Continuação
Retomaremos agora nossa análise e comparação da visão de Karl Marx sobre o processo revolucionário industrial e a realidade. A visão de Marx estava essencialmente corrompida pelos dados, o espaço e o período histórico limitado que ele abordava. Corroborando esta ideia, lançaremos nosso olhar sobre o ponto de vista de outro pensador, Max Weber. Este pensador trouxe uma perspectiva inovadora ao questionar a visão de Marx sobre a luta de classes em movimentos sociais. Ele enfatizou que, embora os contextos históricos possam ser semelhantes, sua abordagem única da sociedade estava intrinsecamente ligada ao seu desenvolvimento acadêmico.
Weber desenvolveu uma visão abrangente da sociedade, argumentando que os valores compartilhados desempenhavam um papel fundamental na formação dos laços sociais, mesmo antes da configuração de modos de produção. Para ele, a expressão material estava enraizada nas ideias compartilhadas pelos membros de uma sociedade.
O pensamento de Max Weber destacava os eventos culturais como singularidades que requeriam estudo individual, evitando generalizações que extrapolassem quadros históricos específicos. Ele alertou que os cientistas sociais não devem impor julgamentos baseados em valores de sua própria época ou ideologia sobre um objeto de estudo.
Weber enfatizou que o papel do cientista social é compreender os eventos sociais, não julgá-los. Portanto, é crucial que o pesquisador revele seu ponto de vista e orientação ao estudar um objeto, pois não existem leis sociais atemporais que regulem todas as sociedades.
Nesse contexto, Weber rejeitou a ideia de que a ciência social pode reduzir a realidade empírica a leis universais. Ele argumentou que a objetividade no estudo da sociedade deriva da compreensão profunda dos valores afirmados e sua sistematização, focando em uma análise metódica das peculiaridades históricas.
Assim, não apenas buscando uma visão mais abrangente, mas refletindo sobre as mudanças que frequentemente são observáveis no espaço e ao longo do tempo, assim como sobre os efeitos de cada cultura no resultado dos movimentos socioeconômicos, Marx teria concluído que não apenas o consumo melhorou as condições de vida das pessoas, mas também houve um notável avanço no conhecimento científico durante o período da Revolução Industrial inglesa.
Descobriu-se, por exemplo, que práticas de higiene e saneamento eram eficazes na prevenção de doenças, levando à redução das epidemias e mesmo ao fim das terríveis pestes que assolavam a humanidade anteriormente. Profissões como médico, cientista, jornalista, engenheiro, advogado e arquiteto proliferaram com o desenvolvimento científico do período que, numa espécie de “simbiose” com a industrialização, trouxe benefícios para ambos os lados.
A Era da Revolução Industrial também testemunhou um florescimento das artes e das ciências. Tal florescimento teve precedentes durante o período do Renascimento cultural e artístico dos séculos XIV a XVI que, não por coincidência, também foi impulsionado pelo fluxo maior de riquezas obtidas pela expansão comercial e marítima daquele período.
Pela primeira vez na história, algumas nações experimentaram uma verdadeira prosperidade. Antes disso, as riquezas conquistadas eram geralmente monopolizadas por chefes de estado e líderes militares. Com a ascensão do capitalismo, a população em geral passou a compartilhar os benefícios da riqueza. É importante observar que muitos não conseguiram enriquecer e permaneceram em condições semelhantes às que a maioria da população vivia antes do capitalismo. No entanto, foi graças à Revolução Industrial e ao aumento dos salários que a Europa Ocidental conseguiu erradicar o trabalho infantil no século XIX.
Esse enriquecimento da população permitiu que famílias enviassem seus filhos para universidades, o que, por sua vez, impulsionou os estudos científicos e o desenvolvimento das ciências como nunca antes na história. Não é coincidência que os maiores cientistas e inventores da época fossem frequentemente britânicos, muitos deles filhos de burgueses que prosperaram durante a Revolução Industrial. Um exemplo notável é James Watt, criador da máquina a vapor em 1765, que era filho de um engenheiro rico. Seu sócio, Matthew Bolton, que inventou a locomotiva a vapor em 1804, era filho de um pequeno fabricante de peças de metal. Charles Darwin, neto de um industrial cerâmico e filho de um médico rico, também se destacou. Edward Jenner, embora viesse de uma família pobre, teve a oportunidade de trabalhar como aprendiz de um médico aos 14 anos, o que o encaminhou para uma carreira notável.
Edward Jenner, por exemplo, é um exemplo notável desse progresso. Aos 21 anos, já havia se tornado médico e, aos 25, fundou uma associação dedicada à pesquisa médica. Em 1796, Jenner fez história ao criar a primeira vacina do mundo, que visava proteger contra a varíola. Se não fosse pelo surgimento da burguesia e a prosperidade que ela trouxe, a ciência não teria avançado tão rapidamente.
A Revolução Industrial, embora tenha chegado mais tarde à França por volta de 1840, logo foi seguida por conquistas científicas notáveis. Em 1885, Louis Pasteur, filho de um fabricante de couro, desenvolveu uma vacina contra o cólera. Na Alemanha, onde a Revolução Industrial se estabeleceu por volta de 1850, a década de 1870 testemunhou o surgimento de uma indústria farmacêutica robusta.
Não é por acaso que os principais químicos que contribuíram para o avanço científico da época eram frequentemente ingleses, franceses e alemães. Enquanto esses progressos aconteciam, Karl Marx tentava mobilizar os trabalhadores para uma revolução com o objetivo de derrubar o capitalismo. No entanto, ele não conseguiu atrair muitos operários para sua causa, pois muitos deles percebiam que a situação das classes trabalhadoras não estava se deteriorando, pelo contrário, em geral melhorava.
Numa tentativa patética de tentar justificar seu fracasso em conquistar a classe operária, Marx alegou que os trabalhadores estavam sendo iludidos pela ideologia burguesa e careciam de consciência de classe. No entanto, alguns argumentam que Marx, ele próprio estava tentando iludir os trabalhadores. Em sua obra “O Capital”, ele analisou principalmente indústrias menores, em más condições ou antiquadas, retratando-as como representativas do capitalismo, a fim de denunciar as péssimas condições de trabalho e os baixos salários. Nessas indústrias, as condições eram de fato precárias, mas isso se devia à falta de capital dos empresários para investir em máquinas e melhorar as condições de trabalho dos operários.
É notável que Marx tenha criticado maquinários mais avançados, argumentando que eles diminuiriam o trabalho dos operários e, consequentemente, reduziriam seus ganhos. No entanto, na prática, as melhores remunerações eram frequentemente encontradas nas grandes indústrias, onde as máquinas possuíam melhores condições tecnológicas. Além disso, a maioria das fábricas ultrapassadas citadas por Marx eram clandestinas e atuavam sem as devidas licenças. Marx usou os clamores de abuso contra os trabalhadores das indústrias clandestinas como se fossem representativas de toda a Revolução que se encontrava em curso.
Exemplos como aqueles, que eram casos isolados de exploração e abuso, foram apresentados por Marx como se fossem o padrão de toda a Revolução Industrial. Essa manipulação de informações era necessária para sustentar sua tese. De acordo com o historiador inglês Paul Johnson em sua obra Os Intelectuais, Marx não estava disposto a realizar pesquisas de campo por conta própria e, portanto, distorceu sua principal fonte de informação para não abandonar sua narrativa.
Uma leitura atenta de “O Capital” revela uma incapacidade inata de Marx em compreender plenamente o capitalismo. O livro é criticado por sua falta de honestidade estrutural e por fracassar em adotar uma abordagem verdadeiramente científica. A obra reflete uma desconsideração pela verdade e pela realidade.
Paul Johnson chega à conclusão de que chamar o socialismo de Marx de “científico” beira o absurdo. Além disso, é notável que os estudantes nas escolas e universidades continuem aprendendo que a Revolução Industrial tenha sido um período miserável da história da humanidade, quando, na verdade, esse período trouxe avanços significativos em termos de qualidade de vida e desenvolvimento científico.
Postos todos estes elementos sobre a mesa fria da realidade, da observação isenta de partidarismos ou enviesada por ideologias que vivem no útero das teorias, mas que se tornam em estruturas natimortas ao menor contato com a luz da realidade, concluímos que Marx falhou miseravelmente. A Revolução Industrial fez jus ao título e, como revolução, foi a quebra do paradigma histórico e social dos povos da antiguidade.
Para resistir à prova do tempo, uma ideologia precisa ser experimentada e seus resultados quantificados e qualificados. A Revolução Industrial e seus métodos de produção não estão enquadradas como ideologias, mas como elementos palpáveis por seus resultados. Quanto à visão marxista, a aplicação de sua ideologia, seus métodos e resultados, estes são amplamente conhecidos e igualmente palpáveis. Os tais que renegam a realidade e defendem ideologias fantasiosas, podem ser divididos em três grupos: os que estão se beneficiando do engano de muitos; os que esperam se beneficiar em algum momento daquele engano ou; os que são enganados, os quais poderíamos chamar de “idiotas úteis”. ¡Viva La Revolucion! (industrial).
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 35