A busca pela solução dos problemas é natural para o ser humano, sejam os obstáculos de menores ou maiores proporções, ora pelo grau de dificuldade, ora pelo número de pessoas ao qual alcança. Não se há como negar que a vida, bem como, a história da humanidade, é uma corrida cheia de obstáculos, os quais têm como principal fator o fortalecimento daqueles que os superam.
Evoluir como indivíduos ou como sociedade é, necessariamente, o amadurecimento, portanto, aprende-se a cada etapa, fazendo com que obstáculos tornem-se degraus e a história seiva como fonte para que não se cometa os mesmos erros. Edificar uma sociedade alicerceada no passado é construir em solo resistente.
“O conceito de evolução deriva do termo latim evolutio e faz referência à ação e ao efeito de evoluir (desenvolver-se, passando de um estado para outro). A evolução corresponde, portanto, ao desenvolvimento das coisas ou dos organismos, através do qual passam gradualmente de um estado para outro”.
A importância da evolução é inegável, sendo está a solução dos problemas, pois, dada a solidez de sua base e a gradual mudança, é facultado, tanto ao individuo quanto à sociedade, estabilizar um fluxo que corra para fora daquilo que é benéfico. Em outros termos, ao perceber que o veículo começa a sair da faixa, o condutor pode facilmente trazê-lo novamente ao traçado desejado, sem que ocorra uma ruptura capaz de fazer com que o mesmo perca o controle e cause um grande estrago, quiçá, destruindo-se.
O problema reside, justamente, na opção por uma resposta imediata, superando as adversidades através de uma manobra brusca, tentando perquirir um atalho que acaba por ser a ruína dos afoitos e a brecha tal almejada por um tirano, o qual aproveitará a oportunidade ímpar para usurpar o comando daqueles que assumem como verdade a resposta mágica, associando-se aos que anseiam o poder e ludibriando os que se deixaram levar pela falsa promessa de uma abrupta solução milagrosa.
Como a evolução depende de sua base, ela não permite o total desprendimento dos valores basilares do individuo e, por conseguinte, das fundações de uma sociedade, posto que, cada membro de um grupo é parte essencial da existência do todo, logo, os não existirá uma sociedade sã se seus integrantes forem despidos de valores morais. Esperar que a imposição de um códex por parte de uma
elite poderosa estabelecerá uma moral coletiva, curvando cada um dos homens, é permitir que a tirania reine no lugar da consciência, fazendo com que, cada membro de uma sociedade espie na figura do líder uma espécie de divindade que deve suplantar todos os males, fazendo de cada indivíduo um ser irresponsável, dependente e escravo, ao passo que se vê como incapaz de conduzir sua própria vida.
“Evolução indica a ação ou efeito de evoluir. Uma evolução remete para o aperfeiçoamento, crescimento ou desenvolvimento de uma ideia, sistema, costume ou indivíduo”.
Neste diapasão, fica claro que a natureza sempre evoluirá, contudo, não há predisposição a manobras bruscas, impedindo assim que tanto um herói quanto um tirano possa alçar o poder de forma repentina. A solidez evita que ideias sem correlação com a verdade sejam impostas aos indivíduos.
Para satisfazer a busca desesperada por uma cura milagrosa de todos os males, surge o pensamento revolucionário, este sim, ávido por mudanças bruscas e dissociadas da realidade, uma vez que, a mente revolucionária acredita que tudo pode ser mudado pela vontade do agente, que toda a realidade é relativa e que o acaso é o senhor da criação, não havendo força maior que moldara o universo, sendo toda sua complexidade um mero resultado de fatos coincidentemente ordenados, uma reação em cadeia de ações subsequentes que acabam por criar uma linha de forma aleatória.
A revolução é um processo de entropia, pois, acredita ter a uma resposta inovadora que é capaz de solucionar quaisquer óbices ignorando as fundações por trás dos fatos, abandonando em um rompante insano toda a estrutura e procurando no fim a forma de recriar algo cuja natureza tem um causa. O revolucionário tentará conter o fluo de um rio sem considerar que a nascente continuará ativa, acreditando que sua represa poderá contê-lo, simplesmente por ter um selo que ateste a qualidade da obra, ainda que, tal atestado seja uma produção meramente cartorária, em suma, pensa o artífice da revolução que uma norma é capaz de resistir aos fatos, mesmo quando esta é editada em inobservância dos fatos.
A revolução, por sua vez, prega a ruptura como a chave para uma sociedade ou indivíduo melhor, focando mais na sociedade, os ideais revolucionários assumem que é possível criar uma realidade, com base na mente dos intitulados iluminados, que reger-se-á em total sincronia, haja vista, que estes indivíduos acreditam ter o destino de mudar os rumos para aquilo que consideram o bem da humanidade. Estes falsos visionários, enlouquecidos pela arrogância e famintos por poder, fazem de sua ilusão algo tão forte e terrivelmente aprisionador que acaba por derramar o sangue daqueles que os alimentaram por sonhar com um mundo melhor.
Importante começar pela Revolução Francesa, a qual podemos considerar como a primeira carnificina feita em nome da ruptura que levaria a um mundo criado pelos iluminados, prometendo a perfeição, o dramático episódio degringolou para uma derrama sangrenta em busca de uma utopia.
Não cabe uma análise mais aprofundada sobre a Revolução Francesa, não se resume à citada ruptura, mas todas elas. Para compreender o motivo de muitas das revoluções produzirem danos o suficiente para ofuscar quaisquer benesses por ventura alcançadas.
Importante é reconhecer que, no afã de erguer sua obra, os revolucionários constroem suas cidades sobre o terreno instável das narrativas, tentando apagar a história por ignorar que fatos são irremediáveis. Por isso, fazem promessas vazia e iludem suas principais vítimas, não sendo estas, aqueles que a empreitada extermina, mas, os que creem na ruptura e acabam por aprisionarem-se de forma inconsciente, dando poderes aos mestres da revolução por elevarem seus líderes ao status de salvadores iluminados, deixando-se guiar cegamente por esses seres que alegam ter uma visão que levará a humanidade ao utópico paraíso na terra.
As sucessoras da malfadada revolução tornaram a nada saudosa União Soviética um centro que espalhou seu mal pelo mundo, sendo que todas elas apresentavam falsas premissas que seus líderes sabiam que não eram possíveis serem alcançadas. A mentira é a essência dos líderes revolucionários em por isso, tal visão de mundo não é compatível com a fé cristã, tendo em mente que duvidam de uma força maior que move o universo e pensam que podem ressignificar os fatos através da mentira, como sabemos que é o pai de tal artifício, não há como negar a natureza maligna da revolução.
Voltando a França, aproveitando que ainda não se tornou uma nação islâmica ou um cenário pós-apocalíptico, o movimento que derrubou a monarquia daquele país prometeu ao povo que teria como mote três valores, quais sejam, a liberdade, a igualdade e a fraternidade, mas todos, sem exceção tornaram-se mentiras quando alçados ao poder. Estas promessas foram deturpadas pela impossibilidade da revolução alcançar seus objetivos ou, em uma visão mais cética, por serem tão somente iscas usadas por aqueles que conduziram o processo para convencer as pessoas, sabendo que nenhuma das três lhes seriam dadas.
Liberdade para concordar
A primeira mentira dos autointitulados progressistas, que já estava presente nas narrativas dos revolucionários, pressupõe que a queda do monarca traria a liberdade, uma vez que, o detentor da coroa seria o único que gozava de tal direito na sociedade que pretendia-se derrubar. De fato, no sistema absolutista, somente aquele que ocupava o trono poderia exercer a liberdade, posto que, qualquer um que lhe desagradasse ver-se-ia privado da condição de homem livre.
O oportunismo surge justamente quando se espia uma brecha, permitindo que déspotas apontem para o cisco daquele que pretendem depor, ocultando a viga que lhes cobrem os olhos. Como uma receita quase infalível, os revolucionários acham uma vicissitude, quando não a criam, e apresentam-se como senhores de uma solução infalível, que na verdade é uma inatingível promessa, angariando o apoio dos que sofrem os efeitos daquilo que fazem falsas juras de combater.
A ausência de liberdade do regime absolutista é rapidamente substituída por uma paranoia que leva qualquer um que se oponha, ou mesmo questione, os iluminados que ocupam o poder aos corredores de prisões e guilhotinas, Maximilien Robespierre, que se apresentava como um bom intencionado advogado defensor dos pobres, logo que assumira o poder, não se furtou dar cabo aos seus opositores, instaurando uma era de execuções que teve fim somente após o encontro do déspota com a guilhotina em 28 de julho de 1794.
A ideia do Culto do Ser Supremo pretendia estabelecer a crença na deusa da razão, substituindo o catolicismo na França, corroborando a afirmação de que a revolução buscará apagar o passado removendo tudo aquilo que considera um obstáculo. Em uma hipótese na qual o líder revolucionário tivesse implantado com sucesso tal crença, teríamos uma imposição, buscando um alegado “bem maior”, da nova religião aos franceses, resultando na consequente proibição da liberdade religiosa, uma vez que, a visão iluminada do mundo deve ser seguida sem questionamento.
Noutro momento, pode-se constatar a União Soviética que, sem o menor pudor, encaminhava aos campos do sistema de Gulag, que substituíra o Kartoga do império, aqueles que ousavam discordar do sistema socialista. Provavelmente, muitos daqueles que apoiaram os bolcheviques na derrubada do Czar, sonhavam com um país livre dos Kartoga, mas foram surpreendidos com a crescente expansão de seu herdeiro soviético.
Regimes revolucionários ainda mantém prisões políticas e cerceamento de liberdades ao redor do mundo, embora alguns países ditos livres permitem prisões de opositores, com base em argumentos como defesa da democracia, por vezes, criminalizando críticas incomodas ou calando até mesmo legitimo representante do povo.
A mentalidade revolucionária é necessariamente relativista, ou seja, tem a tendência a retorcer a realidade para adequá-la à sua visão de mundo, entretanto, como tal feito é impossível, o revolucionário acaba por enlouquecer e assumir uma postura dialética, avançando para uma dissonância cognitiva que termina em uma prisão mental psicótica, na qual, suas ações servem a um imaginário bem maior e, portanto, justificam qualquer que seja o desvio praticado. Não por acaso é comum observar falar contraditórias emitidas pelo mesmo indivíduo em um período curto de tempo e sem uma manifesta conversão a outra corrente, cuja finalidade é adaptar seu discurso ao interesse momentâneo.
Defender a liberdade e ao mesmo tempo submetê-la ao crivo de usa de narrativas para chegar aos seus objetivos, nada mais é que entregar ao grupo que exerce poder sobre outros, de certa foram, os revolucionários transferiram para si a liberdade que só o monarca absolutista possuía, deixando de cumprir a promessa que esta estaria ao alcance de todos.
Todos os animais são iguais, mais alguns são mais iguais que os outros.
A frase cunhada por George Orweel em sua obra A Revolução dos Bichos (Animal Farm) traduz a segunda mentira da Revolução Francesa, pois deixa evidente que a igualdade que seduzira o povo, não foi alcançada, pois, na verdade, nunca foi o objetivo.
Os regimes que antecederam as revoluções na França e na Rússia não tinham como base a igualdade, sendo aos nobres dado tratamento diverso da plebe, impedindo assim que um plebeu pudesse emergir ao topo de uma sociedade por mais méritos que tivesse. Tal fator, assim com a liberdade, era passivo de exploração pelos revolucionários que prometiam através da república que todos seriam iguais, fazendo com que, aos que não tinham chances de ascender, fosse lhes dada a possibilidade de alcançar quaisquer patamar na estrutura social.
O que mais uma vez foi escondido entre as mentiras, foi que os mais elevados postos estavam reservados aos que conduziriam o processo entrópico revolucionário, usando a massa somente para transferir os privilégios da nobreza aos líderes da revolução.
Não se trata de confrontar os regimes republicano e monárquico, pois ambos, se temperados com ideais de autoproclamados progressistas estarão no caminho das trevas, bem como, se calcados na evolução, poderão ser realmente prósperos. Quando o nascedouro é a mudança abrupta e dissociada da realidade, naturalmente o caos reinará.
A prometida igualdade não acontecerá, justamente, por conta dos que a prometem, pois eles sempre serão mais iguais que os outros, terão liberdade de expressão, o direito a um processo justo, ou melhor, um processo benéfico, enquanto aos outros, podem condenações sumárias, investigações obscuras e cerceamento da liberdade, mesmo no que concerne a fé ou a expressão.
Fala-se em respeito ao passo que juram agressões, tendo em vista que, são irmão na busca pela ideologia totalitária, sempre prometeram igualdade enquanto buscavam uma implantar a ditadura. A lite revolucionária luta para herdar tudo aquilo que invejava dos nobres, usando os insatisfeitos para tocar sua orquestra fúnebre.
O sangue nobre da elite revolucionária.
Como não são, e não pretendem ser iguais, os líderes da revolução consideram-se iluminados e podem se julgar uma elite, colocando-se, em seus discursos, como seres superiores, inatingíveis pelas leis e livres para odiar sem quaisquer consequências. Declamar como um animal raivoso o ódio pela classe média ou afirmar que cidadãos flartam com o fascismo ou o crime organizado, mesmo demonstrando preocupação ímpar com narcoguerrilheiros é permitido aos progressistas, mas questionar uma ordem arbitrária ou aproximações anormais entre determinados atores políticos é, quando praticado por opositores, é considerado mais grave que um crime hediondo.
Eis a terceira mentira contida no mote da Revolução Francesa, a fraternidade, que deveria ser alcançada, na mente revolucionária, pela imposição estatal, o que sabemos ser impossível. Ter alguém como um irmão é algo que deve florescer no homem, ninguém jamais conseguirá compelir outrem a amar, portanto, o amor fraterno não poderá ser resultado de uma construção artificial.
Irmão naturais desenvolvem a fraternidade não apenas por seu código genético, mas pelo convívio, assim como irmãos em Cristo aprendem a amar o próximo por enxergarem nos outros a criação de Deus, e, por isso, percebem-se como criaturas do mesmo criador, espiando no outro a centelha divina. O amor fraterno é decorrente do apego e não há como fazê-lo de forma artificial ou será frágil como uma peça substituível.
Por outro lado, existe sim uma fraternidade no meio da revolução, a qual inclui tão somente os seus senhores, uma vez que, se unem para impor aos outros um flagelo que não suportam e defendem seus camaradas com afinco, ao menos enquanto for útil aos seus anseios. Tratando-se de víboras, essas criaturas não deixarão de envenenar seus pares quando os considerar inservíveis, não é uma fraternidade real, movida pelo apego ao indivíduo, é uma relação de interesse mútuo que se resume ao avanço da revolução, podendo se deteriorar quando um dos “irmão” deixa de ver presteza no seu par, ou, percebe-o como ameaçador, como o destino que Stalin dera a Trotsky.
Ainda que sejam irmão, déspotas sempre serão déspotas e farão o mal mesmo que suas vítimas estejam mais próximas do que se pode imaginar. Não atoa, é comum casos de ditadores que exterminam seus parentes para que não sejam por eles ameaçados.
Você não terá nada, mas será feliz.
Se o mote da Revolução Francesa parecia possível e se resumia a mentiras bem contadas, na nova narrativa é ainda mais intrigante, haja vista que, não parece ter a preocupação de trazer algo verossímil, afirmando apenas que o indivíduo será despojado de suas posses em troca de uma felicidade.
Sim, parece o anúncio de um entorpecente da pior espécie, temo que de fato seja. Imaginando que um indivíduos em uma condição avançada de dependência química, que já dilapidou seu patrimônio para alimentar sua adicção, vivendo em uma “cracolândia”, cuja mente acredita viver em constante estado de euforia, quando, na verdade, está reduzido ao estado subumano de um zumbi da vida real.
Mais uma vez a revolução promete algo que todos almejam, a felicidade, mas deve se questionar o como se é feliz e se tal felicidade será alcançada por todos ou somente pela elite que segura as rédeas da mudança.
Analisando a forma com a qual os atores do poder no cenário mundial se comportam, totalmente alheios aos anseios dos menos poderosos, calando, prendendo e até espancando que se insurge contra seus desmandos, é de se esperar que a tal felicidade seja um conceito imposto por tais figuras, na qual será redigido a forma de ser feliz e o indivíduo a seguirá sendo assim atendida a premissa prometido.
Caso alguém não atinja a felicidade ora proposta, bastará afirmar que o mesmo não está seguindo aquilo que lhe foi orientado e que sua atitude é negar algo que todos devem ter, o dever aqui é decorrente da imposição, da maneira que somente um negacionista deixará de cumprir a regra, ou fórmula, da felicidade, sendo que a ciência estabelecera o que é ser feliz.
Para líderes déspotas não há como ir contra algo tão importante, sendo crime contra a humanidade, em verdade contra a revolução, mas é imperioso lembrar que a fraternidade do mal se considera a humanidade e a democracia, por tal razão, atos “antifelicidade” não serão tolerados, mas será para o seu bem, afinal, quem não quer ser feliz. A revolução sempre resultará no caos, mas seus agentes não o fazem por incúria, atuam como o devido dolo para que seu poder se perpetue e sua tirania seja aceita como a única salvação.
A revolução é um veneno que, assim como o arsênio, mata aos pouco sem que a vítima o perceba.