“Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.” (Mateus, 12:35)
“Divide et impera” é uma expressão latina que significa “divide e conquista” ou ainda “divide e reina”. Essa estratégia política e militar tem sido historicamente empregada como uma tática para manter o controle sobre um grupo ou população ao fomentar divisões internas entre seus membros.
Na citação bíblica que abre este artigo, ao ser acusado pelos fariseus de promover seus milagres por Belzebu, o Senhor Jesus demonstrou da parte de quem Ele verdadeiramente agia. Se agindo a serviço do mal ele praticasse o bem, estaria seu reino dividido, assim, já naqueles tempos era sabido que a conquista se torna facilitada pela divisão. Tanto melhor se os divididos não percebem que estão apartados pela ação de forças que miseravelmente ignoram.
A expressão “divide et impera” tem origens antigas e tem sido atribuída a diversos líderes e estrategistas ao longo da história. Sua aplicação pode ser encontrada em contextos políticos, militares e sociais. A ideia central por trás de “divide et impera” é criar divisões internas em um grupo, seja por meio de diferenças étnicas, religiosas, culturais ou políticas. Ao fazer isso, quem busca controlar pode enfraquecer a coesão do grupo e torná-lo mais suscetível à manipulação.
Estratégias semelhantes foram utilizadas por governantes, generais e estrategistas ao longo da história. Por exemplo, é atribuída a Júlio César a observação de que “divide et impera” era uma tática eficaz para manter o controle sobre suas conquistas.
Na esfera política, a estratégia “divide et impera” pode ser observada quando líderes buscam explorar divisões ideológicas, étnicas ou sociais para fortalecer seu próprio poder. Ao incentivar rivalidades internas, eles podem consolidar sua posição dominante.
Por outro lado, a coesão, a unicidade e algum nivelamento cultural tornam as sociedades que estejam sob esta égide, como corpos resistentes e mais difíceis de se conquistar.
Sob o ponto de vista histórico, coesão e o nivelamento cultural desempenham papéis fundamentais na formação de estados nacionais. A coesão refere-se à união e integração de diferentes grupos dentro de uma sociedade, enquanto o nivelamento cultural envolve a criação de uma identidade cultural compartilhada. Ambos são essenciais para consolidar um estado nacional por várias razões, tais como estabilidade e governança, onde a coesão social reduz a probabilidade de conflitos internos, promovendo a estabilidade.
A coesão e o nivelamento cultural facilitam a governança, pois um conjunto comum de valores e normas culturais pode simplificar a administração e a aplicação da lei. Contribuem também para a formação de uma identidade nacional unificada, que ajuda a promover o orgulho e o sentido de pertencimento entre os cidadãos. Promove a aceitação e legitimação das instituições do Estado, fortalecendo assim a autoridade governamental. Facilita a colaboração e cooperação, elementos cruciais para o desenvolvimento econômico. Promove uma base cultural compartilhada que favorece políticas econômicas e sociais mais coesas. Reduz as tensões étnicas, regionais ou religiosas que poderiam levar à fragmentação do Estado. Igualmente, o senso de pertencimento facilita a comunicação entre os cidadãos e promove uma maior integração social. Fortalecem o espírito de defesa nacional, promovendo a unidade em face de ameaças externas.
Em resumo, o senso de pertencimento, a coesão social e o nivelamento cultural são elementos cruciais na construção e sustentação de estados nacionais, proporcionando estabilidade, identidade e legitimidade, além de contribuírem para o desenvolvimento econômico e a resistência a divisões internas.
Retornando àquela antiga estratégia, “divide et impera”, ela ainda é relevante nos dias de hoje, especialmente em contextos de polarização política e social. A exploração de divisões existentes pode ser usada para desviar a atenção de questões centrais e manter o controle sobre uma população. Apesar de ser uma estratégia eficaz para quem a utiliza, “divide et impera” muitas vezes resulta em consequências negativas para o grupo dividido. A falta de coesão pode levar a conflitos internos, enfraquecendo a capacidade do grupo de resistir a influências externas.
Assim, “divide et impera” é uma expressão que encapsula uma estratégia política e social que visa manter o controle ao incentivar divisões internas. Ao entender essa tática, as pessoas podem ser mais conscientes das dinâmicas manipulativas e trabalhar para promover a unidade em face de desafios externos.
Mas, a questão que nos intriga é: se esta estratégia é antiga e está sendo aplicada nos dias de hoje, como age? Por quem? Que nome tem?
“(…) E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos” (Marcos, 5:9).
De fato, são muitos e seguem ideologias criadas por seres humanos como nós, mas guiados por outros interesses. Para exemplificar seguindo a linha de raciocínio que tomamos, falaremos da cabeça deste polvo, a “Escola de Frankfurt”, e nomear seus tentáculos.
A Escola de Frankfurt, ou Instituto de Pesquisa Social, é uma renomada escola de pensamento crítico que emergiu na Alemanha durante a primeira metade do século XX. Fundada em 1923 como um instituto afiliado à Universidade Goethe de Frankfurt, a escola tornou-se um centro influente de reflexão teórica e pesquisa interdisciplinar. Seus membros desenvolveram uma abordagem única para analisar questões sociais, culturais e políticas, com foco especial na interseção entre teoria e prática.
A criação da Escola de Frankfurt ocorreu em um contexto marcado por mudanças sociais, políticas e culturais significativas na Alemanha do pós-Primeira Guerra Mundial. O grupo original de estudiosos, em grande parte intelectuais judeus, sentiu a necessidade de entender e enfrentar as complexidades das transformações em curso. Com a ascensão do nazismo na Alemanha, muitos membros da Escola de Frankfurt fugiram para os Estados Unidos, onde continuaram suas atividades acadêmicas. Esse período de exílio teve um impacto significativo na evolução da escola, levando a um maior diálogo com intelectuais norte-americanos e uma expansão de sua influência global.
Os principais fundadores da Escola de Frankfurt incluíam Max Horkheimer, Theodor W. Adorno e Herbert Marcuse, entre outros. Cada membro desempenhou um papel crucial no desenvolvimento das teorias críticas e na elaboração de uma abordagem que mais tarde se tornaria conhecida como Teoria Crítica.
A Teoria Crítica é um pilar fundamental da Escola de Frankfurt. Ela busca analisar e criticar não apenas a sociedade e a política, mas também a cultura e a ideologia. Os teóricos críticos argumentam que a compreensão profunda desses aspectos é essencial para a emancipação humana. A Teoria Crítica não estaria limitada à academia; ela visaria promover a transformação social e política. Enfim, quando não se conhecem os reais intentos de um grupo, a propaganda se encarrega de criar fins louváveis e humanitários.
Uma característica distintiva da Escola de Frankfurt é sua abordagem interdisciplinar. Os membros combinaram filosofia, sociologia, psicologia e teoria política para criar uma análise abrangente da sociedade moderna. Isso permitiu que examinassem fenômenos sociais de diversas perspectivas, incorporando influências de Marx e Freud. Interdisciplinaridade, inclusão, diversidade, onde temos ouvido tais promessas?
A Escola de Frankfurt deixou um infeliz e duradouro legado nas ciências sociais e na filosofia. Sua influência pode ser vista em várias disciplinas, incluindo estudos culturais, teoria crítica da comunicação e estudos de mídia. A abordagem interdisciplinar e a ênfase na análise crítica continuam a inspirar gerações de acadêmicos e ativistas em todo o mundo.
A Escola de Frankfurt e o materialismo histórico de Marx compartilham raízes na teoria crítica, mas seguem ramos diferentes. Ambos abordam questões sociais, políticas e culturais, mas enquanto o materialismo histórico de Marx enfatiza as relações de produção e a luta de classes como motor da história, a Escola de Frankfurt expande essa análise, incluindo aspectos culturais e ideológicos na compreensão da sociedade.
A Escola de Frankfurt desenvolveu uma abordagem mais ampla, explorando como a cultura de massa e a indústria cultural influenciam a consciência das pessoas. Eles ampliaram o escopo do materialismo histórico, incorporando elementos psicológicos e culturais na análise social, além de questionarem a alienação cultural e a manipulação ideológica na sociedade contemporânea, ou seja, “acuse-os do que você faz,chame-osdoque vocêé”.
De modo simplificado, o materialismo histórico de Marx se concentra principalmente nas estruturas econômicas e na luta de classes, a Escola de Frankfurt atua na cultura e psicologia das massas. Ambos dizem defender a transformação social, mas diferem em suas ênfases e metodologias.
A implantação da Teoria Crítica na sociedade tem várias consequências que são perceptíveis na atualidade. A seguir destacaremos as que consideramos as mais deletérias. A Teoria Crítica por promover uma certa desconfiança na própria sociedade, muitas vezes questiona e critica a cultura ocidental (seu berço) e os seus padrões morais constitutivos. Isto tem contribuído para a desagregação social, e também para a crescente desconfiança sobre a capacidade da cultura construída através dos séculos de se manter como guia seguro para os passos humanos.
Outro ponto crítico é a fragmentação da identidade nacional. A ênfase na crítica cultural e na criação de narrativas, tem conduzido a novos valores culturais apartados das tradições que são fundamentos das próprias sociedades e que acabaram garantindo-lhes a identidade nacional. Como exemplos podemos citar as mudanças drásticas nas sociedades norte-americana e francesa.
A Teoria Crítica tem dado ênfase e destaque às contradições e às desigualdades existentes na sociedade. Essa análise focada exclusivamente nos elementos que diferenciam os componentes da cultura, distorce questões existentes, como as disparidades sociais, o que tem resultado em conflitos intensificados entre diferentes grupos sociais, exacerbando a desagregação social.
A crítica constante das estruturas sociais existentes, sem propostas claras para alternativas realmente construtivas e sustentáveis, tem levado a um sentimento de desilusão e desengajamento social. Os indivíduos têm se sentido impotentes diante dos problemas identificados pela Teoria Crítica, contribuindo para a desagregação social.
A ênfase na crítica ideológica também tem contribuído para a polarização e fragmentação ideológica na sociedade. Grupos com visões opostas (mas complementares) tem se distanciado cada vez mais, levando a uma desagregação social em termos de coesão e compreensão mútua, tornando cidadãos em torcedores fanáticos.
Tendo sido a Teoria Crítica adotada de maneira abrangente, por segmentos sociais de suposta defesa coletiva ou identitária como: Black Lives Matter, Open Society Foundations, Movimento LGBTQIA+, Movimento Feminista, entre outros, isso tem desafiado as estruturas existentes e posto em xeque o modelo de sociedade em que vivemos e no qual acreditamos. Eis aí os tentáculos que obedecem à matriz do pensamento crítico.
Como dito por Jesus “todo o reino dividido contra si mesmo é devastado”. Este reino está claramente dividido e a sua ruína é iminente. As ideias criadas a partir da Escola de Frankfurt formam um corpo e seu nome é legião porque são muitos os grupos que inadvertidamente se encantam por suas falácias. O que se percebe das últimas décadas em termos de sociedade e cultura é que, sob o belo manto do progresso da sociedade e em nome da igualdade e da inclusão, primeiramente veio a crítica, em seguida a divisão, o que virá em sequência será a inexorável conquista.
Tomando a liberdade de adaptar um aforismo atribuído a Milton Friedman que originalmente diz; “As políticas econômicas devem ser avaliadas pelos seus resultados e não pelas suas intenções”, diríamos então que “As teorias sociais críticas devem ser avaliadas pelos seus resultados e não pelas suas intenções”.
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 36
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