O que você pode aprender com o novo filme da Barbie?
Os filmes frequentemente têm a capacidade de refletir e abordar questões políticas e sociais, explorando até mesmo a hipocrisia em diferentes perspectivas. Alguns filmes podem escolher focar na inconsistência entre discursos e ações. Essa abordagem pode ser usada para analisar como figuras ou grupos promovem certos valores, mas podem, por vezes, ser acusados de não seguir esses princípios em suas próprias vidas ou decisões políticas.
“O novo filme da Barbie é o assunto do momento! Afinal, trata-se de uma boneca icônica que marcou a infância de várias gerações de meninas. Podemos pensar que um filme baseado nessa personagem seria voltado para o público infantil e familiar, destacando a feminilidade. No entanto, essa suposição está errada”, afirma a deputada estadual Alê Portela (PL-MG).
Vejamos a motivação para a fala da deputada…
A narrativa se desenrola na “Barbielândia”, um mundo mágico onde todas as diferentes versões da boneca Barbie vivem em perfeita harmonia. No entanto, uma delas começa a questionar se sua vida é realmente tão perfeita como aparenta. A personagem da Barbie, interpretada por Margot Robbie, acaba adentrando o mundo real e desvendando algumas verdades sobre a sua própria realidade.
“Barbie” é um filme que veio para criar discussões, embalado por um humor peculiar, trazendo consigo uma crítica à sociedade patriarcal enraizada no consumismo, através de uma narrativa surreal e inovadora. Sob a direção de Greta Gerwig e com colaboração na escrita de Noah Baumbach, o filme nos introduz a um universo distinto, a “Barbielândia”, onde normas peculiares ditam a realidade.
A história acompanha a protagonista Barbie “estereotipada”; ou seja, a Barbie “comum” que visualizamos ao pensar na boneca. Ela vive em um mundo perfeito, cercada por amigas perfeitas, mas começa a questionar a incongruência do mundo à sua volta. Em uma jornada de autoconhecimento, ela busca compreender o seu lugar e papel em um mundo concebido para ser um exemplo e gerar lucro.
Dessa forma, o filme se fundamenta no contraste entre dois universos: o mundo real, com todas as suas imperfeições – com uma ênfase especial no machismo – e o universo da Barbie, onde as mulheres estão no centro: as amigas, a suprema corte, a presidente. Quanto ao Ken, bem… ninguém sequer pensou onde eles dormem.
Na Barbielândia, os homens desempenham papéis secundários, são acessórios, frequentemente esquecidos, vivendo em função das vontades da Barbie. Sentindo-se diminuído, Ken entra em competição com os outros homens. Quando ele é confrontado com o mundo real e a inversão de poder, ele lida com seus ressentimentos propagando o patriarcado entre seus pares. O universo da Barbie permanece para sempre contaminado com homens que tentam recuperar um sonho de poder e controle que nunca foi deles. E aqui, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
É evidente que o filme procura retratar como o mundo real é dominado pelos homens, enquanto as mulheres enfrentam dificuldades nesse cenário. Isso reforça a narrativa de que as mulheres frequentemente enfrentam desigualdades na sociedade, desafiando a visão tradicional de “bela, recatada e do lar”. Na verdade, o filme mostra que se um dia o mundo fosse dominado por mulheres os homens seriam menos coadjuvantes. Em outras palavras, o filme trata os homens da mesma forma que critica. E apesar, da insinuação de que a luta não é a busca pela superioridade da mulher, na prática a abordagem do filme conta bem diferente.
Apesar da insinuação de que a luta não é por superioridade feminina, a abordagem prática do filme conta uma história diferente. A narrativa continua ao criticar os padrões inatingíveis de beleza associados à boneca Barbie. Isso é feito através do uso de metalinguagem e diálogos irônicos, que constituem uma forma de expressão social e política, cutucando assuntos considerados misóginos, homofóbicos, conservadores, bem como aqueles que os progressistas têm buscado destacar nos últimos anos.
Em suma, o filme aborda várias questões em busca da lacração, mas apresenta inúmeras contradições:
Hipocrisia da Diversidade e Inclusão
No tocante à mensagem do filme sobre diversidade e inclusão, embora tenha sido apresentado como uma busca pela igualdade e respeito pelas diferenças, fica a dúvida se os fabricantes estão realmente empenhados em combater essas desigualdades ou se é apenas um discurso vazio e hipócrita de “politicamente correto”. Além disso, a estratégia de marketing do filme levanta questões sobre se a marca está de fato preocupada com a diversidade em sua equipe e com a sustentabilidade de suas embalagens de produtos. É fácil falar, mas é difícil agir conforme o que se prega.
Contraponto cristão:
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu vos digo, porém: Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” (Mt 5, 43-44)
Moral: a mensagem de Jesus é a verdadeira mensagem de acolhimento e inclusão social, lembremos que todos seus discípulos eram pecadores. Não precisamos ser politicamente corretos, mas cristãos verdadeiros.
Capitalismo e Lucratividade
Em relação à questão do capitalismo e da lucratividade, apesar do filme abraçar valores de esquerda, não se pode negar que a estratégia de pré-lançamento do filme “Barbie” foi usada para impulsionar produtos e valorizar as ações da empresa em um momento de queda. Isso levanta a dúvida sobre se o foco nas mensagens políticas é genuíno ou se está sendo usado como uma ferramenta para revitalizar a marca e aumentar as vendas.
No final das contas, embora Hollywood frequentemente critique o capitalismo, é inevitável reconhecer que a estratégia do filme também visa a lucratividade. Isso destaca uma contradição entre os valores da esquerda e a busca por lucro em detrimento de princípios ideológicos. É o que se costuma chamar de “faça o que eu digo, não o que eu faço”.
Contraponto cristão:
“João respondia: ‘Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo’.” (Lc 3,11)
Moral: É fácil pregar igualdade e partilha para os outros, difícil é estender a mão a quem precisa fora de sua própria mansão.
Posicionamento Político e Estratégias de Marketing
A chegada do filme “Barbie” aos cinemas foi acompanhada por uma estratégia de marketing intensiva, que envolveu desde a disponibilização da “Casa dos Sonhos da Barbie” no Airbnb até a realização de ações promocionais em várias plataformas de mídia, além de uma campanha de visibilidade. Essas medidas podem ser interpretadas como uma tentativa de aproveitar o interesse público em torno do filme, enquanto também enfatizam os seus elementos políticos. Essa abordagem suscita dúvidas acerca da autenticidade das mensagens políticas e da sua integração à trama, ou se servem apenas como instrumentos de promoção.
Contraponto cristão:
Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, brigariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. (Jo 18, 36)
Moral: Enquanto, alguns buscam a autopromoção, o verdadeiro cristão não engana, não ilude seus semelhantes… ele busca levar as coisas de Deus ao seu próximo. Não adianta tentar se salvar neste mundo e perder a alma no Reino de Deus.
Portanto, não devemos nos surpreender se temas políticos de esquerda, como identidade de gênero e feminismo, aparecerem nos filmes. Vivemos em uma época que não é mais comparável aos anos 50, é fundamental reconhecer que não podemos isolar nossos filhos em “bolhas”. Em vez disso, devemos fortalecer nossas convicções religiosas e ensinar o respeito pelas diferenças, ao mesmo tempo não podemos permitir que nossos filhos sejam desrespeitados devido seus valores cristãos. É crucial também instruir nossos filhos a serem autênticos e a não se deixarem influenciar cegamente pelas opiniões alheias. A analogia do homem prudente que constrói sua casa sobre a rocha, em contraste com o imprudente que a edifica sobre a areia, serve como um lembrete da importância de construir nossos valores em bases sólidas.
“Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.” (Mt 7, 24-27)
Artigo da Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 33
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