A Guerrilha, O Rei de Espadas
A quarta elite global
As três elites globais apresentadas por Olavo de Carvalho assumem posturas claras em sua busca pela hegemonia global, por tal razão, evitar o termo globalista, nos artigos anteriores não foi mero acaso, uma vez que, embora a elite financeira e intelectual seja conhecida amplamente como globalista, justamente pela sua forma de se inserir na sociedade, permeando através do poder econômico e da cultura, sem dissociar uma da outra, torna-se uma força que caminha pelas sombras, buscando impor suas teorias ao asso que negam sua existência, fazendo com que os mais desavisados acreditem que determinadas políticas como a ESG surgem de forma orgânica, quando é evidente que sua construção é orquestrada por um centro nervoso, o qual podemos denominar com Torre de Marfim.
Ao chamar a elite financeira e intelectual de globalista, o que por vezes o próprio Olavo de Carvalho fazia, associa-se tal elite a sua forma sorrateira de tomada do poder, pois, a maior arma de tal força é a criação de um governo global que não se submeta ao escrutino, ou seja, não preste contas de suas ações aos indivíduos. É fácil exercer o poder quando não se pode ser questionado ou cobrado por suas ações e a elite financeira e cultural pretende fazê-lo através de governos supranacionais não eleitos, haja vista que, alimenta a crença de que há uma necessidade de um poder maior, capaz de impor barreiras e conduzir toda a humanidade à salvação, por isso, tal elite foi relacionada ao naipe de Copas, que traduz a fé dos indivíduos, não no sentido ideal da palavra, mas no sentido de uma elite que dissuade através de crenças artificialmente inseridas no imaginário da sociedade, em especial, o relativismo.
Olavo de Carvalho batizou a tal grupo como elite financeira e intelectual justamente por saber que as demais também possuem características daquilo que podemos chamar de globalismo, em síntese, temos os globalistas em sentido estrito, que é a alcunha dada a elite financeira e intelectual, bem como, os globalistas em sentido amplo, uma vez que eurasianos e jihadistas também pretendem impor um governo global.
Os jihadistas acreditam na criação de um Califado, no qual o islã reinará sobre toda a terra e por isso, não podem ser ignorados como uma elite globalista, posto que, através daquilo que consideram como uma estirpe nobre herdeira do profeta Maomé, transliteração de Muhammad, por isso, tal elite fora associada a nobreza do naipe de Ouros.
Por sua vez, os eurasianos também pregam, através da teoria de Alexander Dugin, que a chamada Mãe Rússia deverá guiar os homens a um futuro melhor, apontando que os povos do “centro da terra” devem seguir o chamado de liderar a humanidade e afastar o poder daqueles que ameaçam sua hegemonia. Não somente a Rússia, mas China, Irã e mesmo a Alemanha teria papel fundamental na condução história, uma elite que considera a linhagem como fator essencial, alimentando-se da longínqua rivalidade entre ocidente e oriente, por tal razão, foi representada pelo naipe de Paus, que simboliza o povo como centro.
As três elites são globalistas à sua maneira, buscando subjugar todo o mundo aos seus propósitos, todas se associam e se repelem a medida que consideram a outra, respectivamente, como parceira ou rival. Cabe observar que tal efeito não é algo estático, como por exemplo, uma elite se aproximar da outra por comungarem de ideais ou rechaçar uma terceira que almeja o poder total, tento em vista que, como as três anseiam o controle absoluto, a aproximação tem o condão de aproveitamento momentâneo e a rivalidade está na natureza das três, sendo, portanto, ignorada conforme a necessidade em superar algum obstáculo.
Um bom exemplo é a China, que na busca pelo desenvolvimento, agasalhou a indústria ocidental, tornando-se um parque fabril para a elite financeira e intelectual, para a ditadura oriental era a oportunidade de enriquecer o Estado, em verdade o Partido, e subtrair tecnologias que poderiam ser úteis, fazendo de sua mão de obra barata, escrava do governo, um atrativo que a elite financeira não poderia recusar. A elite financeira precisa do poder econômico para sufocar qualquer um que a ele se oponha, o que o “dragão asiático” oferecia, entretanto, alimentava a fera que esperava a oportunidade para dar o bote, assumindo o controle assim que possível.
Outra parceria entre elites é o caso do abastecimento energético da Alemanha pela Rússia, através da rede de gasodutos Nord Stream, termo que aqui abrange os dois gasodutos. O sistema abastecia um país da União Europeia e flagrantemente inclinado às políticas da elite financeira e intelectual, dominante no ocidente, com gás advindo da potência eurasiana, permitindo que a Alemanha pudesse levantar a bandeira da energia limpa frente aos países emergentes, uma vez que, não se trata de um país responsável pela produção de combustíveis fosseis, tão atacados pela agenda da elite financeira, entretanto, comprava o gás da Rússia, terceirizando assim a “culpa pela degradação ambiental”. De forma resumida, o governo alemão, ciente de ser incapaz de cumprir as regras que pretendia impor aos demais países, transferia para a Rússia o fardo de ser um grande “vilão” ambiental em troca de considerável soma, por sua vez, o país eurasiano, despreocupado em relação às políticas ditas ambientalistas, recebia de bom grado tais valores.
Antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, a parceria era benéfica para a Alemanha, haja vista que, podia posar de nação preocupada com as causas ambientalistas, garantindo seus aplausos enquanto escondia sua hipocrisia no fundo do Mar Báltico. Mais um caso de relação proveitosa para ambos os braços de elites distintas, que naturalmente, serve aos interesses de ambas, mas não aplaca a rivalidade na corrida ascendente ao trono do mundo.
Há como trazer muitos outros exemplos, entretanto, todos só ratificarão o fato de que as três elites globais se unem quando a aproximação é benéfica a suas metas, mas todas guardam em seu consciente que as outras duas elites são necessariamente concorrentes no que diz respeito ao poder hegemônico sobre o mundo.
Emerge então aquilo que chamaremos de quarta elite global ou “subelite” global, considerando que está abaixo das demais, gozando de menor independência e reconhecimento, por isso, precisa curvar-se constantemente às já consolidadas três elites estabelecidas no topo do mundo. Enquanto as três elites globais se associam para aniquilar quaisquer ameaças e lutam pelo controle absoluto do poder, a quarta tenta se colocar ao lado das demais, buscando obter o poder de barganha ao passo que se utiliza dos métodos aplicados por aquelas.
Sendo uma força em ascensão, não por mérito, a quarta força é a guerrilha que ocupou as trincheiras deixadas pelos demais que se ocupavam em manter suas bases estratégicas e avançar suas agendas. Tratando-se de uma força bem mais amorfa, que, marginalizada no cenário geopolítico, alcançou o poder pela força do caos, por isso, seus soldados da danação formaram a nefasta tropa da destruição que permitirá a revolução, sendo o exército bestial e desorganizado que se harmoniza de forma muito mais inconsciente que as demais elites e, por isso, tão perigoso.
Nada melhor para representar uma força aparentemente caótica com metodologia multifacetada, empregando elementos das demais elites que compreender como proveitosos à sua intenta. Uma elite que se porta com vassalagem perante as demais, almejando seu lugar no topo do mundo e sem saber como fazer para ocupá-lo, deixando-se, portanto, ser guiada por líderes transloucados ou pela massa acéfala que absorve narrativas inconstantes com base na “ilusão da verdade”, método defendido e utilizado por Joseph Goebbels na propaganda nazista, por isso, a necessidade de controlar a difusão de informações.
A elite da guerrilha, que melhor se explica como “lumpenguerrilha”, merece ser representada como um exército do caos, perigosos, intimidador e despudorado, portanto, nada mais adequado que o naipe de Espadas, uma vez que tratava das milícias medievais. Lembrando que a guerrilha não conta com o maior poderio militar oficialmente constituído, todavia, arregimenta de forma indireta um número incalculável de guerrilheiros.
Os três mundos
Os revolucionários precisam criar uma relação opressor e oprimido para justificar que um grupo, que se identifique como membros da segunda parcela clame pela intervenção de líderes para suprimir os excessos daqueles que consideram seus algozes. Trata-se de uma estratégia de convencimento para que os indivíduos aceitem a liderança dos revolucionários, tolerando suas medidas autoritárias em nome da luta contra um mal maior. A armadilha consiste, justamente, em colocar-se como salvador contra algo que pode ser criado pela narrativa.
O lobo faz com que as ovelhas tenham medo do cão pastor, levando-as a uma rebelião contra aquele ser dotado de presas na qual o lobo será o líder da nova luta, entretanto, as ovelhas ignoram que o lobo possui presas e, diferente do cão pastor, pretende fincá-las em suas carnes.
Na Revolução Francesa a monarquia era a figura do opressor, na Revolução Industrial tal posto fora ocupado pela burguesia, independente de ser a monarquia absolutista da França alheia à situação do povo e as condições de trabalho na primeira fase da industrialização serem terríveis, não há como negar que os revolucionários iluministas franceses e os bolcheviques foram muito mais danosos aos que restaram sob seu julgo maléfico. É importante constatar que, por vezes, há uma mazela real que pode e deve ser enfrentada, todavia, os revolucionários sempre serão os menos indicados para superar quaisquer que sejam as dificuldades, haja vista que, sua intenção se resume à ascensão ao poder e todo seu discurso é mera narrativa, em se tratando de relativistas, nenhum argumento precisa ser verdadeiro.
Procura-se estabelecer, portanto, um inimigo a ser derrotado em defesa dos oprimidos, em regra um algoz imaginário, como o capitalismo, o cristianismo, o patriarcado ou qualquer um que possa ser espiado como o mal que aflige um grupo, devendo, os membros de tal grupo, jurarem vassalagem incondicional ao seu pseudolibertador, por mais que, em nítida contradição, seja massacrado pelo líder revolucionário. Quanto mais um tirano relativista ascende ao poder, mais torna-se aquilo que prometeu combater, como no caso da Revolução Francesa, episódio em que a crueldade dos líderes revolucionários transformou a extinta monarquia absolutista em nada além de um governo pouco simpático.
Um estratagema utilizado é a transferência da responsabilidade, atribuindo a outrem as consequências do mal que a revolução causara, vide o exemplo do Eixo, empurrado para o espectro da direita política através do discurso daqueles que defendem o socialismo como única força da esquerda, fingindo ignorar que o nacional-socialismo é inspirado nas ideias revolucionárias, de fato é revolucionário, e o fascismo é igualmente uma ideologia revolucionária coletivista. O nazismo e o fascismo são próximos do socialismo, conservando, em geral, a mesma máxima de conflito entre opressores e oprimidos, de senhores iluminados capazes de guia a sociedade, ideais coletivistas que sufocam a individualidade, e, não menos importante, a crença na reedição da civilização através do imaginário de seus líderes.
O Eixo era algo fraterno ao socialismo, isso, senão consideramos como seus desdobramentos, entretanto, é mais fácil ignorar que na divisão da Segunda Guerra Mundial havia o bloco dos países livres, este sim à direita, como EUA, Inglaterra e outros. Os revolucionários vendem um inimigo, colocando como salvadores, sem o menor compromisso com aqueles que engana, como os que se intitulam defensores da democracia mas relativizam tal conceito para que suporte somente os seus aliados, uma ditadura falsamente legitimada por discursos encomendados junto aos acadêmicos artificiais e da propaganda orquestrada.
Durante o período conhecido como Guerra Fria, convencionou-se dividir as nações do mundo em três blocos, o chamado Primeiro Mundo era composto pelas nações desenvolvidas, com liberdade econômica e social, sendo países prósperos e livres, com alto índice de desenvolvimento humano, aspectos que os colocavam facilmente na mira dos invejosos e na posição de opressores em uma narrativa. O chamado Segundo Mundo englobava as nações socialistas, com economia planificada e pouca, ou nenhuma, liberdade, a qualidade de vida era solenemente ignorada quando tratavam de tal bloco, mas enfrentaremos isso a seguir.
O Terceiro Mundo, o que mais interessa no momento, era definido como o bloco dos países subdesenvolvidos, com baixa qualidade de vida, não importando as questões de liberdade econômica, política ou social. Assim, era de se presumir que tanto os dois primeiros blocos eram compostos de países desenvolvidos, sendo o fator que os diferenciava a liberdade, por outro lado, todos os países subdesenvolvidos eram alocados no Terceiro Mundo, em uma visão geopolítica, temos a figura do bloco oprimido.
A grande ilusão, no entanto, foi engenhosamente estabelecida quando da divisão dos países nos blocas, estratégia ainda em uso, uma vez que, aglomerar os países desenvolvidos e livres no primeiro bloco, poder-se-ia rotulá-los como opressores, relegando ao terceiro bloco os oprimidos, contudo, no que diz respeito ao Segundo Mundo, não se verifica o desenvolvimento ou a liberdade, bastando ser membro do bloco assumidamente socialista para pertencer a um patamar que não é alcançado pela opressão, tampouco, pratica tal mal face os mais fracos. Não havia a preocupação com a miséria e falta de liberdade no leste europeu, nas repúblicas soviéticas ou na Indochina, em verdade, não havia preocupação com as condições daqueles países e a desgraça trazida pelo socialismo restava encoberta por aquilo que se chamava “cortina de ferro”. A Grande Fome de Mao e o Holodomor foram amplamente negados, mesmo tendo ocorrido no epicentro das duas maiores nações socialistas que existiram, seja a União Soviética, da qual a Ucrânia era o segundo mais importante dentre os membros da confederação, bem como, o caso chinês que ocasionou a desgraça no mais populoso país sob um governo socialista.
Socialismo africano
Se a miséria e o autoritarismo no bloco socialista era encoberto, causando a impressão de que naquele sistema todos os países havia razoável conforte e liberdade, por outro lado, países que adotavam políticas socialistas eram alocados no Terceiro Mundo, atribuindo, tão somente à exploração capitalista as péssimas condições daqueles povos. Não raro era a exposição de imagens de indivíduos, por vezes crianças, subnutridos em países socialistas da África, acompanhadas de narrativas acusando as nações do chamado Primeiro Mundo por tamanha desgraça.
Não há como negar que a colonização daquele continente causou um grande estrago, entremente, não se pode descartar dois fatores essenciais, em um primeiro momento a região ao sul do Saara era pouco desenvolvida quando da chegada dos europeus, descartando o mito do bom selvagem, é nítido que não se tratavam de civilizações prósperas, bem como, o fato de que muitas das nações africanas surgiram de forma artificialmente divididas, portanto, natural que eclodissem guerrilhas entre os grupos que almejavam se estabelecer no poder, muitos dos líderes de tais grupos, assumiram um discurso de transferência de responsabilidade, atribuindo toda a mazela do continente aos europeus, enquanto fartavam-se do pouco produzido na região e de donativos com caráter de ajuda humanitária.
A guerrilha socialista tomou o controle daquele continente, sendo deixada sem segundo plano ao passo que era apresentado ao mundo o caos que os países exploradores impunham aos pobres africanos, logo, aos menos informados, devemos pontuar que à época a informação era centralizada em grupos de mídia que colaboravam com a narrativa, ainda que por omissão, a mídia mainstream deixava que, em geral, o mundo acreditasse que o continente africano era um grande engenho escravocrata do qual os europeu e americanos subtraíam tudo aquilo que era produzido pela população local, o nefasto regime soviético sequer era associado aos governos daqueles países.
No geral, os líderes guerrilheiros do continente africano adotaram políticas socialistas no afã de assumirem a postura anticolonialista no momento da chamada descolonização, uma forma de responsabilizar as potências europeias por todas as mazelas da África, assim, podiam ser péssimos governantes enquanto responsabilizavam o passado por questões que se perduravam durante suas gestões que, uma vez socialistas, estavam fadadas ao fracasso.
A França é um dos exemplos de potência europeia que, apesar da independência de suas colônias, continuou com clara política de exploração parasitária em relação à nações descolonizadas, todavia, não há como expandir tal postura aos demais casos, pois, muitos dos países europeus deixaram de manter relações de exploração com suas ex-colonias, que acabaram se deteriorando em razão de políticas socialistas. Não há como tratar do tema sem mencionar dois países africanos que podem, abertamente, creditar seu infortúnio aos líderes revolucionários e suas medidas, como de costume, transloucadas.
O Zimbábue sob a liderança de Robert Mugabe, governante socialista que afundou o país na miséria, cometendo atrocidades que deixariam alguns radicas progressistas orgulhosos, uma vez que, acreditam ser o racismo um ato abjeto unilateral, sendo, na mente doentia dos revolucionários justificado quando as vítimas não se enquadram no que consideram minorias.
No caso do genocida, no termo correto da expressão, Robert Mugabe, que, segundo relatos, “Implantou um Apartheid reverso, proibindo que brancos tivessem direitos políticos e de propriedade. Calcula-se que dezenas de milhares de brancos foram exterminados sistematicamente pelas tropas do ditador”, poder-se-ia afirmar que sua postura seria reverenciada por determinados agentes adeptos das pautas identitárias.
Outro caso emblemático é o da Etiópia, que nunca chegou a ser colônia, mas após a queda da monarquia se viu destruída pelo Dergue, uma coalizão militar socialista que massacrou o povo no chamado Terror Vermelho e alastrou a fome em razão da sua política de reforma agrária, que, como na China de Mao, se provou como uma forma eficaz de destruir a produção de alimentos, causando o caos. As mazelas que afligem o povo etíope devem ser creditadas às políticas socialistas implantadas na Etiópia pelo Dergue e mantidas até os dias atuais, tanto que, o cargo de Primeiro Ministro daquele país é ocupado por Abiy Ahmed Ali, do Partido da prosperidade, que sucedeu a Frente Democrática Revolucionária Popular do Povo Etíope, grupo declaradamente marxista do qual o político era integrante.
Narcossocialismo latino-americano
Os países latino-americanos também foram enquadrados no bloco dos subdesenvolvidos, de fato, deveriam ocupar tal posição, uma vez que, pouco industrializados, empobrecidos e com pouca liberdade econômica e social, não caberia outro enquadramento durante o período da Guerra Fria. A grande maioria era governada por coalizões militares ou ditadores com inclinações de resistência ao socialismo soviético, não por afeição aos EUA, mas pela dependência econômica em relação ao país norte-americano.
A América Latina foi deixada como ponto de reserva no período da Guerra Fria pelo bloco liderado pelos EUA, resistindo as investidas socialistas de tomada de poder, de maneira que, no aspecto formal, tão somente no arquipélago de Cuba, tornando aquele país insular o único declaradamente socialista, entretanto, não ocorreu por descuido dos EUA, que até mesmo apoiaram a Revolução Cubana, uma vez que, não consideravam seus líderes como socialistas, de fato, se foram enganados ou se os revolucionários decidiram dar início ao enlace com os soviéticos após a chegarem ao poder, é uma questão controversa da qual não há como nos debruçarmos no momento.
Em verdade, as chamadas ditaduras latino-americanas do período da Guerra Fria foram apoiadas pelo chamado Primeiro Mundo como forma de manter as garras dos socialistas afastadas das nações subdesenvolvidas do continente americano, todavia, não há como acreditar que tal preocupação se estendia além de uma dança macabra geopolítica na qual a elite hoje conhecida como a financeira e intelectual, o socialismo fabiano, evitava que o eurasianismo assumisse o comando dos países latinos em seu detrimento.
A adoção do positivismo exacerbado nas instituições públicas transformaram nas em monstros burocráticos escravos de papéis, incapazes de discernir o óbvio quando isso for contrário ao impresso em seus códigos legais, cada vez mais distantes da realidade, somando-se a uma produção acadêmica que idolatra o cientificismo artificial do Primeiro Mundo e bajula ditadores do bloco socialista e sua falsa promessa de mundo ideal.
Nasce, das ditaduras positivistas, herdeiras do caudilhismo e amantes do relativismo, a guerrilha narcossocialista, decorrente do alinhamento da aristocracia socialista dos bancos acadêmicos que admiravam os guerrilheiros do período da ditadura e os marginais que passaram a culpar a sociedade por seu infortúnio. O criminoso tem a consciência de ser um indivíduo nocivo aos demais, entretanto, uma vez contaminado pelos ideais revolucionários, em especial, pelo relativismo moral, atribuirá à sociedade o fardo por suas ações, tentando transferir a culpa a terceiros.
Diverso do criminoso habitual, que sabe ser um transgressor por ter sucumbido aos vícios, como a ganância, a lasciva e outros, o guerrilheiro busca revestir sua conduta atroz de virtudes inexistentes, mas como é relativista, pode criar justificativas ao seu bel-prazer. Criando uma verdadeira horda de guerrilheiros psicopatas que não assumem quaisquer remorsos por seus crimes, são indivíduos desprovidos de moral que admitem quaisquer medidas, por mais hediondas que sejam, para alcançarem seus propósitos espúrios.
A lumpenguerrilha narcossocialista é uma força desprovida de moral, logo, não se arrepende de qualquer mal que possa causar aos que considera obstáculo aos seus anseios, é capaz de se associar aos piores déspotas e adotar seu métodos. O lumpenguerrilheiro é a figura sem consciência, que não distingue o bem do mal, pois, considera que tudo é relativo, pensa somente em galgar o máximo de degraus que conseguir, não importa em quem precisa pisar para fazê-lo.
Lumpenguerrilheiros bradam que seus opositores não merecem anistia, esquecendo-se que seus líderes foram anistiados por ações mais graves, pedem por direitos humanos aos piores criminosos ao passo que negam o mínimo aos que desejam eliminar, mesmo, princípios basilares como o devido processo legal podem ser esmagados quando o alvo é um desafeto. Aplaudem violações que não suportariam e enaltecem práticas que qualquer um deveria reprovar.
A bestialização não se resume ao crime organizado, mas todo aquele faz coro aos desmandos da revolução dos bueiros, uma vez que, assumindo uma postura de “subelite”, vassala e invejosa em relação às demais, a lumpenguerrilha narcossocialista tornou-se algo muito maior que a simples guerrilha dos campos, como a do Araguaia, ou das favelas, como as facções que assombram as metrópoles brasileiras. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, são reconhecidas como força política, participando de congressos e mesmo dando origem ao Partido da Força Revolucionária Alternativa do Comum, preservando sua sigla e identidade.
Cabe mencionar o poder de cinco organizações além das FARC que assumiram protagonismo na América Latina, sendo a primeira a Mara Salvatrucha, conhecida como MS-13, que tomou conta de El Salvador e tem grande influência, através de criminosos salvadorenhos, nos EUA, tratando-se de uma organização paramilitar extremamente violenta, cuja atuação resultou em uma resposta enérgica por parte do atual Presidente de El Salvador. O governo salvadorenho tem sido alvo de críticas sistêmicas por suas ações contra o crime organizado, especialmente em face da citada organização, o que deveria levar a reflexão acerca do alcance dos braços do grupo criminoso.
No México a narcoguerrilha se destaca através do Cartel de Sinaloa, também não é a única organização do tipo naquele país, entretanto, goza de tamanho poder que as áreas sob seu controle são de difícil atuação para o Estado, por outro lado, seus líderes são apresentados como figuras imponentes, sendo destacados como se fossem autoridades locais, criminosos como Joaquín Guzmán Loera, vulgo El Chapo, e Ismael Zambada, conhecido como Mayo, são como caudilhos daquelas terras.
Não há como mencionar as duas maiores facções brasileiras o Comando Vermelho, antiga narcoguerrilha do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital, atualmente a maior organização criminosa do tipo em atuação no país. As duas organizações criminosas controlam áreas nas duas maiores regiões metropolitanas do Brasil e, como de se esperar, ramificam-se por diversos cantos da nação, sendo violentas e ávidas pelo poder, impõe regras em seus domínios e, pode-se dizer até mesmo, que a soberania de cada uma delas é reconhecida em tais territórios.
As forças de segurança estatais enfrentam dificuldades para ingressar em áreas sob influência de tais facções, em alguns casos há decisões do próprio Estado no sentido de que forças policiais precisem de autorização de órgão de controle externo para adentrar nos territórios dominados pelo crime organizado, uma espécie de minimização de confronto em nome da incolumidade dos habitantes das regiões marginalizadas, relegando-os ao julgo da guerrilha.
A última, porém mais espantosa, entres as narcoguerrilhas latino-americanas é o não tão conhecido Cartel dos Sóis, nome original Cartel de Los Soles, que recebe tal nome em clara alusão às insígnias dos militares venezuelanos é a organização criminosa que se confunde com o próprio governo da Venezuela, haja vista que, não se trata de uma narcoguerrilha paramilitar, por ser, supostamente, liderado por militares de alta patente daquele país, logo, seria uma espécie de narco Estado que tem em sua estrutura, de forma não tão velada, integrantes da organização, o próprio Presidente Nicolás Maduro é acusado pelos EUA de integrar o Cartel dos Sóis. O General de Brigada Hugo Carvajal Barrios, conhecido como El Pollo, ex-diretor de contrainteligência militar da Venezuela, está preso por ser membro da organização e sua extradição foi requerida pelo governo dos EUA ao governo espanhol, o que foi autorizado pelo país europeu, em clara demonstração de que a Espanha reconhece o processo em andamento nos EUA como válido.
A farsa do Sul Global
Com a queda da nada saudosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, marcando o fim da Guerra Fria, a divisão em três blocos na forma concebida por Alfred Sauvy caiu em desuso, justamente pelo fato de que as nações socialistas não tinham mais a “cortina de ferro” para encobrir a miséria e falta de liberdade, de maneira que outra forma de divisão deveria ser estabelecida.
Há quem ainda use os termos cunhados pelo economista francês, mantendo no chamado Primeiro Mundo os países desenvolvidos e no Terceiro Mundo os subdesenvolvidos, ressignificando apenas o conceito de Segundo Mundo para países emergentes, todavia, a nomenclatura mais aceita é os termos que os definem, sendo assim, a atual divisão trata apenas como países desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos.
A nova apresentação considera que o Brasil, por exemplo, tratando-se de um país emergente, figura junto com a Rússia e, acreditem, a China, segunda maior economia do mundo que é tratada como emergente, seja por considerarem fatores como a qualidade de vida ou renda per capita, afastando, convenientemente a ditadura da imagem de país desenvolvido, explorador e, por consequência, opressor. Nota-se que os países de desenvolvidos continuam praticamente os mesmos, todavia, a China não foi inclusa em tal grupo, mesmo sendo a segunda maior economia, tendo grande capacidade industrial e tecnológica e praticando o expansionismo desenfreado.
Difícil saber se o país é considerado como emergente por mera liberalidade ou pelo fato de que uma ditadura socialista, por mais rico que o Estado seja, continua sendo uma nação em que o povo não aproveita da riqueza, servindo como massa aos membros do partido. O importante é verificar que a China, bem como, a Rússia não poderiam figurar entre os países que podem ser apontados como exploradores, não sendo observados como opressores.
Surge então mais uma narrativa doentia para criar uma espécie de conflito entre nações oprimidas e opressoras, uma farsa chamada de Sul Global, termo que ganhou notoriedade após ser usado em um discurso da ex-presidente Dilma Roussef em cerimônia de posse à frente do Banco dos BRICS, tentando justificar a existência de uma aliança entre aos países que compões a sigla.
Evidente que o conceito de Sul Global não é uma invenção de ex-presidente e ela, de fato, quis tratar do tema, entretanto, é preciso apontar para desonestidade dos defensores de tal teoria, explicando através da premissa dos que criaram tal termo para, posteriormente, apresentar a contradição e o motivo de ser uma narrativa doentia com fundo unicamente ideológico.
Segundo o lumpesinato acadêmico, força idealizadora do conceito de Sul Global, trata-se de uma divisão de países essencialmente do hemisfério sul, todavia, não se resume a uma divisão geográfica entre hemisférios, sendo uma divisão geopolítica, entre países tradicionalmente desenvolvidos e opressores ao norte e oprimidos ao sul, mesmo que os pontos cardeais sejam apenas metafóricos, de maneira que a Coreia do Norte, mesmo estando no hemisfério norte, pertence ao Sul Global, enquanto a Austrália, pertence ao Norte Global. Trata-se de uma visão social, economia, cultural e até mesmo histórica.
A divisão, no entanto, é totalmente desonesta, haja vista que, por se tratar de um conceito relativista, permite que as fronteiras entre norte e sul sejam livremente movimentadas conforme os anseios daquele que se aproveita da narrativa, logo, a China, mesmos sendo a segunda maior economia do mundo, figura no lado sul e o leste europeu, massacrado pelas políticas socialistas ao lado norte. O lumpesinato acadêmico, valendo-se de um conceito abstrato sem quaisquer critérios além de seu desejo, conseguiu tratar os países da extinta Iugoslávia como privilegiados em se comparando aos Emirados Árabes Unidos.
A Ucrânia e Belarus também se encontram no norte desenvolvido e a Rússia, como algo ímpar, pode ser movida conforme o interlocutor, como o caso dos que saíram em defesa da ex-presidente, alegando que ex-república soviética, pode ser considerada em desenvolvimento, o que a colocaria no lado sul, ignorando que outras nações que integraram a famigerada confederação estão ao norte.
O único propósito da farsa do Sul Global é retirar da condição de nação opressora aquelas que o lumpesinato acadêmico pretende proteger de seu discurso fajuto de luta contra o imperialismo, conduzindo assim a lumpenguerrilha a adoção de uma postura contrária somente aos valores ocidentais, tratando como opressores os países desenvolvidos com características de nação ocidental.
O pior de todos os males
Assim como nos países africanos, a narcoguerrilha é formada pelo lumpemproletariado, não somente os marginais, mas todo o sistema que suporta tal grupo, incluindo a mídia mainstream local ambiciosa por fazer parte do processo de controle social e a uma falsa elite intelectual que admira a essência do lumpenguerrilheiro, pois nada é além de um lumpesinato acadêmico, incapaz de produzir teses substâncias, abraça o relativismo para produzir acervo aos seus senhores que os recompensam com títulos de aduladores.
O lumpesinato acadêmico vê no marginal a última leva de revolucionários e não se olvida em usar uma horda que sabe ser desprovida de moral, portanto, assume o risco de alimentar os desejos de indivíduos bestializados em nome da revolução, expondo toda a sociedade às presas das feras sedentas de poder. Desprovido de moral e incapazes do arrependimento, devido ao relativismo, o lumpesinato acadêmico dos países outrora subdesenvolvidos importam todo o tipo de narrativa conveniente à revolução e rechaçando práticas que possam servir de obstáculo aos seus guerrilheiros.
A lumpenguerrilha latino-americana e africana é alimentada pela produção acadêmica e midiática degenerada e parasitária, que, diferente das elites globais, não guarda fé ou ambição que não seja negociável. O lumpesinato acadêmico não se move por uma força maior como o Califado, não considera seu povo como merecedor de um destino melhor como os eurasianos, tampouco, pretende subverter o seu modo de vida em nome do controle social como a elite financeira e intelectual, são tiranos que venderiam a própria mãe e deixariam seus compatriotas entregues ao caos, como gafanhotos que destroem a lavoura e rumam para outras terras de barriga cheia.
A lumpenguerrilha é violenta e bestial, mas aqueles que a suportam são talvez figuras ainda mais doentias que entregam seu povo à danação em troca de poder. A guerrilha tem se associado a tudo aquilo que julga benéfico e expõe suas garras conforme se sente confiante para pleitear seu lugar entre as demais elites preestabelecidas.
Abraçando as pautas dos “despertos” (woke), mesmo nutrindo ojeriza pela maioria delas, o discurso contrários à civilização ocidental, valores judaico-cristãos, e, aquilo que chamam de anti-imperialismo, somente face às intervenções de nações ocidentais, posto que, se a ocupação econômica e cultural se der por nação inclinada ao eurasianismo ou ao Califado, serão bem-vindas pelos lumpenguerrilheiros e o lumpesinato acadêmico, como forma de desestruturação das sociedades latino-americanas e africanas.
A guerrilha sonha com o poder de forma irresponsável, através do caos e desespero vê a oportunidade para pôr em prática a revolução, não é intelectualmente desenvolvida para convencer os indivíduos sem o controle da informação, por isso luta pelo monopólico da comunicação, igualmente, não tem a disciplina dos eurasianos para tentar se impor diante das demais elites e não guarda a fé do Califado para fortalecer seus soldados, assimilando quaisquer narrativas que lhes sejam proveitosas.
O lumpesinato acadêmico, merece tal nomenclatura, por ser um trapo incapaz de produzir avanços intelectuais, tornando-se um arremedo daquilo que deveria ser uma academia, festejando seus títulos autoconcedidos em nome da soberba, vagam por corredores de estruturas que parecem feitas para grandes pensadores quando se tornaram prédios sem alma, quando não nasceram assim, criando mais acadêmicos de trapos que precisarão se manter tão somente escorados sobre uma produção acadêmica plastificada que serve à tentativa de justificar a lumpenguerrilha como algo moral e necessário.
Os artífices da degeneração sonham com um mundo no qual a sua força permita corromper ou eliminar todo aquele que não comungue de seu desprezo pela realidade e a moral.
O Rei de Espadas não sente culpa, não tem remorso ou arrependimento, renunciou sua humanidade em troca de poder.
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 40 – ISSN 2764-3867