Por Leandro Costa
Não é de um anti-herói ou vilão dos quadrinhos que pretendo escrever, embora a natureza da personagem seja naturalmente ligada ao que será abordado, não se trata de uma ficção a simbiose em questão.
O conceito de simbiose é a coexistência entre dois seres vivos de espécies diferentes com benefícios, ao menos aparentes, para ambos os seres, também é chamada de mutualismo, por pressupor uma reciprocidade, ainda que em desequilíbrio, entre ambos.
Há de se falar de associações entre seres vivos que são denominadas de formas diversas justamente em razão dos benefícios das partes envolvidas, a saber, o comensalismo, no qual apenas um dos lados obtém vantagens, sem causar prejuízos ao seu coabitante, e o parasitismo, em que uma parte se locupleta da outra.
A simbiose pode se transformar facilmente em uma das uniões citadas, mas ainda que não o faça, o mutualismo pode ter os piores fins possíveis, tornando-se um mal de grandes proporções, ainda que conserve sua natureza, bastando, para tanto, que seja a associação essencialmente vil.
Sendo possível uma simbiose com um fim espúrio, poder-se-ia imaginar que ambos os seres que dela fazem parte se beneficiam para causar o mal, o que é a mais triste verdade, entretanto, como cita um amigo, “sempre haverá um entretanto”, se a associação entre dois parasitas poderia ser boa para ambos, alguém lhes servirá de alimento.
Tratando da famosa simbiose dos quadrinhos, vislumbra-se a união de forças para os fins errados em um dos antagonistas do enredo, denominado Carnificina (nome original Carnage), posto que, comunga um ser alienígena desprovido de moral e o psicopata Cletus Kassady, logo, duas forças malignas que se somam.
Voltando ao mundo real, pena que tal simbiose não ocorra apenas na ficção, podemos espiar inúmeros casos em que seres se unem com o fim de se beneficiar mutuamente, mas fazendo o mal a alguém que servirá de “hospedeiro”, o termo correto seria vítima, de tal união.
Algumas associações podem aparentar fins justos, outras deixam claro que seus objetivos não são nobres e, há aquelas que não podem ser declaradas abertamente, pois sua natureza é tão abjeta que devem viver nas sombras, ao menos até que tenha a força de se sustentar mesmo ante da ojeriza por parte daqueles que podem ver sua verdadeira face.
Com os ditos fins justos, preciso voltar a ficção para me fazer entender, poder-se-ia imaginar uma associação supranacional que tem por fim a paz entre os povos, mas que gradualmente subtrai-lhes a soberania tornando-os reféns de uma elite central. Claro que somente em livros e filmes podemos experimentar tais figuras.
Uma outra possibilidade, trazida à luz pelo, à época, Ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, seria o uso do Poder Judiciário por partidos políticos para obter resultados que não conseguiram nas urnas, e por consequência, nas casas legislativas, in verbis:
“De início, é dado presumir, não estou afirmando que isso ocorra, que esses partidos não são da sustentação do Governo, que esses partidos são de oposição e utilizam o Supremo como instrumento para fustigar, a partir de n presunções, a partir de verdadeiro ranço, no que se tem a origem da Agência Brasileira de Inteligência – Abin, o SNI, o Serviço Nacional de Informações, o Governo – de direita”. (STF: Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade 6.529 DF).
Onde podemos perceber que pode ocorrer a simbiose entre partidos e o judiciário, ou entre estes e o Ministério Público, fazendo que o povo acredite em ações que na verdade são jogadas ensaiadas, uma vez que, o autor da ação sabe o que esperar dos julgadores. Estaríamos diante, não apenas da judicialização da política, mas de julgamentos preordenados, já que conhece-se a postura dos magistrados antes mesmo de se ajuizar a ação, de maneira que, participando ativamente de embates políticos e exteriorizando suas posições antes mesmo de provocados, alguns julgadores dão pistas de quais decisões tomariam em determinados casos, deixando assim o autor da ação confortável em recorrer ao Poder Judiciário e sustentar suas teses, sabendo que aquele que julgará a ação comunga de suas pautas e não faz questão de esconder seu amor ideológico por elas.
Para entender as uniões por motivos não tão nobres pode-se ver, no mundo real, a trágica proximidade entre o Talibã e o Partido Comunista Chinês que garante ao primeiro, claro que com a complacência dos Estados Unidos da América, total ingerência sobre o povo do Afeganistão e ao segundo a liberdade para “reeducar” uigures em seu território.
A hipótese mais sinistra (termo que está em Português, mas serviria muito bem se estivesse em italiano) de simbiose é aquela que não se revela até ter certo poder que lhe garanta a subsistência apesar do mal que se traduz nela. Um fatídico exemplo é o Foro de São Paulo, cuja existência era negada pela esquerda latino-americana, entretanto, após se permear nas estruturas de poder, saiu das sombras por saber-se protegida em razão de sua força política.
A simbiose do mal existe em inúmeros casos, mas não deve ser confundida com a ramificação do mal, pois tem a natureza de juntar mais de um artífice da destruição, como sindicatos que se unem aos governos e a pior espécie de empresários para fazer um baile que parece uma luta. Enquanto expectadores assistem o que acreditam ser uma batalha, em verdade, contemplam uma dança bem ensaiada entre amantes que, regrados ao melhor que há, encenam de forma convincente para direcionar os menos perspicazes ao destino trágico rumo ao abate.
As lideranças revolucionárias são capazes de se unir para manter-se no poder, mas se há uma justiça natural, e há, elas se autodestruirão buscando aumentar seu poder em relação ao hospedeiro, a simbiose do mal levará, inevitavelmente, os parasitas que se associam ao enfrentamento quanto um deles, ou ambos, se julgar capaz de engolir todo o hospedeiro, considerando que seu assecla ou par já não lhe é mais útil, tendo servido ao propósito para o qual se aglutinaram, tal qual Josef Stalin fizera com Leon Trotsky.
A nação asiática já mencionada nutri uma relação de simbiose com uma elite metacapitalista que, por um lado alavancava o crescimento do país e por outro permitia altas margens de lucro aos empresários. O resultado, uma dependência recíproca em que um grupo tolera os arroubos do outro, ao menos, até poder fincar-lhe um punhal nas costas e jogar aos leões. Trata-se de uma inevitável ruptura, mais fica a dúvida de qual dos simbiontes sairá mais ferido dela.
Há muitas simbioses que poderiam ser exploradas, contudo, é importante salientar que a característica fundamental é que a união seja entre seres diversos e não do fruto, ou ramificação, da própria criatura e a mesma, o que é ainda mais comum.
Os seres simbióticos têm origem diversa e vão se unir por interesse mutuo, podendo a aliança ser duradoura ou momentânea, pode ser ainda homogênea ou heterogênea, no primeiro caso temos o Eixo na Segunda Grande Guerra, em que todos tinham o mesmo fim repugnante, bem como, a Internacional Socialista ou o Foro de São Paulo, mas sendo heterogênea pode unir forças com fins diversos como os Aliados e Soviéticos que deram-se as mão contra o nazifascismo, mas, por óbvio, qualquer aliança heterogênea deve ser momentânea e não deveria gerar simbioses, mesclar os seres em si.
Decorre de tal constatação algo que deve ser refletido e pode não ter uma resposta simples, a aliança entre metacapitalistas e um país socialista não deveria ocorrer, e ocorrendo, deveria se dissolver rapidamente, sem que a membrana de ambos permitisse a união entre eles, ou, estaríamos diante de uma união homogênea em que ambos, ao seu modo buscam o controle sobre as massas e se fizeram juras
matrimoniais com o fito e subtrair a autodeterminação dos povos, ou ainda pior, o livre arbítrio de qualquer um que não pertença à oligarquia dominante.
A relação entre seres abissais gerará uma criatura forte porém faminta, já que as pretensões daqueles que se aglutinam com propósitos nefastos somam-se para criar uma vontade não tão única mas de força colossal, logo, uma vez retirada a abundância de alimento, no caso se vassalos, aqueles que outrora se uniram para vilipendiar aqueles que serviam de hospedeiros, buscarão alimentos em seus pares, digladiando-se até que um seja engolido ou morto.
Fácil constatar que o destino das partes que se unem pelo mal é se destruírem, sendo pela fome, na falta de quem expropriar, ou pela empáfia de um ou mais de seus criadores, a simbiose do mal é sempre parasitária e precisa de alguém para se alimentar, mas tem um caráter de metástase, tentará avançar até que seu hospedeiro esteja morto ou que seja confrontada.
Neste diapasão é imperioso observar que tal monstro manterá defesas caso venha a ser confrontada, podendo se insurgir contra aquele que busca se livrar dela, por vezes se vitimizando, por outras usando a força para atacar cada vez mais. Qualquer semelhança com a realidade em que vivemos é mera coincidência.
Libertar-se do parasita é essencial, mas não é algo simples, pois, como mencionado, alguns desses seres só se manifestam quando já possuem raízes em órgãos vitais, não podendo ser simplesmente arrancados. Lembrando que cortar-lhes a nutrição fará com que tentem abocanhar ainda mais, tornando-os agressivos.
A primeira coisa que deve ser liberta é a consciência, pois sem saber que as forças malignas estão atuando em sintonia, há o grande risco de se combater uma alimentando a outra, de maneira que não surtirá efeito lutar.
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