O antissemitismo

O antissemitismo

O antissemitismo e os erros da cristandade

“Não que a Palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas” (Romanos 9:6)

Em algum momento da história, parte dos religiosos da cristandade começou a atacar os judeus com o argumento de que eles mataram Jesus. Isso criou um imbróglio histórico de proporções inimagináveis, que serviu de matéria-prima para a criação de dezenas de teorias absurdas e teses psicóticas que tinham – e ainda tem – como pano de fundo jogar o mundo contra o povo que Deus escolheu para revelar seu plano de salvação para a humanidade.

Isso poderia ter sido resolvido com uma leitura dos primeiros “pais” da igreja. Falo os PRIMEIROS, mesmo, e não os mais famosos, como Tertuliano, Orígenes, Justino ou Agostinho. Mas os dos dois primeiros séculos, como Clemente, Taciano, Atenágoras e Teófilo de Antioquia. Em nenhum desses apologistas há sequer uma linha que sugira a acusação que passou a ser perpetrada a partir do século V. E isso deveria parecer óbvio: o surgimento, dentro da cristandade instituída, de um movimento para separar o verdadeiro cristianismo de suas raízes invariavelmente judaicas. Os motivos são tantos que não caberiam em somente uma postagem. Mas são de ordem teológica, eclesiástica, geopolítica, econômica e, principalmente, espiritual. Basta comparar o modo como Jesus Cristo exercia sua fé, o que veio depois dos Evangelhos, nos demais 23 livros do Novo Testamento, e a prática cristã dos fiéis dos dois primeiros séculos, com o que se tornou o cristianismo depois disso.

Jesus Cristo deixou uma igreja com 120 pessoas reunidas em um cenáculo, orando. E certamente muitos outros seguidores que preferiram a discrição e o anonimato, como, por exemplo, José de Arimateia e o Centurião de Cafarnaum. Ele nunca negou sua raça, sua nacionalidade ou sua confiança em “Moisés e os profetas” (Lucas 16:29). Nunca propôs fechar as sinagogas ou acabar com as orações que eram feitas no Templo. Não foram os JUDEUS que mataram Jesus, mas sim os nossos pecados, porque essa era a missão dele desde o dia em que deixou os céus.

Mas mesmo que essa explicação não convença, é só ler as Escrituras e deixar de tomar em separado João 1:11, “Veio para o que era seu, e o seus não o receberam” e fazer disso uma espécie de doutrina universalista descontextualizada. É fácil explicar:

Ele sabia ou não que isso aconteceria? A resposta é óbvia. E sabem por que isso está registrado assim na Bíblia, exatamente desta forma? Para confirmar o cumprimento de profecias dadas ainda no Antigo Testamento, onde Deus revelava que em um dado momento abriria uma “porta” para salvar um povo que não era Israel, seu primogênito.

Esse “os seus” se refere a quem? Certamente que não é à Maria, à Madalena, aos seus discípulos, seguidores e convertidos. Já deu uma lida em João 7:5? Vai lá, pode ser revelador. Mas ainda assim temos uma situação até certo ponto previsível nas Escrituras: Deus quase sempre não está do lado da maioria. Foi assim na época de Ninrode, de Noé, de Moisés, de Daniel, de Jeremias… Sempre foi assim, porque “o mundo inteiro jaz no maligno” (I João 5:19). Sabe aquele ditado que diz que “a voz do povo é a voz de Deus”? É falso. E acabou servido de pretexto para o estabelecimento de formas de governo falsas e diabólicas.

Os agentes da morte de Jesus foram dois: a elite fundamentalista de Israel (em especial os fariseus), mergulhada naquele momento em corrupção, e o poder ditatorial de Roma, com quem se relacionava de forma pouco ortodoxa. Ambos viram em Yeshua uma ameaça ao seu status quo e resolveram eliminar a ameaça da forma mais sórdida possível. São deles que o texto abaixo fala. Eram de Israel, mas não eram verdadeiramente israelitas. Jesus os chamou de filhos do diabo (João 8:44). Não foram “OS JUDEUS” que mataram Jesus. Isso é de uma construção absolutamente desonesta.

Os “demônios da história” viram aí uma deixa para manipular a narrativa em proveito próprio e criaram o maior espantalho teológico da história: os judeus são maus porque mataram Jesus. E daí se percebe o que na verdade eles queriam fazer. Basta dar uma volta em Jerusalém para ver, in loco, quem são as forças que fatiam a cidade e os principais locais de culto e peregrinação para lucrar com isso. Está lá, ao vivo e a cores. O que Roma tem a ver com Jerusalém?

A farsa antissemita foi tão bem costurada que podemos ver suas pegadas até na Reforma Protestante, basta procurar os textos pouco elogiosos que Lutero escreveu sobre os judeus, e que acabaram influenciando várias gerações no Velho Continente. Farsa que alimentou documentos criminosos como “Os Protocolos dos Sábios de Sião” e as trocentas mentiras contadas sobre Israel desde o final do século XIX, e que culminaram no Holocausto, construído sobre os argumentos diabólicos de Hitler e expostos sem nenhuma cerimônia na sua obra “Mein Kampf” (Minha Luta, escrita no início dos anos 20, e que ataca ferozmente os judeus alemães, fossem eles imigrantes ou não. É dessa época que se consolida o mito do judeu narigudo, de expressão maligna, sempre esfregando as mãos à procura de lucro, tal qual uma sombra caricaturada do personagem Emmanuel Goldstein, o “Inimigo do Povo” de “1984” de Orwell, que era usado pelo Partido para provocar e alimentar o ódio de seus comandados.

O problema é que nada disso mudará o plano do Eterno

Israel continuará sendo a “oliveira original” (Romanos 11) e os cristãos salvos no judeu Yeshua, os ramos enxertados nela, porque nunca foi aspiração do Evangelho se separar ou ser hostil às suas raízes, como observa o apóstolo Paulo em Efésios 2:14-15. Dá uma lida. As resposta para as coisas de Deus estão em sua Palavra. E somente nela.

E antes que eu me esqueça:

“Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam” (Salmo 122:6).

Texto publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II n.º 35

Leia também: NOSSAS CRIANÇAS SÃO UM ALVO

Sobre o autor

Neto Curvina

Ministro do Evangelho, teólogo, escritor e educador

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

BIOGRAFIA

Leandro Costa

Servidor público, advogado impedido, professor de Direito, Diretor Acadêmico do projeto Direito nas Escolas e editor-chefe da Revista Conhecimento & Cidadania.

Defensor de uma sociedade rica em valores, acredito que o Brasil despertou e luta para sair da lama vermelha que tentou nos engolir. Sob às bênçãos de Deus defenderemos nossa pátria, família e liberdade, tendo como arma a verdade.

É preciso fazer a nossa parte como cidadãos, lutar incessantemente por nosso povo e deixar um legado para as futuras gerações. A política deve ser um meio do cidadão conduzir a nação, jamais uma forma de submissão a tiranos.

FALE COMIGO

Escreva sua mensagem aqui. Dúvida, ideia, critica.