Na mitologia grega, Caos é o deus primordial, a desordem cósmica que precedera toda a criação, dele se originara toda a matéria, sendo assim, é a essência disfórmica que alimenta toda a existência. Seu antagônico filho, Eros (na concepção de Hesíodo), é a ordem, equilibrando-se ao passo que se opõe ao seu criador, Eros perite que o universo seja algo além de uma massa inalcançável, de tal forma que, pode-se dizer que, na mitologia grega, a contraposição entre Caos e Eros fazem da existência mais que a simples energia, dando forma a tudo. Caos tem origem na palavra vazio, deixando evidente que sem a ordem, nada poderia de farto existir, pois, antes de tudo, existia o caos.
Por outro lado, temos na mitologia egíptica, o conflito entre ordem e caos representado, respectivamente, pelas figuras divinas de Maat e Isfet (Asfet), entretanto, ambas as figuras míticas apresentam-se de forma mais ampla, assumindo que a primeira delas também abarca ideias como justiça, bondade, harmonia, equilíbrio, moralidade e verdade, recaindo a Isfet os adjetivos que são diretamente opostos aos citados.
Na mitologia egíptica o conceito de oposição e equilíbrio de forças é mantido, todavia, o imaginário de que as forças se somam para resultar algo grandioso, como a relação entre pai e filho no mito grego, em que Caos e Eros são opostos que se somam, tendo como resultado a criação do universo, é substituída por uma batalha entre o bem e mal, mantendo o equilíbrio de forças para que tudo exista, sem, contudo, serem uma associação divina.
Pode-se supor que, para os gregos, a relação entre ordem e caos se apresenta de forma que a primeira, alimentando da energia disforme produzida pela segunda, acaba por criar a existência, colocando em matéria aquilo que antes era intangível, ou inimaginável. Como uma nascente que dá forma a um rio, dele surgindo toda a vida ao seu redor.
Por outro lado, na visão dos egípcios, a ordem e o caos vivem em um constante embate, do qual, cada choque resulta na existência, com se cada vez que as forças do bem e do mal se tocassem, o resultado fosse a liberação de energia e criação, assim como a luz que se origina da reação entre negativo e positivo em uma lâmpada incandescente. Claro que, na mitologia do Eito antigo, a criação não deriva da interação entre a ordem e o caos, o que se busca ilustrar é como as forças se relacionam de formas diferentes, seja complementando-se em uma criação sublime ou em um conflito, a oposição inequívoca entre ambos inspira o homem desde tempos longínquos.
Não obstante, precisamos nos ater ao conceito de caos contemporâneo, que tem sim a ideia de força em desordem, mas conserva as características de Isfet, assumindo especialmente adjetivos como injustiça, violência e, principalmente, o mal. Quando se utiliza o termo caos, ou caótico, nos tempos atuais, a imagem que se pressupõe é a de degradação, de destruição, significados que não estão distantes daqueles das mitologias, posto que, sua essência é conservada, entretanto, é a imagem vulgar que se pretende trazer a mente do leitor.
A visão que temos de um mundo caótico é simplesmente a de um cenário degradado, sendo assim, presume-se que o mal reine em tal situação, o que é inquietante, haja vista que, a desordem nos leva diretamente a imaginar que a maldade impere. Por mais que pareça infantil imaginar que a destruição seja consequência do mal, tal associação não pode ser tratada como mera coincidência.
Se, de um lado, o império da maldade resulta em degradação, cabe investigar se o oposto também ocorre, e, qual seria a correlação direta entre os adjetivos nefastos que recaem sobre Isfet, ou seja, a ligação entre maldade, injustiça, desordem, violência e diversas faces abjetas de um mundo destruído. Não por acaso, a confusão é um terreno fértil para que desígnios pútridos sejam inseridos na sociedade, bem como, a perda de valores resultam em um universo corroído, adubando o solo de tal terreno.
No que diz respeito a degradação uma sociedade, tal destruição pode ser vista como a oportunidade para a realocação de indivíduos na relação de poder, e todas outras, no âmbito daquele grupo, logo, fazer com que uma sociedade se destrua para dela surgirem outras possibilidades é justamente o anseio do revolucionário, podemos observar em civilizações antigas, como os romanos, que deram origem a diversos reinos que outrora ocuparam a Europa, alguns que até hoje existem, permitira que as relações de poder sejam alternadas em razão da quebra de um sistema.
Por outro lado, na visão revolucionaria todo o fracasso é relativo, pois acredita-se poder substituir a ordem natural pela visão do agente, é como dizer que um revolucionário tenta substituir a figura de Eros na relação com seu pai por sua vontade, ou seja, que ele seria capaz de domar a essência caótica para nela criar a ordem a seu bel-prazer, esquecendo que a existência é resultado da ação da ordem e do caos, ou seja, que tudo aquilo que ele consegue sequer imaginar é fruto de uma visão com ordem, de uma visão que já possui o conceito no qual tanto a ordem quanto o caos já se fizeram presentes na sua criação.
O que quer o revolucionário, na verdade, é o poder, assumindo que pode ser uma espécie de divindade menor, ou mesmo, o maior criador. Na sua luta doentia pelo poder, ele é capaz de exterminar, ludibriar, praticar qualquer ato nefasto que o alce ao topo da hierarquia que vislumbra, ainda que regional.
O que importa ao nefasto ser amante da revolução é subtrair o poder de quem quer que seja, ainda que daquele que o alcançara de forma ilegítima, o que explica os movimentos se autodestruírem, como aquela máxima, de uma certa ideologia na Europa do século passado, que se colocava como anticomunista, ou contrário ao socialismo, mas tinha-o em seu nome. Alguns alegam que era uma ilusão como um apelido, mas, na verdade, é natural que socialistas destruam socialistas, basta ver a situação envolvendo Trotsky e Stalin, para constatar que, quando o poder está em jogo, o socialista é capaz de qualquer coisa, para ele, não há como medir esse limite.
Logo, é interessante buscar associar o pensamento revolucionário com o caos, como dito, todo revolucionário acredita que ode moldar a realidade ao seu bel-prazer, ora mudando a linguagem, ora impondo leis e decisões absurdas, de forma coercitiva, e dessa forma, esse tipo de agente busca moldar a realidade à sua visão, acreditando possuir uma forma capaz de guiar a humanidade, isso se o leitor quiser assumir que há uma postura inocente neste tipo de ideologia, pois, basicamente, ou digamos, mais friamente analisando, o que o revolucionário quer é apenas o poder e qualquer dessas promessas de salvação não são nada além de mentiras.
Construir uma sociedade à sua maneira, numa situação caótica, uma vez que aquela energia disforme pode ser moldada conforme a vontade do revolucionário, como eles acreditam, apresenta um grande risco, que, em verdade, é quase uma certeza, posto que, as forças disfórmicas não serão controladas por quem quer que seja. As forças da ordem, assim como a do caos, deve ser entendida como uma premissa básica, para exemplificar, basta observar que as tentativas de corromper determinada sociedade acabam resultando em conflitos, pois as lideranças de pequenos grupos, aos se enxergarem como grandiosas, acabam desafiando as que lhe alimentaram. Como dizer que um determinado grupo minoritário acaba ganhando tantos privilégios que desafia o próprio sistema em si, pois se sente confortável em colocar-se acima deste sistema.
Um bom exemplo é o que aconteceu no leste europeu quando globalistas incentivaram que um país se afastasse do bloco eurasiano para se associar aos seu grupo, colocando um fantoche na condição de Chefe de Estado, mas isso por inúmeros fatores diretos e indiretos naquele cenário, gerou uma guerra na qual este fantoche globalista deveria, no imaginário dos líderes progressistas, servir como uma especie de amortecedor, na famosa guerra de proximidade, desgastando assim um grande nome do bloco eurasiano sem desgastar o lado de quem o colocou no poder em seu país, contudo, ao enfrentar um suposto gigante militar, esse que foi colocado no poder com o único fim de degradar a imagem de seu próprio pais acabou se vendo como um grande líder criando a falsa impressão de que era realmente um herói daquele pais.
Fazendo com que ele, por vezes, incomodasse os grandes globalistas, basta ver que alguns dos grandes “players”, hoje cogitam ouvir o lado contrario, porque o caos acaba por se voltar contra aquele que o criou. Porque é de grande arrogância acreditar que se é capaz de controlar uma força inimaginável, intangível, disfórmica, violenta e inconsequente.
Na América Latina, o narcossocialismo, constantemente incentivado e aplaudido pelos revolucionários do campo político e social, não se curva à vontade da elite socialista local, tanto que, constantemente desafia a autoridade, ainda que seja de uma liderança progressista, na prática, narcossocialistas não tem o pudor se recusam a dobrarem-se diante de qualquer autoridade que não a deles, e isso resulta, de forma inequívoca, numa força que não se submeterá ao controle das elites revolucionarias, o narcossocialista pode até se aproximar, mas nunca se curvará, pois experimenta o poder ainda que dentro da região que controla.
Os agentes do caos, como um todo, seja narcotraficante, miliciano, outros tantos criminosos, ou mesmo, as lideranças de minorias estéricas, cada vez mais bestializadas e agressivas, acabam por se transformarem em uma força fora de controle tentado cada um deles estabelecer a ordem de sua maneira, tanto essas minorias bestializadas, quanto influenciadores vazios acabam por acreditar terem mais poder do que de fato detém, vendo-se como lideres que emergiram por méritos, quando em verdade, foram produzidos para encantar os tolos, como Flautista de Hamelin fizera com as crianças, cuja missão é guiar a sociedade, que o seguirá encantada para o abismo.
Tais indivíduos, ou mesmo instituições, acabam por se considerar a própria elite dentro de sua própria ilha e ali acreditam ser a ordem que irá moldar toda a energia caótica, por isso, permitem que, cada vez mais, a degradação cultural expanda-se, pois, havendo um ambiente destruído, acreditam serem capazes de construir qualquer coisa que lhes for apropriada, em resumo, como são incapazes de reformar um prédio ou conservá-lo, sempre que erram derrubam toda a construção e os refazem, assim se eximem das responsabilidades. Seus erros são negados pela simples reedição das afirmações, em tese, alteram aquilo que disseram e fizeram, para não se responsabilizarem por seus posicionamentos.
Quando o resultado de suas ações, ou decisões, é prejudicial, simplesmente, lavam as mãos e transferem as responsabilidades para terceiros ou simplesmente dão outra interpretação àquilo que fizeram. Resumidamente, podemos citar os socialistas, que sempre alegarão que o socialismo não foi implementado, falhas pontuais e que a sua ideologia só funcionará após ser aplicado em todo o mundo, deixando claro que estão dispostos a massacrar qualquer bolha fora do socialismo, ainda que seja somente para testar se a sua loucura utópica funcionara. Se erram, e sempre erram, transferem a culpa, por isso mesmo, já disseram que a ditadura narcossocialista venezuelana era algo de direita, simplesmente tentando transferir, assim como foi o caso do nacional-socialismo.
Temos que concordar que o relativismo moral e o ressignificado é o meio do revolucionário é poder errar inconstáveis vezes, pois, sempre transferirá para terceiros, não importa o quanto mergulhem o mundo no caos, tentando construir a sua utopia, alegando que o fracasso e a destruição são frutos de um fator externo ou da má interpretação. Nesse caso, o caos seria uma forma de desorganizar a sociedade para impor a sua ordem, ou seja, a sua construção mental, ideológica, que, caso fracasse, o que sempre acontece, será negado como uma experiência legítima, ou seja, será atribuído algum fator estranho para simplesmente obscurecer o fracasso e a desgraça por ele trazida, tentando sempre transferir a terceiro a responsabilidade por um desvio de rota daquilo que fora planejado.
Claro que numa ideologia que promete um futuro perfeito, não exporá suas falhas, e, é evidente que sempre falhará, pois acredita que é capaz de moldar a realidade, por isso vemos, cada vez mais decisões judiciais esdrúxulas, nas quais, operadores do Direito tentam moldar a realidade ao seu bel-prazer, o que também ocorre com a linguística, um bom exemplo é linguagem neutra, uma tentativa artificial de impor a ideologia de gênero.
Quando alguém questiona o motivo de um grupo, ou indivíduo, se alimentar deste caos, faz-se necessário refletir e constatar que lideranças de minoria estéricas, déspotas no poder ou avido por ele, querem justamente um cenário caótico para se apresentarem como salvação, influenciadores e artistas sem nenhum talento precisam de uma sociedade cada vez menos criteriosa para serem alçados aos postos de celebridades, infantilizando a mente de seus seguidores, por terem em seu rebanho, pessoas desprovidas do mínimo de valores morais e de informações gerais. Acabam alimentando-se do caos para manter o seu status, alguém que sabe ser medíocre prefere um mundo onde todos estão abaixo desta linha para que ele se destaque, cercando-se de pessoas desprovidas do mínimo.
Aquele que tem pouquíssimo a oferecer acaba por ser um estandarte a ser seguido, em uma sociedade inculta. Não se veria valor em pessoas que chamam a atenção se valendo de subterfúgios patéticos, como até mesmo imitar mamíferos semimarinhos, não se aceitaria o abusou ou o atropelo por parte de autoridades que alegam defender o povo dele mesmo, se estivéssemos em uma civilização culta e fortalecida.
É necessário ser muito ignorante para abrir mão de tudo para dar poder a alguém que alega proteger você de si mesmo, você se tornou um animal cativo em um curral, consciente disto, como aquela celebro frase de Benjamin Franklin, “Aqueles que abrem mão da liberdade por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”, uma vez que, a segurança que lhe foi oferecida, pode ser retirada, pois, a liberdade para lutar novamente não existe mais, inclusive, lutar por segurança.
O temos visto em nome da democracia, de uma “pseudodemocracia”, na verdade, de um Estado Democrático de Direito, onde não há nada de democrático, muito menos reflete o Direito, é justamente a sociedade destruída permitindo que um grupo faça de tudo, ainda que ao arrepio de leis, princípios, valores, para garantir uma suposta paz social, que nada mais é que, aquela imposta na comunidade pelo crime organizado, a paz que se enaltece em comunidades tomadas pelo crime organizado é, justamente, a hegemonia do crime, paz, na qual o indivíduo, com um fuzil apontado para sua cabeça, não pode reclamar. Naquele lugar, há segurança, pois, dentro da comunidade, o próprio crime proíbe que alguns delitos, que não lhe agrade, sejam praticados.
Aquelas pessoas são prisioneiras, reféns, mas estão ali muitas vezes aceitando isso, lá fora há roubo, violência, no interior da comunidade, chama-se o dono da favela e ele resolve. Tais entidades sempre vão querer o caos, a questão é entender a motivação das pessoas para aceitar e viver no caos sustentando indivíduos nefastos, talvez, por ser caos, na maioria das vezes, fabricado, sendo retroalimentado, plantando e colhendo de uma forma praticamente como na agricultura.
O parasita tende a fazer com que o hospedeiro assuma que extirpá-lo é mais danoso que sustentá-lo, sorvendo-se do sangue de sua vítima. No caso do caos, há tantos que se alimentam das mazelas que toda uma gama de agentes da revolução se orquestram para fazer do mundo um lugar infeliz e miserável, no qual, qualquer migalha seja considerada uma benção, ainda que seja dada por aquele que contribuiu para um cenário apocalíptico.
Observe quem se alimenta do caos e compreenda que sua ação é fruto de ganância e soberba, pois, o revolucionário não evitará nenhum mal, tendo em vista que, de acredita se alimentar. Por outro lado, devemos observar que a maior parte dos revolucionários está se envenenando ao passo que se alimenta da desgraça do mundo.
Coautor Pedro Costa
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º27