Seja a tua palavra sim, sim; não, não

Seja a tua palavra sim, sim; não, não

Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno.” (Mateus 5:37).

Vivemos hoje a era do “cancelamento”: se discordamos de opinião A ou B, recebemos todos os adjetivos possíveis. Contudo, a maioria tem medo desta “cultura”, pois não quer perder a fama, a posição, o status. E para isso, acaba por prostituir seus valores.

O apóstolo Pedro se viu em uma situação de perigo extremo: preso, submetido a julgamento, estava prestes a ser morto por pregar o Evangelho:

E o sumo sacerdote os interrogou, dizendo: Não vos admoestamos nós expressamente que não ensinásseis nesse nome? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem. Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:27-29).

Infelizmente, esta não tem sido a postura da maioria dos que se dizem cristãos ou conservadores. Por medo da “patrulha do cancelamento progressista”, fazem um verdadeiro contorcionismo mental para não terem que afirmar suas crenças.

Um exemplo é a questão do aborto; para exemplificar, trarei aqui um dos casos de maior repercussão: tudo começou com uma “denúncia” do jornal progressista The Intercept. A mãe da menina a levou para o Hospital Universitário de Florianópolis ao constatar a gravidez. O curioso é que a menina já estava com 22 semanas de gestação.

Após a recusa do Hospital de realizar o procedimento – a lei só autoriza o aborto em caso de estupro até 20 semanas – a mãe da menina recorreu à justiça, porém, não obteve o aval judicial. O caso, que corria em segredo de justiça, foi vazado pelo site de esquerda, através da ONG Catarinas. Foram publicados trechos SIGILOSOS da audiência da juíza do caso à época, doutora Joana Ribeiro Zimmer, onde ela perguntava à menina se poderia “suportar mais um pouquinho” para, assim, permitir que o feto pudesse ser retirado com vida. A juíza, acertadamente, havia autorizado a ida da menina para um abrigo, explicando em um dos despachos o risco da mãe efetuar algum procedimento para operar a morte do bebê.

A Dra. Joana também havia exigido que o padrasto e o filho deste fossem retirados do convívio da menina por tempo indeterminado pois a juíza desconfiava de que um dos dois fosse o abusador – haja vista o comportamento da mãe da menina.

Porém, toda a extrema imprensa tratou de execrar a imagem da magistrada e o caso foi encaminhado para outra vara, que decidiu – apressadamente, diga-se de passagem – que o aborto fosse realizado.

Então, tive o desprazer de assistir uma comentarista (que se diz conservadora), dizer o seguinte absurdo:

Cabia à juíza cumprir o que está na lei. Se a mãe dessa criança acha que o melhor para a filha é abortar – o que grande parte das pessoas acha – cabe à juíza cumprir o que tá na lei. Tá lá, a lei garante a pessoa que sofre abuso escolher se quer ou não continuar com a gestação. Agora já tá avançado. E cabe agora aos médicos, e não à juíza, ver o que é melhor para essa criança.”

Ao ouvir tamanha asneira, fui tomada por uma revolta absurda! Como pode alguém que se diz conservador falar uma bobagem inominável? “Mas, a lei diz isso, a lei diz aquilo…” E desde quando toda lei é justa, moral e aceitável?

Frederic Bastiat, autor do clássico “A Lei”, explica isso com maestria: a lei deve servir para proteger os três dos dados por Deus – vida, liberdade e propriedade; e que ela não pode se contradizer com a moral. Aí está o problema.

O ser humano tem essa tendência de acreditar que tudo o que está cristalizado em lei é legítimo; mas tomemos como exemplo os piores regimes autoritários da humanidade: todos exerciam seu poderio por meio de lei. Ora, então está tudo bem, judeus serem entregues a autoridades apenas por existir uma lei? Óbvio que não. Mas, por que então se fazem malabarismos mentais no que tange a outros assuntos?

O que fica claro é que muitos pertencentes à ala direitista não são conservadores, até defendem o Estado mínimo, o direito à legítima defesa, a soberania nacional, porém são desprovidos daquilo que Roger Scruton chama de “valores intrínsecos”. E isso é um péssimo sinal, pois uma pessoa sem valores morais é passível de ser influenciada por quaisquer movimentos.

Um dos sinais de que uma pessoa tem valores é a sua palavra: ou ela diz sim ou ela diz não; ela não se deixa guiar pelas “ondas” do momento, não se importa com o “cancelamento”, não tem medo de defender aquilo que crê. Esta posição remete, inclusive, ao próprio caráter de Deus, pois a Bíblia diz:

Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa” (Números 23:19)

Este relativismo é fruto de anos e anos de lavagem cerebral feita por movimentos revolucionários. A verdade deixou de dizer respeito à realidade e passou a ser algo relativo aos desejos e à satisfação das pessoas. E muitos daqueles que se dizem de direita tem utilizado deste método para escapar do linchamento virtual; afinal, defender valores e princípios tornou-se démodé. E estes são os que têm espaço na mídia, ao contrário dos que se mantém firmes em seus princípios.

Infelizmente, este não é um dilema exclusivo dos nossos dias; no livro de Salmos, Asafe relatou o quão era difícil para ele ver aqueles que não tinham estes valores aparentemente prosperando:

Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos. Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios.” (Salmos 73:2,3).

Permanecer na verdade, ainda que seja uma tarefa árdua, traz frutos. O que seria da igreja se os apóstolos Pedro e Paulo sucumbissem diante da perseguição? Quem escreveria a revelação de Apocalipse se o apóstolo João desistisse? E o que seria de nossas almas se Nosso Senhor Jesus Cristo simplesmente dissesse “não” à cruz? Diga-se de passagem, nem o Senhor Jesus se agrade de gente “meio barro, meio tijolo”:

Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!
Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” (Apocalipse 3:15,16)

Texto publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 27

Sobre o autor

Danielly Jesus

Jornalista (DRT), YouTuber, podcaster (Cafe com Dani no Spotfy), escreve para os sites: Mundo Conservador e PHVox, radialista na web rádio Atroz FM e colunista na Revista Conhecimento & Cidadania.

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BIOGRAFIA

Leandro Costa

Servidor público, advogado impedido, professor de Direito, Diretor Acadêmico do projeto Direito nas Escolas e editor-chefe da Revista Conhecimento & Cidadania.

Defensor de uma sociedade rica em valores, acredito que o Brasil despertou e luta para sair da lama vermelha que tentou nos engolir. Sob às bênçãos de Deus defenderemos nossa pátria, família e liberdade, tendo como arma a verdade.

É preciso fazer a nossa parte como cidadãos, lutar incessantemente por nosso povo e deixar um legado para as futuras gerações. A política deve ser um meio do cidadão conduzir a nação, jamais uma forma de submissão a tiranos.

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