Somos todos iguais

Somos todos iguais

Creio que todos já ouviram esta expressão, o problema é quando as pessoas levam para o lado denotativo. Não há como dizer que todos são iguais, em realidade, nem mesmo que um é igual ao outro, mesmo caso fossem gêmeos idênticos.

A ideia conotativa, a que cria um sentido na expressão, é dizer que somos capazes, diminuir a inveja e fazer com que aquele indivíduo busque uma melhora, ou seja, alguém saudável, sem complicações cerebral nem física, olhar para outro e invejar o ponto em que aquele está, indiferente se foi sorte, herdado, somos todos iguais, você é tão capaz quanto, corre atrás e chega lá, mas, diferente daquele que se submete aos atalhos, muitas vezes sendo um caminho derradeiro, crie um trabalho a longo prazo.

Não inveje o próximo, caso ache que determinada pessoa não é capaz de estar onde está, primeiro olhe para si, “Quanto de você existe naquilo que você odeia?” (Freud), julgamos alguém por não merecer estar onde está, e de fato, muitas vezes essa pessoa realmente não merece, todavia, você merece? Pois todos somos iguais, pode haver alguém mais capaz para este fim, que se esforça mais.

A expressão tinha um valor significativo, algo bom, no sentido de acender uma vontade de melhora, não apenas financeiramente, fisicamente, mas do mental também, no fundo daquele indivíduo, mesmo que no momento este ignorasse, tal frase ficaria em seu subconsciente, todavia, com uma educação precária, obviamente proposital, pois há um motivo para quererem uma sociedade “menos pensante” por assim dizer, uma sociedade a qual ser cético é um defeito – Como você acredita que armar os inocentes trará uma diminuição na criminalidade? Eu vi na televisão que aumentaria – e a pessoa aceita cegamente no que a mídia diz, para que raciocinar sobre, as informações já vieram bonitinhas. É como se a mídia fosse a mamãe pássaro, passando os alimentos mastigados para o filhote, este que por imaturidade apenas engole, embora no caso do pássaro seja normal, pois é um filhote, nesta analogia temos adultos nessa condição, onde apenas engole o que lhe for dado, indiferente do que seja, aliás, é cômodo se ausentar de pensar, buscar outra fonte de informação, colocar no papel e fazer uma comparação das narrativas, tentar compreender o que de fato ocorreu para que seja possível chegar próximo a verdade.

Nesta sociedade atual, onde a fragilidade é exaltada, a expressão tornou-se inócua, usada para cobrir erros, a ponto de ser usada por criminosos com um complemento ainda mais, ficando “somos todos iguais aos olhos de Deus”, misturam o conceito de Deus sempre perdoar com esta frase, como uma forma de amenizar seu pecado, todavia, ambos estão deturpados, a ideia não é essa, qualquer ser com mais de 5 anos consegue chegar na conclusão que isto está completamente errado, o sentido é dizer que um pai não diferencia seus filhos, ambos terão o mesmo tratamento para devido ato, Deus não julga sua cor, não julga se você é cego, cadeirante, mas ele irá julgar suas convicções, suas escolhas, o ato, não a pessoa.

Embora Pablo Neruda seja um helminto social, retém uma frase que podemos utilizar neste caso. “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências” aplicando ao conceito anterior, Deus não te julgará por ser um humano, mas sim pelas suas escolhas, sejam boas ou más, as consequências serão definidas.

Quando trazemos o sentido deturpado, com uma resistência zerada, apenas levando tudo ao pé da letra, pode-se ter a ideia de que sermos todos iguais justifica meu erro, pelo erro daquela pessoa, ou que se fosse o outro no seu lugar, este faria o mesmo. Não deve-se comparar erros de um indivíduo para o outro, pois todos temos um pecado, o certo é decidir medindo quem se afasta mais do correto. O fato de alguém trair seu cônjuge não o faz tão pecaminoso quanto um assaltante, mas não é por existir um assaltante, que seu adultério deixa de ser um pecado. Lembrando que digo pecado da forma lúdica, não minimizando na religião, mas sim tratando de forma mais pesada do que um erro, pois as pessoas acham brando quando falamos de falhas, pois é normal termos.

Apesar de ser natural que cometemos erros, somos falhos, naturalizar isto é atenuar a situação, um adolescente pegar a caneta do amigo e não devolver é normal, isto é atenuar um pequeno furto, faz menos de um ano que terminei meu ensino médio, isso é factível, lidado com risos, como se não fosse nada demais, embora seja uma mensagem que um pequeno furto nem é nada demais, todos fazem, todos são iguais. Quando uma falha não é alvo de correção, esta se proliferará, é como uma praga, caso não seja exterminada, irá contaminar todo o ambiente, fazendo com que isso se perdure, aquela criança se forma e pratica o mesmo no trabalho, enquanto novas crianças chegam naquele ambiente, se corrompem e seguem esse ciclo. Vemos o quão deteriorado está nossa sociedade, quando até nossas expressões estão desvirtuadas.

Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 16

Sobre o autor

Pedro Costa

Estudante de Direito, Editor auxiliar e colunista na Revista Conhecimento & Cidadania.

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BIOGRAFIA

Leandro Costa

Servidor público, advogado impedido, professor de Direito, Diretor Acadêmico do projeto Direito nas Escolas e editor-chefe da Revista Conhecimento & Cidadania.

Defensor de uma sociedade rica em valores, acredito que o Brasil despertou e luta para sair da lama vermelha que tentou nos engolir. Sob às bênçãos de Deus defenderemos nossa pátria, família e liberdade, tendo como arma a verdade.

É preciso fazer a nossa parte como cidadãos, lutar incessantemente por nosso povo e deixar um legado para as futuras gerações. A política deve ser um meio do cidadão conduzir a nação, jamais uma forma de submissão a tiranos.

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