Juntando os cacos

Juntando os cacos

A sabedoria dos antepassados pode ser observada em sua cultura e tal legado deve ser sempre invocado, pois, de nada serviriam mitos, fábulas, obras de ficção ou mesmo pensamentos senão para dar às civilizações posteriores formas de assimilar conhecimento sem ter a experiência, por vezes danosa, que seus antepassados vivenciaram. No século XXI, a defesa de regimes totalitários, especialmente o socialismo, causa grande espanto, uma vez que, o século anterior deveria servir como experiência para que a humanidade rejeitasse, de pronto, que tais regimes sequer existissem.

O nazismo e o fascismo, merecidamente, foram colocados no seu devido lugar, a lembrança daquilo que se pretende evitar, entretanto, o socialismo, mais amplo e adaptável, consegue sobreviver no imaginário dos loucos revolucionários e, ainda pior, contaminar grande parte dos incautos. Evidente que o nazismo e socialismo supracitados são os reais, não englobando aquele rótulo falso que os revolucionários tentam colar em qualquer um que se oponha a sua intenta nefasta.

O movimento revolucionário, que busca distorcer a realidade de forma autoritária e, supostamente, coletivista, é o embrião do socialismo que, por sua adaptabilidade, deu origem ao comunismo, ao nazismo e ao fascismo, todavia, diante do fracasso dos dois últimos, tratou de transferi-los ao espectro opositor, criando a narrativa frágil, mas constantemente reafirmada, que tais ideologias coletivistas estariam no espectro político que prima pela liberdade individual e a manutenção das tradições, o que seria um contrassenso, dada a necessidade revolucionária em romper in totum com o status quo.

A história nos ensina de acordo com aquilo que foi vivido e os mitos serviam para dar exemplos mesmo em se tratando de uma experiência hipotética, como o caso das renomadas obras 1984, e A Revolução dos Bichos (Animal Farm) de George Orwell, em que o autor britânico apresenta duas experiências ficcionais para ilustrar a vigilância exacerbada dos regimes totalitários e como a elite revolucionária, ao ocupar posições de poder, tende a se tornar tirana, considerando-se mais que os outros.

Por tal razão, sempre é importante buscar aprender através do legado daqueles que nos antecederam, seja por experiências vividas ou por contos que aduzem hipóteses. Os ideais revolucionários deveriam ser prontamente rechaçados pela sociedade atual com base em ambas as fontes, uma vez que, o nazismo, o fascismo e o socialismo se mostraram como erro que não devemos repetir, no caso do socialismo, ainda é possível que seja contemplado como um mal em curso, portanto, a reprovação de tais regimes deveria ser uma regra. Por outro lado, obras como as supramencionadas nos dão base argumentativa mais que suficiente para resistir tais ideologias, haja vista que, a simples imaginação de um mundo dominado pelo totalitarismo coletivista revolucionário deve ser encarada como alerta do perigo que tais regimes significam.

A sobrevivência humana e de seus valores depende de fatores que não são superficialmente perceptíveis, sendo, por vezes, necessário recuar diante do mal que por ora não se pode confrontar, sobre pena de não mais poder defender aquilo que se acredita. O martírio é sim grandioso e deve ser encarado como uma forma de defesa irrenunciável de valores, entretanto, ao mártir inconsequente, que se sacrifica sem necessidade real, não restará glória por seu sacrifício, mas a perda de seu esforço em vão.

Ainda que os ideais daquele que enfrenta um inimigo de maior força sejam nobres, se o fizer de forma impensada sofrerá uma derrota sem frutos, sendo seu martírio nada além de um suicídio tolo, evidente que sem a reprovação que se destina àquele que, deliberadamente, abriu mão do dom da vida pela fraqueza, caso em que o pecado é inegável. O chamado suicídio tolo, na verdade é uma vã tentativa de marcar o nome na história através de um martírio inútil.

Na mitologia grega há o mito de Tifão, talvez a mais forte e feroz criatura de todos os contos daquela civilização, que apesar de apresentar diferentes versões, ensina que há males que não podem ser encarados de peito aberto, sendo necessário recuar e analisar o que fazer antes de combatê-lo.


Antes da criação de tal besta mitológica, os deuses do Olimpo, liderados por Zeus, enfrentaram a geração que os antecedera, os titãs. A guerra entre os aliados de Cronos, líder dos Titãs e seus descendentes ficou conhecida como Titanomaquia, os deuses do Monte Olimpo e os titãs do Monte Órtis enfrentaram-se, segundo a lenda, por aproximadamente dez anos e, ao final, os olimpianos sagraram-se vencedores.

Os filhos do titã Cronos, agora reinando sobre o universo, dividiram, entre si, os céus, os mares e o submundo, tornando-se seus respectivos senhores, Zeus, Poseidon e Hades, restando àquele que recebeu os céus como domínio, reinar sobre todos os demais deuses, ocupando, portanto, o trono do Monte Olimpo. Zeus se tornara o senhor dos deuses e confinou os titãs no Tártaro, um lugar abaixo do submundo no qual apenas aqueles que mereciam o castigo além da vida eram encaminhados.

Tártaro é o nome de um deus primordial e também do lugar em que os castigos são aplicados aos condenados, assim como Hades que dá nome ao submundo e à divindade que o governa, o Tártaro também pode ser utilizado com ambos os sentidos. Inconformada com o destino de seus filhos, os titãs, Gaia decidiu se vingar dos olimpianos, em especial de seu neto Zeus, gerando um filho com o deus primordial Tártaro, senhor daquelas terras em que os titãs foram jogados.

Da união entre Gaia e Tártaro surgiu a criatura mais feroz e forte que podiam conceber, Tifão era uma figura tão devastadora que permaneceu trancada nos domínios de seu pai até que tivesse força o suficiente para cumprir os desígnios de sua vingativa mãe. O mito descreve-o como uma figura monstruosa capaz de intimidar até mesmo os deuses do Olimpo, pois narra que sobre seus ombros havia cem cabeças de serpentes, seus braços tocavam o ocidente e o oriente e era tão alto que tocava as estrelas.

A primeira lição do mito de Tifão pode ser encarada como a preparação do mal, na qual a criatura, apesar de monstruosa e de proporções colossais, permanece escondida dos olhos de seus inimigos até que tenha força suficiente para destroná-los, de forma que, podemos aprender que, o verdadeiro mal manter-se-á à espreita até se considere capaz de subjugar seus oponentes. Os regimes totalitários, em regra, tentam esconder sua natureza autoritária até que consigam constranger os indivíduos para que se curvem à sua vontade, por isso, seus agentes tentaram imprimir uma narrativa de que lutam contra a ditadura ou imperialismo até que se sintam confiantes e avancem sobre as liberdades do povo.

Os falsos defensores da democracia que desejavam implantar uma ditadura que, também de forma mentirosa, dizia-se do proletariado, quando, em verdade, era de uma elite socialista que nada tem a ver com a classe trabalhadora, usando apenas o chavão de lutar por oprimidos para ganhar força política. Assim fazem os defensores das pautas identitárias, que, não se importam com os desejos esquizofrênicos de suas hordas, mas usam-nas para galgar o poder e os abandonaram assim que perceberem que tal secto perdera sua serventia.


Quando Tifão emerge do Tártaro, tal criatura já está em condições de confrontar os olimpianos, não lhes sendo facultada a oportunidade de cortar o mal pela raiz, tendo em vista que ignoravam a existência de um mal tão grande. Assim como algumas forças que foram gestadas em segredo, por vezes tendo sua existência negada após alguém a denunciar, como o Foro de São Paulo, tão logo alcançado o patamar que lhe confira usar o poder, assumir-se-á como a naturalidade de quem nunca negou sua existência, orgulhando-se de sua natureza outrora encoberta por se tratar de algo abjeto, mas, que, diante da força que conquistara na obscuridade, pode calar qualquer um que se levante para combatê-la.

Quando, finalmente, Tifão se dirige ao Monte Olimpo, morada de seus inimigos, os deuses que, amedrontados pela figura ameaçadora, fogem para terras distantes, restando apenas Zeus, Atena e Dionísio, contudo, há versões em que o último deles também deixa o Olimpo junto aos demais deuses. Não é relevante discutir se Dionísio partira ou ficara, pois, em nenhuma versão ele se opõe a criatura, sendo certo que, na versão em que permanecera no Olimpo, Dionísio apenas sobrevivera sem defender os deuses, logo, deixou de ser um problema para Tifão.

Atena, que segundo o mito, era destemida demais para deixar o Olimpo, nada fizera para confrontar a fera, deixando que Zeus lutasse sozinho em defesa de seu trono, entretanto, no primeiro confronto, Tifão saíra vitorioso, resistindo aos raios do senhor do Olimpo e desmembrando-o como forma de punição e, principalmente, de estabelecer seu domínio, reinando assim sobre todas as coisas. A criatura era imbatível e ninguém além de Zeus era capaz de confrontá-la, mas o senhor dos deuses estava sem o seu poderoso raio e desmembrado, portanto, incapaz de levantar-se contra um mal tão poderoso.

Há versões diferentes que atribuem a Cadmo tal feito, entretanto, a maior parte dos autores atribuí ao deus Hermes, mensageiro dos olimpianos, o resgate do raio e dos membros do senhor do Olimpo. Segundo o mito, na versão que consideraremos, o deus mensageiro fugira junto de seus pares para terras distantes, a princípio o Egito, deixando que Zeus confrontasse sozinho a temida criatura, entretanto, Hermes usara de um artifício em favor dos olimpianos, fugindo em um primeiro momento para, só depois, resgatar os restos de Zeus, bem como, o poderoso raio, dando ao senhor do Olimpo a chance de um revanche face seu algoz.

Não fosse pela perspicácia Hermes, os olimpianos restariam derrotados e Tifão tornar-se-ia o senhor do mundo, reinando sobre todas as coisas, haja vista que, segundo o mito, era uma besta impossível de ser confrontada. Foi o deus mensageiro quem realmente deu aos deuses do Olimpo a chance, através da força de Zeus, de confrontar mais uma vez a feroz criatura e, usando da astúcia, vencê-la.


Hermes, assim como os demais deuses, poderia ser tratado no mito como um covarde que, na presença de Tifão, preferiu a fuga ao confronto, deixando que o mal vencesse em um primeiro momento. Sob o risco de lhe cair a pecha de um fraco que foge do mal em vez de confrontá-lo, o deus mensageiro deixou, cabisbaixo, a sua morada, como um frouxo diante da desolação, entretanto, a corajosa Atena nada fez além de instigar que seu pai enfrentasse o monstro, mantendo a postura de quem não recua diante do mal, por mais que nada tenha feito de fato.


Ao juntar os cacos do mais poderoso dos deuses olimpianos, ou seja, os membros e o raio de Zeus, Hermes salvara seus pares da destruição ou da submissão, pois, soube o momento de recuar para agir quando o momento oportuno chegasse, demonstrando grande sabedoria, Hermes esperou que o mal triunfasse para derrubá-lo sem que o próprio deus tivesse de empunhar a espada, apenas resgatando aquele que, embora destruído, podia vencer Tifão em uma batalha.


Outro ponto no mito de Tifão que não é pacífico trata da forma como Zeus derrota tal criatura, pois, para alguns o senhor do Olimpo vence a besta usando a força de seus raios, entretanto, há uma versão que aponta ter o mestre dos olimpianos contado com a ajuda das parcas, criaturas que controlavam o destino de homens e divindades, raramente se envolvendo em embates de qualquer natureza, uma vez que, sua neutralidade era necessária para que o destino não se curvasse aos anseios de quem quer que seja. Qualquer semelhança com um Judiciário passivo e afastado das questões políticas não é mera coincidência, a interferência das parcas não deve ser confundida com uma ação parcial, ou mesmo passional, de um Poder ou órgão que deveriam permanecer inertes, sob a alegando que estariam “salvando a democracia”, pois como é sabido, as parcas não desequilibraram o destino quando havia uma luta natural entre titãs e deuses pelo poder, somente o fizeram, quando o usurpador era uma besta que sequer deveria reclamar o trono. Como se o Poder Judiciário ou as Forças Armadas agissem contra a ditadua que se instalou na Venezuela pelo meio da força, caso em que se justificaria uma reação, haja vista que, a chamada ruptura institucional já ocorrera.

Na versão na qual Zeus conta com a ajuda das parcas, tais criaturas oferecem maças envenenadas a Tifão que tem seu poder reduzido consideravelmente, permitindo assim que Zeus o vencesse em um confronto direto. Assim, diante da perspicácia de Hermes e da ajuda externa das parcas, o senhor do Olimpo teve a oportunidade de vencer a fera e recuperar o trono dos deuses.

Tifão foi aprisionado no Monte Etna, na Sicília, e, as lavas daquele vulcão são atribuídas à sua fúria.

A segunda lição do mito de Tifão é que, algumas vezes, aquele que parece se acovardar, como Hermes fizera, está apenas recuando para pensar em um contraataque, pensando em uma medida futura que poderá surtir maior efetividade que um simples ataque franco e imprudente, por isso, o deus mensageiro não pode ser tratado como um covarde, mas como um estrategista que ganha tempo e volta para, no futuro, derrotar o mal que parecia invencível em um primeiro momento.

Por outro lado, Atena, que assumiu postura corajosa, nada mais fez que emular um heroísmo vazio que em nada ajudou os olimpianos, sendo uma ação que, no máximo, lhe rendeu a admiração daqueles que não puderam ver com maior sobriedade o que realmente ocorrera.

Zeus, mesmo não tendo recuado, foi ensinado que há momento em que a sabedoria é mais importante que a força bruta, pois, sem a ajuda de Hermes, jamais derrotaria Tifão, bem como, teve de contar com um período de exílio na atual Síria, quando recuperava suas forças, e a ajuda das parcas para que o poderoso monstro enfraquecesse.

A mitologia nos ensina que medidas populistas como a de Atena, podem até sinalizar coragem, mas são inócuas diante de um grande mal, posto que, em que pese Zeus tenha confrontado Tifão em razão dos questionamentos de sua filha, não foi por conta deles que saíra vitorioso. Além disso, ensina que Hermes preferiu deixar de enfrentar diretamente o monstro ou instigar que outrem o fizesse para preparar uma revanche na qual Zeus poderia ter uma chance real de vitória.

Por fim, Zeus precisou se socorrer das parcas para reduzir os poderes do inimigo e, só assim,
derrotá-lo.

O cenário atual é bem parecido com o mito de Tifão, considerando que o mal que se pretende combater é inequivocamente forte, talvez a descrição do monstro sirva para ilustrar o quão poderoso é o movimento revolucionário, sendo necessário, por vezes recuar e juntar os cacos para contra-atacar em um momento propício. Evidente que alguns preferiram posar como Atena, corajosa e inútil diante do mal que tomava o Olimpo, mas há quem saiba seu verdadeiro papel e veja que Hermes foi que, realmente, salvou os olimpianos naquele episódio.

Há momentos que o heroísmo reside em retroceder para avançar quando oportuno e outros que alianças precisam ser costuradas, contudo, o que diferencia um herói de um covarde é não renunciar, em seu íntimo, seus valores.

Quando tudo parecer perdido, devemos manter a frieza para juntar os cacos e quando tivermos a oportunidade lutarmos com todas as forças.


“Triunfam aqueles que sabem quando luar e quando esperar” Sun Tzu – A Arte da Guerra.

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Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 50 edição de janeiro de 2025 – ISSN 2764-3867

Sobre o autor

Leandro Costa

Ideias conservadoras estão mudando o Brasil Todas as faces da esquerda, do socialismo mais radical à social democracia levaram nosso país para as trevas, destruíram a moral dos cidadãos e acabaram com os valores. Os conservadores estão tentando, desesperadamente, tirar o Brasil deste caos. Precisamos unir nossas forças enquanto é tempo de salvar nossa nação. Meu nome é Leandro Costa criei este site para divulgar ideias, trabalhos e contar com você para me ajudar a mudar o Rio de Janeiro e talvez o Brasil. Pretendo usar meus conhecimentos para, de fato, ajudar na construção de um mundo melhor. Convido você a fazer parte do meu time de apoiadores, amigos, entusiastas e todos que acreditam em minhas ideias. Defendo o conservadorismo e conto com sua ajuda para tirar o nosso povo da lama que a esquerda nos colocou.

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BIOGRAFIA

Leandro Costa

Servidor público, advogado impedido, professor de Direito, Diretor Acadêmico do projeto Direito nas Escolas e editor-chefe da Revista Conhecimento & Cidadania.

Defensor de uma sociedade rica em valores, acredito que o Brasil despertou e luta para sair da lama vermelha que tentou nos engolir. Sob às bênçãos de Deus defenderemos nossa pátria, família e liberdade, tendo como arma a verdade.

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