Precisamos tratar da perigosa frase “todo homem tem seu preço”, cotidianamente invocada por revolucionários materialistas sequer foi capaz de convencer o pensador ateu Friedrich Nietzsche, que apontou não ser a frase uma verdade. Curioso pensar que, outrora, ao menos para alguns de seus pensadores, a verdade existia, ao menos quando lhe era conveniente, mas deixo a crítica para outro momento.
A primeira forma de afastar tal pensamento é mencionar que, se todo homem tem seu preço, tal preço já foi pago e, portanto, somo todos livres.
“Vocês estavam mortos por causa das faltas e da incircuncisão da carne, mas Deus concedeu a vocês a vida juntamente com Cristo: Ele perdoou todas as nossas faltas, anulou o título de dívida que havia contra nós, deixando de lado as exigências legais; fez o título desaparecer, pregando-o na cruz”. Colossenses 2:13,14.
Tal frase desmonta-se diante de tal leitura, de forma que, poderia terminar aqui o texto, todavia, convido a uma experiência reflexiva que nos leva por uma longa jornada com o intuito de entender como as coisas se tornaram o caos que nos circunda nos tempos sombrios em que vivemos. Sim, pela falta de fé e sabedoria, mas também pelo ímpeto de muito em acreditar que podemos vender e comprar tudo, ainda que seja a alma humana.
A palavra meretriz significa prostituta ou cortesã, mulher que prática sexo em troca de dinheiro, em uma conotação mais simples, mas sua origem remonta à Roma Antiga, derivando de meretrix do latim, cujo significado era o mesmo, sendo que, há uma pequena diferença entre a prostituta comum, livre ou escrava, que praticada seu ofício diretamente em troca de pagamento, e as chamadas cortesãs, que eram mantidas por um senhor rico, sendo um objeto da luxúria de seu senhor.
Sob a ótica do termo cortesã, meretriz poderia alcançar outras tantas pessoas que fazem do sexo uma forma de auferir lucro ou favores, do famigerado “teste do sofá”, aos casamentos por interesse, passando por agrados a superiores ou qualquer outro meio de corromper a relação que deveria ter outro fim. Nota-se que a relação sexual tem um significado além do simples ato, sendo, para os que conservam sua fé, algo sacro, de maneira que uma meretriz vende, não só o prazer, mas sua castidade, sua honra, ou mesmo, para os materialistas, uma relação de poder, na qual se reafirma que todo homem tem seu preço.
Por mais que o conceito de meretriz até então exposto seja o suficiente para a mensagem central, não é justo limitar tal alcance, posto que, muitos outros podem se enquadrar na proposta de quem negocia sua dignidade em troca de favores, ainda que no âmbito da mera expectativa.
Em verdade, são meretizes os corruptos e todos aqueles que se despiram das virtudes em troca de poder, ainda que seja a mera aceitação dos poderosos. São sim prostitutas os aduladores dos tiranos e cortesãs aqueles que deveriam se opor ao mal, mas preferem beber de sua fonte.
O corrupto
Ávido pelo poder, o indivíduo pode corromper sua existência, entregando sua fé, sua honra e, por derradeiro, sua dignidade em troca de algo que, mesmo momentaneamente, considere vantajoso. Comumente associado à infração penal de igual nome, a corrupção reside na subversão da moral em troca da vantagem. A palavra corrupção deriva do latim “corruptus”, que pode ser ato de quebrar em pedações ou decompor, portanto, o indivíduo que se corrompe necessariamente se destrói.
A corrupção oral antevem àquela definida na lei, sendo que a infração, independentemente da corrupção ativa ou passiva, pretende proteger a coisa pública, proibindo que práticas que possam aferir vantagens em detrimento da atividade estatal. Quando se fala em corrupção moral, dar-se um sentido muito mais amplo, agasalhando, não somente tais crimes, mas outros tantos e condutas que sequer são infrações, mas que devem ser dignas, no mínimo de reprovação.
O corrupto é necessariamente uma meretriz, posto que, dispõe de algo que a outra parte deseja e, ainda que não deva, está disposto a negociar em troca de uma vantagem. Importante frisar que tal poder de barganha está no quão interesse a outra parte tem naquilo que a meretriz tem a oferecer, sendo o corrupto um negociante daquilo que não lhe pertence, mesmo no campo da corrupção moral, ou, mesmo sendo seu, que não poderia dispor.
Calil Simão Neto aponta que,
“‘Corrupção’ significa um ato de desvirtuamento, conceito que traz aspectos negativos, reprováveis ou de desregramento de uma regra social. O conceito de corrupção só existe porque existe um conceito antônimo. Eis a situação de fato que representa o termo “honestidade”. Um ser honesto é um ser decente, que age ou se omite conforme a regra geral ensina”.
Em sistente, o corrupto é a figura diretamente oposta ao honesto, ou seja, aquele que desvirtua a natureza de algo, no caso do meretrício, em busca de alguma vantagem, seja poder, riqueza, favores ou prestígio.
Precisamos retornar ao ponto em que indivíduos prostituem sua fé, honra ou dignidade, está última sempre se dará como consequência inevitável das anteriores, posto que, aquele que conserva sua fé e honra não aceitará negociar a dignidade, todavia, quando se perde as primeiras, restar-lhe-á a última, que fatalmente será perdida.
Saber se é possível alguém prostituir sua fé é simples, basta observar quantos negam suas crenças em troca de vantagens ou de aceitação. Alguém que pretende alterar escrituras ou ritos sagrados, relativizando sua crença em nome de uma “adequação” aos tempos modernos, seja para atrair seguidores, não cabe chamar tais indivíduos de fiéis, ou mesmo, para receber afagos de determinados grupos, como lideranças políticas, minoritários ou, não raros os casos, de agentes da mídia, sem dúvida, prostitui sua fé.
Por outro prisma, a meretriz da honra reside naqueles indivíduos que, tendo um dever moral, abrem mão de sua honra para corromper a sua missão, como um jurista que admite a violação sistêmica dos princípios basilares do Direito, ou mesmo de direitos naturais, em nome de uma ideologia farsante. Substituindo conceitos para tentar adequar o mundo à sua tese despótica, assumindo que a chamada verossimilhança pode substituir a verdade, pois, ao indicar que a verdade é relativa, a maior mentira dos revolucionários, presume que não há distinção entre realidade e interpretação dela, o que se torna ainda mais dantesco quando, em benefício de seu meretrício, passa a considerar que narrativa e a verdade não iguais, tendo em vista que ambas depende da compreensão humana.
O meretrício jurídico já se tronou corriqueiro, de investigações, tese e sentenças que se afastam do Direito para dar ao seu artífice aquilo que lhe agrada, não aquilo que lhe é devido, substituindo a posição jurídica de vantagem pela vantagem jurídica do poder. Os chamados “malabarismos jurídicos”, não são nada além da corrupção jurídica das decisões, em outras palavras, o vilipêndio da honra do jurista em troca de pagamento, seja em dinheiro, poder ou afagos.
Não distante de tal comportamento, temos os profissionais da saúde, que lembram de seu juramento, de forma justa, quando do salvamento de delinquentes, mas o esquecem quando se trata de opor-se à narrativas e ao cartel da indústria farmacêutica, para salvar vidas de um modo geral. Jornalistas que manipulam a notícia de forma acintosa para dar razão àquilo que lhes interessa, lembro aqui que a falácia de uma imprensa imparcial não convence, por isso, não cabe invocar tal mito, entretanto, narrativas que tem como objetivo desinformar para conduzir devem ser alvo de repúdio sempre.
Nem ousaremos tentar mencionar todos aqueles que vendem sua moral diuturnamente no âmbito acadêmico, embora parte deles já foram citados, haja vista que não caberia no presente texto.
As lideranças das chamadas minorias também assumem um comportamento curioso, quando confrontadas, tendem a postura que agrada seus senhores, curvando-se aos interesses dos mestres revolucionários, ainda que isso seja diretamente oposto ao secto que alegam representar. Não por acaso, os autoproclamados bastiões das minorias deixam sua suposta luta de lado quando percebem que esta se torna um óbice aos planos de seus superiores.
No que diz respeito à meretriz que entrega sua dignidade, não pior que os outros, pois renunciar a fé e a honra não deixa de ser negociar a dignidade, posto que, em sua plenitude, é necessário que as duas outras estejam intactas. A fé e a honra são elementos que constituem a dignidade, logo, jamais poderiam ser abaladas.
Portanto, não há como se desfazer da fé, negando aquilo que se acredita, ou da honra, abdicando de sua moral e conservar a dignidade, todavia, existe um limiar que, uma vez superado, faz do indivíduo um ser tão abjeto que é capaz de adular os piores tiranos em nome de sua subsistência mesquinha, como quem invoca, de bom grado, a inquisição para que persiga outrem, por acreditar que está isento em razão de sua vassalagem. Tal figura repugnante ignora que é usado e tão logo seja consumido, será descartado ou mesmo destruído, conferindo poder e adoração ao mal que o engolirá, por achar que a sua subserviência o poupará de um nefasto destino. Mas dessa criatura vil e digna de pena, trataremos mais adiante.
A instituição
Indivíduos podem se prostituir, isso é fato, mas as instituições deveriam se manter imaculadas diante das tentações humanas. Evidente que isso dependeria de dois fatores centrais, que não fossem feitas de homens, o que as tornaria ainda pior, ou, que aqueles que as integram soubessem separar sua missão de seus interesses.
O próprio crime de corrupção se propõe a combater a ingerência dos indivíduos nas instituições, mas como, em regra, não há quem vigie os vigilantes, é no topo da cadeia que o mal se torna inalcançável pelos comandos legais que buscam impedir que homens corrompam instituições. Uma instituição só se torna uma meretriz quando, no cume de sua hierarquia encontram-se as mais devassas das prostitutas, capazes de vender, não só seus favores, criando uma pútrida teia de corrupção.
Seres despersonificados podem se prostituir, mas sempre pela obra humana, basta observar quantas são as empresas que se submetem aos desmandos de tiranos ou acolhem demandas de revolucionários para receberem o “selo de aprovação”, ainda que isso seja prejudicial à existência da mesma. Lamentavelmente, tal prática tem se tornado cada vez mais comum.
Por outro lado, são as instituições públicas que preocupam, pois essa acabam aderindo posturas diversas daquelas para qual forma criadas e, como fator agravante, dissonante daquilo que os cidadãos em geral esperam delas, subvertendo o sentido de sua existência e contrariando a vontade daqueles que são seus verdadeiros senhores.
Há muito, as autoridades se assenhoraram das instituições e deixaram de servir ao público para se ser dele. O simples fato de uma instituição servir aos seus membros, deixando de lado sua real missão é se deteriorar, se corromper e, portanto, se prostituir. Embora a Schutzstaffel tenha nascido podre, sendo uma força paramilitar do Partido Nacional-socialista, a Wehrmacht surge da corrupção da Reichswehr, as forças de defesa da República de Weimar, logo, poder-se-ia assumir que está última não se pretendia servir aos anseios totalitários, contudo, se contaminou quando os nazistas chegaram ao poder.
Uma instituição que não se presta ao povo e a sua missão torna-se uma meretriz e aqueles que estão no topo desta são, nada além de uma somatória de, prostitutas e rufiões que negociam sua existência e a de todos que os cercam. O mal oferecerá a isca que puder para cooptar o máximo de almas que puder, portanto, como na compreensão de Nietzsche, sempre conseguirá aquilo que pretende, pois aposta, assim como o pensador, que todo homem cairá perante uma boa isca.
Ao corromper uma instituição, o poder se irradiará por ela e através dela para alcançar, cada vez mais, indivíduos disposto ao meretrício.
O auge
Não podemos olvidar que aquele que negocia, oferece algo que o corruptor deseja, logo, quem se prostitui, entrega algo que alguém busca. Tal demanda exigirá uma oferta, como qualquer relação de troca, ainda que honesta.
A meretriz deve entregar algo que sirva de barganha para cobrar seu preço, como o prazer no teste do sofá, ou o apoio dos membros de uma minoria que uma de suas lideranças é capaz de canalizar em favor daquele que o recompensa. Da luxúria ao poder, passando pelo dinheiro e o capital política, não se reduzindo ao voto, a meretriz negocia com o poder, mas, não sendo uma relação honesta, sendo corrupta, seu valor sempre será uma ilusão.
A bela atriz que consegue o papel estando aquém de desempenhá-lo pode oferecer algo que o responsável pela obra de arte quer, bem como, aquela autoridade que tem o poder abrir ou fechar portas aos que estão dispostos a atendê-la. No seu auge, a meretriz cercar-se-á de adoradores dispostos a comprar seus falsos talentos.
Um líder de minoria, ou qualquer outro grupo, que consegue tocar seu rebanho na direção em que quer, fazendo de seus seguidores uma horda feroz contra seus desafetos ou amáveis vassalos de seus aliados, receberá o tratamento fraterno dos revolucionários. Um influenciador, ou um grupo de mídia, tem seu poder de barganha conforme a sua capacidade de convencimento, ainda que seus seguidores sejam guiados por “belas mentiras” e, devido à insuficiência cognitiva, totalmente incapazes de discernir narrativas de verdades, atraem o interesse a medida que podem fazer com que indivíduos assumam posturas conforme seus comandos. Não por acaso, cada vez mais observamos modas que são imposições de uma mente central aos desavisados, de “desafios” aos mais estranhos comportamentos, são artificialmente inseridos no imaginário para comprovar o quão influente a mídia pode ser.
A decadência
A meretriz que já não mais atrai seus pretendentes se vê relegada ao ostracismo, sendo substituída por alguém cujo o tempo não tenha lhe tirado a beleza fugaz e vulgar, como a pouco talentosa atriz que vê outra figura ocupando o sofá em que exercerá seu poder de barganha, restará abandonada assistindo seus velhos filmes ou, em uma situação ainda pior, buscará fama se colocando como vítima de um déspota abusador, que, infelizmente para a velha atriz, estará nos braços de uma nova cortesã.
Não raro são as autoridades que, após despidas de seus poderes, parecem voltar ao seio da humanidade, como Belerofonte caído que procura seu cavalo alado sonhando em retornar à glória que um dia experimentará. Possuída pelo amargo sabor da realidade, a meretriz perceberá, tarde demais, que foi instrumento usado pelo seu tirano senhor para que deteriorar o mundo.
A velha meretriz tornar-se-á uma cafetina, escorada em bengalas que nada mais são que lembranças de um passado que acreditava glorioso, ou perceberá ser, na melhor definição, uma idiota útil que serviu ao mal enquanto este lhe bebia a alma, tornando-se, ao final um trapo inútil.
As instituições também pode ter o mesmo destino, uma vez que, solapada por seus próprios membros, que se assenhoraram da mesma, acaba por servir ao interesse de tiranos ao passo que se decompõe, se destruindo ao final, restando sua bengala, como existir por força de um diploma legal, ainda que sendo uma instituição imprestável e desacreditada, ou mesmo, sendo destruída pelo abandono, não antes de causar o mal.
A subserviência daqueles que adulam tiranos lhes custará a dignidade e, quando forem apenas meretrizes decadentes em um fétido e abandonado cabaré a procura de migalhas, vangloriar-se-ão de tudo esmolando por mais daquilo que os corroeu a alma, implorando por tempos que jamais existiram e que, por isso, nunca voltarão, como se tivessem real importância. Nunca tiveram a liberdade como norte, nunca foram verdadeiros consigo mesmos, nuca foram realmente vivos.
Artigo de capa da Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 32