No último filme da clássica trilogia O Poderoso Chefão (The Godfather), o protagonista, Michael Corleone, decide se confessar a um cardeal, embora tenha cometido diversos crimes, sua maior necessidade era pedir perdão pela morte de seu irmão Fredo, a que ordenou o assassinato, no filme anterior, após o falecimento da mãe de ambos. Michael sabia que não poderia fazê-lo enquanto sua mãe estivesse viva, contudo, tinha em mente que Fredo conspirou para sua morte e, por isso, considerava o fratricídio justificado e útil para mantê-lo no poder.
Assim como fizera com o cunhado, Carlo Russo, responsável pela morte de Sonny, primogênito dos pais de Michael, o líder da família considerava que eliminá-lo era necessário, logo, assim que a sua mãe falecera, tratou de dar cabo à vida de Fredo, entretanto, por mais que Michael contasse com uma considerável lista de vítimas, algumas delas resultado de sua ação direta, ao considerar que Fredo era sangue de seu sangue, filho de seus pais, o chefe família mafiosa mais poderosa naquela obra ficcional, tinha a consciência de que se tratava de um pecado com um peso maior.
Diante de um membro do clero que lhe inspirou confiança, posto que, o protagonista da trilogia percebeu naquele sacerdote alguém que, realmente, guardava a fé, Michael decidiu confessar-se, em especial, por ter mandado que Fredo fosse assassinado. A ideia passada, ao menos para os que compreendem o Sacramento da Confissão ou Penitência, é que o mafioso, apesar de um criminoso frio e violento, não suportava conviver com a culpa pelo fratricídio.
Para alguém acometido pelo relativismo moral, como é o caso dos revolucionários, é impossível compreender o significado da confissão, uma vez que, ao ser arregimentado entre as diversas hordas que marcham conforme o bumbo da elite revolucionária, far-se-á necessário renunciar à realidade, por isso, o mote mais usual entre tais grupos seja a falácia de que “a verdade é relativa”, sendo, portanto, condicionada pelo ponto de vista, logo, é preciso constatar que todo revolucionário é um relativista, posto que, buscando impor sua visão descolada da realidade, trata de, proposital, em se tratando dos líderes, ou por ignorância, quando nas camadas mais baixas, confundindo a realidade com o ponto de vista, tornando-se incapaz de assumir que espia os fatos pelo ângulo que melhor se adequar a sua intenta.
Naquela máxima que um seis pode ser um nove, a depender do ângulo pelo qual observa, o relativista verá o número que lhe for mais conveniente, por isso, o apego às estatísticas que sirvam ao seu desejo, desprezando, despudoradamente, quaisquer outras que apontem algo que os contradigam. Para um revolucionário, a mentira será a alternativa ao arrependimento, transferindo a responsabilidade para outros indivíduos ou fatores fora de seu controle.
A confissão tem como elementos essenciais o reconhecimento da culpa e o arrependimento pela transgressão, por isso, aquele que a faz precisa assumir sua fraqueza, seu erro, e buscar o perdão, não por uma conveniência social, mas pelo real arrependimento diante do mal que causara. Para alguém que acredita serem a moral e a fé voláteis conforme sua “consciência”, não há necessidade em admitir um erro e buscar o perdão, exceto se isso tiver o fim específico, como evitar a rejeição ou as consequências de seus atos, como aquela figura que, flagrada desviando, vai a público expor, através de um discurso nitidamente artificial, uma espécie de arrependimento, quando, nitidamente, busca conciliar-se com aqueles aos quais acredita podem o prejudicar.
Na pele de Michael Corleone, um relativista simplesmente limitar-se-ia a culpar Fredo, que de fato conspirou para matar o irmão, evitando assim assumir a culpa ou suplicar pelo perdão do Cardeal. A degradação moral faz do arrependimento uma mera sinalização de virtude encenada, de maneira que a confissão, aos moldes do catolicismo, jamais faria sentido, pois, não goza do caráter publicitário de um pedido de desculpas em uma rede social.
Ao sacerdote é vedado expor aquilo que se diz no âmbito da confissão, uma proibição acolhida mesmo no ordenamento jurídico pátrio que, ao menos por enquanto, garante àquele que se confessa o sigilo daquilo que é falado quando da confissão e protege o sacerdote contra arroubos autoritário que tentem o dissuadir a revelar algo que tomara ciência na qualidade de confessor. Permitir que qualquer que seja a autoridade tenha meios para constranger o sacerdote a expor o teor de uma confissão feriria de morte o sacramento, haja vista que, abalaria a relação de confiança entre o fiel e a Igreja, por isso, não se pode descartar que, sob a alegação do Estado laico, relegue-se a um status de insignificância os sacramentos, retirando tal proteção no âmbito do Direito pátrio.
Imperiosos lembrar o sigilo também se aplica a profissionais como advogados e psicólogos, todavia, em que pese não sejam alcançados pelo argumento da laicidade estatal, podemos imaginar que um relativista poderia suprimir prerrogativas de advogados quanto ao sigilo, uma vez que, admitem outras tantas violações à categoria, bem como, aos psicólogos em nome da defesa de um “bem maior”, como no caso de perseguição dos profissionais que defendiam aquilo que apelidaram de “cura gay”, e, por final, temos os médicos, que foram abertamente perseguidos por se oporem às medidas transloucadas durante o episódio de experimento coletivo da pandemia recente, além daqueles que defenderam o chamado tratamento precoce ou alertaram para o risco irrestrito da tecnologia experimental denominada Terapia Gênica.
Na prática, em se tratando de relativistas, figuras que lutam até mesmo contra a natureza, todo tipo de loucura pode ser o próximo passo, entretanto, considerando que violações das mais diversas são, na mente revolucionária, justificadas em busca do poder, esperar que destruam um sacramento em nome de sua doentia busca pela utopia é o mínimo que podemos fazer. Ao menos no ocidente, proteger a confissão, bem como, os profissionais supracitados, faz parte da confiança entre aquele que confessa e o que tem o dever de não divulgar aquilo conheceu em razão de seu ofício.
O sacramento da confissão deve ser protegido e, aquilo que os revolucionários chamam de Estado laico é, na verdade, um Estado que busca destruir a religião basilar da sociedade ocidental, portanto, o cristianismo, com um foco especial no catolicismo. Por isso, qualquer declaração de ódio em relação aos cristãos é solenemente ignorada por autoridades que fingem que só algumas religiões podem ser protegidas, com o mesmo pretexto fajuto de quem busca, incessantemente, criminalizar o racismo de forma unilateral, tão somente para atiçar conflitos raciais e a ideia de que um determinado secto merece privilégios em troca de sua total vassalagem aos poderosos.
Se, por um lado, o revolucionário despreza a Igreja Católica, jurando destruí-la ou se infiltrando para corroê-la, por outro, é incapaz de reconhecer a importância da confissão como autoexame da própria natureza falha do homem e, por conseguinte, a busca pelo perdão e fortalecimento através da penitência, aprendendo com os erros para tornar-se um indivíduo cada vez mais virtuoso.
Despido de honradez e humildade, o relativista acredita que sempre poderá se furtar das consequências de suas ações, por mais nefastas que sejam. Não há como esperar que indivíduos que pregam abertamente a destruição de todos que se colocam como obstáculo ao seu desejo totalitário faça uma honesta análise de consciência, algo que aparentemente não possui, para assumir que errou e busque o sincero arrependimento.
Um líder socialista jamais importar-se-á com terceiros, podendo exterminar quantas vidas forem necessárias para obter aquilo que almeja, entretanto, uma vez pressionado, poderá simular arrependimento ou, como na maioria dos casos, transferir a responsabilidade a terceiros. Como fizeram com o nacional-socialismo alemão e o fascismo, que, por mais que todos os elementos os enquadrassem no espectro coletivista, foram rapidamente transferidos à vertente política oposta, sendo tratado como forças ligadas ao liberalismo e ao conservadorismo, apenas para que sua má fama fosse transferida, de forma injustificada, àquilo que é conhecido no campo político como direita.
Posteriormente, a ditadura chavista que consome a Venezuela foi igualmente adjetivada como sendo do espectro da direita, o que só não foi um movimento exitoso em razão da descentralização da informação propiciada pela internet, algo que os relativistas lutam para destruir, bem como, a cultura “woke” foi tratada em um artigo isolado, mas que serve de ensaio para propostas futuras, como algo embrionado na direita, uma narrativa rapidamente derrubada por, mais uma vez, mérito da informação descentralizada. É praticamente impossível imaginar quantas atrocidades os revolucionários encobriram antes do advento da internet, lembrando que, tais figuras abjetas negam o Holodomor com todas as forças.
A negação tem duas razões em especial e a primeira, como podemos facilmente imaginar, é a ausência de arrependimento por parte daqueles que consideram a moral como relativa e a segunda, a incapacidade de assumir seus erros e enfrentar as consequências deles, buscando, para se eximir das responsabilidades, negar ou omitir suas falhas ou torpeza, o que, de fato, é inútil, dado que a realidade, cedo ou tarde, batera à porta.
Quando confrontado pela verdade, restará ao revolucionário o suicídio, a negação ou o sacrifício da parte que considere menos essencial, entretanto, nuca confessará seus crimes, pois o arrependimento não é uma qualidade do psicopata ou daqueles que o seguem, por isso, a moral do relativista é nula, haja vista que, precisa conduzir seus seguidores ao abismo se necessário ou, quando nas camadas inferiores, jurar vassalagem doentia em troca de migalhas.
Um membro do Tribunal do Povo Alemão ou oficial de alta patente da Schutzstaffel poderia seguir o destino do Führer, insistir que fizeram um bem a humanidade em sua busca pela raça ariana ou, simplesmente, apontar parte do grupo como um “boi de piranha”, que se sacrifica pelos demais, para se furtar das consequências de seus atos, porém, não confessariam seus crimes atrozes salvo se isso fosse o meio ofertado para escapar de uma punição mais grave. Não se pode esperar menos de todos os líderes tiranos que hoje ocupam posições de poder, mas temem, um dia, serem confrontados e responsabilizados pelos males que causam.
O exemplo da ditadura venezuelana, que insiste em se manter apesar da flagrante derrota no processo eleitoral, uma vez que lá é possível auditar os votos individualmente, evidencia que o revolucionário se apega ao poder, justamente, para não enfrentar as consequências de suas ações, negando abertamente sua perda de legitimidade, se é que em algum momento foi legitimo, para garantir sua impunidade. Maduro, sabendo ser um tirano fora de controle, se mantém no poder pela força para não ser responsabilizado pelos males que causara, esperando morrer na cadeira do Miraflores, como seu antecessor, Hugo Chavez, fizera.
Por não acreditar em algo maior, uma justiça divina ou o dever de fazer algo pelo próximo, Maduro almeja o destino de déspotas que morreram no poder, como Lenin, Stalin, Mao, Fidel e outros tantos seres que jamais se confessariam, por serem orgulhosos demais para submeterem-se a Deus. Adolf Hitler preferiu o suicídio diante da condenação e, no Brasil, temos o exemplo de Getúlio Vargas, que também preferiu a condenação eterna daquele que não se arrepende, alegando que deixava a vida para entrar para a história, quando na verdade, tentava encobrir sua natureza pútrida com um ato que imitava o martírio.
Igualmente, os revolucionários que hoje ocupam tronos dos mais diversos, como o próprio Maduro e o ditador nicaraguense Ortega, insistem em negar sua culpa, posto que, nada mais são do que líderes desprovidos de consciência, dispostos a solapar qualquer um que os desafiem ou, simplesmente, os incomodem.
No recente episódio de arroubos totalitários durante a pandemia sanitária, diversos exemplos de abusos poderiam ser citados, entretanto, seus artífices buscam, de todos os meios, evitar a responsabilização pelos males que causaram, não confessando que aplicaram medidas descabidas, como soldar portas de empreendimentos comerciais, lacrar gondolas de supermercado e até toques de recolher, sem quaisquer justificativas, posto que, restará nítido o dever de reparar os prejuízos que causaram. Houve ainda aqueles que lutaram contra o chamado tratamento precoce, perseguindo qualquer um que ousasse pregar em defesa de tais medicamentos, mesmo em se tratando de profissionais da saúde, todavia, negam abertamente qualquer responsabilidade.
“O choro é livre”, tornou-se um “fique em casa se puder”, sem o menor pudor e a mídia, que fazia contagem de mortos e coordenava notícias em um verdadeiro cartel, o qual apelidou como consórcio de imprensa, como de costume, lavou as mão em relação aos seus feitos e não assume o mal que causara, algo que também se aplica as chamadas “bigtechs”, como os grupos Meta e Google, que, abertamente, atuaram no sentido de suprimir ou reduzir o alcance de qualquer voz dissonante daquela orquestrada cartel de imprensa internacional.
Em alguns países, os de maior tradição democrática, já estão em curso processos e investigações que visão responsabilizar aqueles que, de alguma forma, agiram de má-fé no período, entretanto, os povos sob o comando de déspotas totalitários ainda sofrem calados as ações dos mesmos tiranos daquela época, em alguns casos, ainda se exige a administração compulsória da terapia gênica para crianças, tão somente para manter a narrativa de que tal experimento era ou é necessário. O intuito central daqueles que insistem em um experimento que se mostrou desastroso, seja pelos diversos casos de efeitos colaterais devastadores ou pela necessidade em doses subsequentes não previstas, parece ser, não a busca pela imunização, mas a preservação das autoridades que insistem em não confessar as atrocidades que conscientemente, ou não, colocaram em prática.
Outra forma de não confessar suas ações é a judicialização da política, em que grupos menores passam a governar em uma espécie de sociedade com o Poder Judiciário, que por não se colocar ao escrutínio do povo, não sofre consequências de suas decisões, ao menos diretamente, podendo assim, tocar os rumos da política ao seu bel prazer sem que sofra um revés nas urnas. Usando de uma hermenêutica ilimitada, o Poder Judiciário pode ser invocado a assumir qualquer face do Estado, pois, se atuar despudoradamente, poderá se imiscuir em quaisquer assuntos alegando ser em nome de um bem maior. Ainda mais grave seria, em raros casos de hipertrófica do Judiciário, tal poder atuar mesmo sem a provocação de interessados, dando início de ofício a feitos com consequências, que solapam os demais poderes e que jamais serão postos no confessionário, pois em alguns ambientes, como tribunais e redações de jornais, parece que o arrependimento não é algo natural.
Há sim os seres que adulam tiranos, que, mesmo nos dias atuais, não se importam em servir como cães farejadores de poderosos totalitários, se rebaixando de maneira desprezível em troca de migalhas, tais criaturas são ainda mais miseráveis que seus senhores e negaram seus atos quando confrontados, por isso, tentarão omitir seus crimes, confessando-os tão somente se exposto e, ainda assim, o farão apenas em busca do perdão terreno, não se arrependendo verdadeiramente. Os vassalos do mal serão vermes mesmo no inferno.
Aos líderes revolucionários, resta uma luta infrutífera contra a realidade buscando apenas se encastelar como forma de proteção, não contra seus inimigos, mas em relação às consequências de seus próprios atos, pois seus crimes são inconfessáveis.
“Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (São João 20:23).
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 49 – Edição de Dezembro de 2024 – ISSN 2764-3867