro juízo de valor do Criador. Ou será que quando lemos que Ele viu a luz como boa e as separou das trevas, não percebemos que Ele está falando de coisas ainda mais profundas? Parece óbvio. O Criador do universo é a real expressão daquilo que Ele quer de nós. Quando em Malaquias 3:6 Ele diz: “Eu, o Senhor, não mudo”, Ele está querendo dizer “Não tentem me mudar” ou “Não tentem mudar as minhas Palavras”, porque será pior para vocês. E então Ele nos mostra a “Ordem Natural das Coisas”: a própria criação. Lagartas não se tornam borboletas antes de passar pelo casulo. É isso, ou nunca veríamos borboletas.
Os progressistas querem destruir a família, mas não conseguem explicar como seria possível um mundo em cinquenta anos caso não existissem mais famílias, as feministas tomassem conta da sociedade e não parissem mais e os homens deixassem de se comportar como homens. O que diabos restaria? Logo,
vemos que por trás do progressismo existe uma influência maligna induzindo a sociedade – tal qual Eva – a desafiar a “Ordem Natural das Coisas”, e com isso comprometer a própria existência.
Fé e família.
As maiores pedras no sapato salto alto daqueles que não suportam a realidade como forma de vida.