O que a Matrix queria nos dizer

O que a Matrix queria nos dizer

Em 1999 o cinema, em especial os filmes de ficção, viram uma pequena revolução nas telas chamada “Matrix”. Uma revolução que se dava não só do ponto de vista técnico, cujo apuro e a criatividade saltava aos olhos, mas também estética. Poucos filmes na história do cinema trabalharam com tanta competência as entranhas do arcabouço espiritualista do Ocidente, explorando suas nuances esotéricas e seus elementos místicos, cuidadosamente costurados em um roteiro distópico e, por consequência, visionário e profético ao mesmo tempo, alertando sobe os perigos de uma Inteligência Artificial. “Matrix” faz parte de uma trilogia sombria que começa em “2001: Uma Odisseia no Espaço”(1968), e tem seu intervalo em “O Exterminador do Futuro”(1984). Há um pouco de Stanley Kubrick e James Cameron no filme dos irmãos Washowski, Andrew e Laurence, artistas trans que passaram a se chamar Lilly e Lana, respectivamente. Afeitos a distopias, é deles o roteiro e a produção do cult “V de Vingança”(2006), um personagem dos quadrinhos criado por Alan Moore, mas que é transportado para as telas com um perfil claramente inspirado em Neo, personagem icônico de “Matrix”, vivido por Keanu Reeves. E, como toda distopia que se preze, essa pequena obra-prima da ficção científica trabalha com uma sofisticação, poucas vezes vista no cinema os temas que foram alinhavados por mentes como Orwell, Huxley e Wells, entre outros, dentre os quais podemos destacar:

A narrativa dos sentidos: quando a realidade é a vilã.

Em uma das cenas mais sufocantes de “Matrix”, o jovem hacker Thomas Anderson, ao ser interrogado pelo agente Smith, se vê preso a uma situação distópica sobre a qual não tem nenhum tipo de controle ou relevância. Não importa o que pensa, quais são os seus direitos ou ainda se há provas que sustentem a acusação que lhe é feita pelo agente. Ali só lhe cabe escolher entre “nós” ou “eles” e, neste caso, o escolher “eles” seria não só uma confissão de culpa como uma atitude hostil.

Em dado momento, ao tentar exercer seu direito de liberdade de expressão, vê-se com a boca devidamente lacrada, como em um pesadelo, o que de fato lhe parece ao acordar de repente em sua cama um tempo depois. Thomas, já dando os passos iniciais para se tornar Neo, o “novo homem” liberto daquela distopia virtual, ainda não era capaz de entender que quem havia fechado sua boca era o dono na narrativa ilusória que era vendida para o mundo como sendo realidade. Um mundo construído e projetado para servir à vontade daqueles que o criaram, e que, por se sustentar em conceitos e devaneios insanos gerados na mente de perturbados mentais e espirituais, não aceitava a presença de “corpos estranhos” que questionassem elementos que só subsistem em ambientes reais, como a verdade e a liberdade.

Jesus, o Messias, ao dizer “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, João 8:32, poucos perceberam a profundidade da declaração. Toda e qualquer negação da verdade caminha para o cerceamento da liberdade. E inicia uma jornada rumo à barbárie, que pode ser de tal maneira multiforme, que se pulveriza sobre todos os setores da sociedade com a sutileza de enxames de gafanhotos sobre as plantações. Pelo bem dos gafanhotos não deveríamos matá-los, afinal estão se alimentando. Não importa se o seu banquete vai causar a fome e o prejuízo a milhares de pessoas que dependiam da colheita, não é mesmo?

Ao tapar a boca do angustiado Anderson/Neo, a Matrix, o sistema, o mecanismo, a Spectre, chame do que quiser, mostrou o risco que é desafiar um sistema totalitário e qual é sempre o seu primeiro alvo: sua liberdade de expressão. Não é o que fazem todos os sistemas totalitários assim que são implementados em sua inteireza? Controle de mídia, de internet, de telecomunicações, de telefonia… e ai de quem se indispor com as ilusões e mentiras que eles produzem diariamente, na ânsia de manter o status quo de seu Olimpo virtual imaginário. Logo eles não só te dirão o que você não pode dizer, mas o que deve. Farão você olhar para um cavalo e te dizer que é uma vaca. Te farão pensar que é normal mentir, deturpar, iludir, manipular e elucubrar, de tal maneira que, assim como personagem Cypher, você achará que é melhor, mais confortável e seguro viver em um mundo de faz de conta, mesmo sabendo que ele é uma mentira que se alimenta da liberdade alheia. É a narrativa dos sentidos. O mal transformado em lei. A inversão das leis e tradições naturais e humanas, responsáveis pela nossa sobrevivência até aqui.

Hanna Arendt diz que “O terror, como execução da lei de um movimento cujo fim ulterior não é o bem-estar dos homens nem o interesse de um homem, mas a fabricação da humanidade, elimina os indivíduos pelo bem da espécie, sacrifica as ‘partes’ em benefício do ‘todo’.”. Lembra dos gafanhotos?

O que o sistema quer é calar a humanidade ‘real’ para assim dar voz a uma “humanidade” gerada por ele próprio. Ele não aceita o que é verdadeiro, o que é racional, o que é factível, o que é justo, o que é honesto, o que é certo. Ele te acusa de infringir as “regras da comunidade”, mas esquece de dizer de qual comunidade está falando e quem criou as regras. Não precisa, nós sabemos quem fez e faz tudo isso. E são exatamente por esses motivos que tudo isso uma hora irá pelos ares, como bem advertiu Schopenhauer: “Que o mundo possui apenas uma significação física, e nenhuma moral, constitui o maior, o mais condenável, e o mais fundamental erro, a própria perversidade da mentalidade, e provavelmente forma no fundo aquilo que a fé personificou como o anticristo.”.

A desconstrução espiritual como vetor de ignorância.

“Você precisa entender, a maioria destas pessoas não está preparada. E muitas delas estão inertes, tão desesperadamente dependentes do sistema, que irão lutar para protegê-lo” (Morpheu). Desesperadamente dependentes.

Não é fácil determinar com precisão a essência dessa dependência. Alguns sequer precisariam dela, mas lutam para mantê-la, o que leva a crer que ela transcende o mundo material. Síndromes e complexos poderiam explicá-la. Alguma disfunção moral ou psicológica. Mas não posso dissociar o evento de questões espirituais. Não há como.

O apreço das sociedades por tipinhos burlescos como Biden e Boulos ultrapassa os ditames da psicologia e da psiquiatria. Obviamente isso não pode ser normal, embora, pasmem, seja natural. Natural dentro daquilo que as Escrituras dizem ser natural.

Frases como “O mundo inteiro jaz no maligno” (I João 5:19) e “A imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gênesis 8:21), são algumas que expõe o que Yeshua chamou de “mundo”, a TV chamou de “mecanismo”, os teóricos chamaram de “establishment” e o cinema chamou de “Matrix”.

Tal organização teoricamente é imbatível. Em Lucas 16:8 Yeshua diz que “Os filhos das trevas são mais astutos (prudentes) que os filhos da luz”, conforme já avisava o profeta, “Mais numerosos são os filhos da abandonada do que os filhos daquela que tem marido” (Isaías 54:1).

E é por isso que esse mundo precisa chegar ao seu acaso, e todos devem ser postos diante do trono do juízo do Eterno, porque o sistema foi e é feito para gente exatamente como nós, que o amamos e, mesmo sem muitas vezes precisarmos dele ou nos beneficiarmos com ele, o protegemos, porque ele representa aquilo que carregamos em nós desde o nascimento: o pecado e a corrupção.

É o que vai separar bodes de ovelhas quando soar a última trombeta. E ela está cada vez mais perto. Mais do que muitos imaginam. E quanto mais os cada vez mais raros pregadores anunciarem tudo isso, menos gente eles terão para ouvi-los, porque a verdade incomoda. E é por isso que o sistema sempre mente. Porque ele sabe que gostamos disso. Yeshua virá.

A fragmentação das tradições judaico-cristãs.

O que muitos às vezes deixam passar despercebido é a grande mensagem que está por trás da resistência à Matrix.

Ela só foi possível por conta de um detalhe: a FÉ de Morpheus em uma PROFECIA.

Esse é o recado. A senha. A chave.

Em um mundo dominado por sistemas, tecnologia, máquinas, inteligências artificiais e programas de computação, um homem com inabaláveis convicções espirituais precisou ir até o fim em suas crenças para poder despertar os que estavam à sua volta.

Morpheus era a único que conseguia ver além do óbvio, do aparente, do palpável, do material. Era visto até mesmo pelos seus como um “teórico da conspiração”. Mas o problema desses caras é que quase sempre sua fé é mais consistente do que os frágeis argumentos que o sistema usa para controlar seus escravos.

Não existe outra forma de encarar o sistema.

E ele – o sistema – sabe disso.

E como tem sido eficiente em denegrir, distorcer e perseguir a fé, porque ele sabe quem é a sua principal inimiga.

“Buscai ao Senhor enquanto se pode achar; invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55:6).

Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 37 – ISSN 2764-3867

Leia também: O ANTISSEMITISMO

Sobre o autor

Neto Curvina

Ministro do Evangelho, teólogo, escritor e educador. Autor de “A Velha Desordem Mundial: a teologia do caos”.

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BIOGRAFIA

Leandro Costa

Servidor público, advogado impedido, professor de Direito, Diretor Acadêmico do projeto Direito nas Escolas e editor-chefe da Revista Conhecimento & Cidadania.

Defensor de uma sociedade rica em valores, acredito que o Brasil despertou e luta para sair da lama vermelha que tentou nos engolir. Sob às bênçãos de Deus defenderemos nossa pátria, família e liberdade, tendo como arma a verdade.

É preciso fazer a nossa parte como cidadãos, lutar incessantemente por nosso povo e deixar um legado para as futuras gerações. A política deve ser um meio do cidadão conduzir a nação, jamais uma forma de submissão a tiranos.

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