Eurasianismo

Eurasianismo

Eurasianismo, o Rei de Paus

Dando continuidade ao artigo sobre o Califado, passamos a análise da segunda elite global que nos fora exposta pelo saudoso Olavo de Carvalho, figura que, destoando da regra no Brasil, buscou compreender tais espectros de forma profunda, não somente observando o centro nervoso de cada uma delas, mas também, sua capilaridade, percebendo que tais forças por vezes se unem em um esforço para atacar um inimigo comum ou impor uma narrativa proveitosa à ambas, bem como, podem se digladiar, quando percebem que é o momento de curvar o outro aos seus anseios, ou mesmo, sentem-se ameaçadas pelos avanços de outra elite em sua área de domínio.

A relação com os naipes do baralho, exposta na edição anterior, é meramente ilustrativa, entretanto, não se trata de obra do mero acaso, pois, como apresentado, entende-se que a correlação simbólica entre os naipes e classes sociais da Idade Média ou com as estações do ano.

Em se tratando das classes da Idade Média, o naipe de ouros, aqui apresentado como o Califado, se traduz na nobreza, portanto, a elite associada à forma que os monarcas do Islã ostentam suas riquezas, bem como, a natureza do califa, líder político e religioso que comandaria o mundo islâmico como um nobre senhor escolhido por Alá.

No caso do naipe de paus, que simbolizaria a classe dos populares, a sua associação ao eurasianismo decorre justamente da identidade que tal ideologia tem com o povo da região, sendo assim, a elite eurasiana busca assimilar o apoio popular com elementos de nacionalismo, coletivismo e esoterismo, mas como veremos, dentre as explanações de Olavo de Carvalho, a coisa não é tão superficial como parece.

O Eurasianismo, fora sociopolítica que não pode ser analisada ignorando seu maior pensador contemporâneo, o Professor Alexander Dugin, considerado o mestre intelectual por trás do movimento eurasiano atual. Dugin, professor da Universidade Estatal de Moscou é considerado por muitos como o guru do Kremlin, alguns, por outro lado, duvidam da influência do filósofo sobre o autocrata russo Vladmir Putin, entretanto, não há como negar que o discurso que emana de Moscou está fortemente sustentado pelas ideias de Dugin.

Descortinado de forma perspicaz o movimento eurasiano, Olavo de Carvalho, aponta sua motivação, forma de aliciamento e metodologia de avanço, indicando que o Eurasianismo se reveste de aspecto do socialismo, do nacionalismo, do fascismo, do esoterismo e por último de valores morais que se diz religioso, por isso Olavo utiliza o termo “soi-distant”, que se apresenta como algo que não é. Essas facetas do movimento eurasiano servem para seduzir os incautos, alistando-os nas fileiras da revolução, que alguns ousam chamar de revolução conservadora, mais uma fraude conceitual.

Como explica o pensador brasileiro, os movimentos revolucionários prometem a solução de todos os males através da destruição de um sistema e sua recriação nos moldes daquilo que líderes revolucionários imaginam como algo perfeito, todavia, não se pode ignorar a tirania que corre no sangue dos déspotas que assumem o controle de tais movimentos e sua essencial dissociação da realidade. Parafraseando um médico militar de grande sabedoria, podemos afirmar que, psicopatas tendem a ocupar posições de liderança em uma sociedade caótica, uma vez que, não possuem limites para sua ambição.

Olavo de Carvalho descreve a armadilha de forma bem clara, apontando como diversos grupos podem ser chamados à defesa do eurasianismo, ou pior, à adesão a tal movimento, uma vez que se sintam tocados pelas narrativas propagadas por tal elite.

Os saudosistas do stalinismo veem nela a promessa do renascimento da URSS. Conservadores aplaudem o seu moralismo repressivo soi disant religioso. Velhos admiradores de Mussolini e do Führer apreciam a sua concepção francamente antidemocrática do Estado, bem como seu desprezo racista pelos povos destinados à sujeição imperial.

Esoteristas, seguidores de René Guénon e Julius Evola, julgam que ela é a encarnação viva de uma “metapolítica” superior, incompreensível ao vulgo, mais ou menos como aquela que é descrita pelo romancista (e esoterista ele próprio) Raymond Abellio, em La Fosse de Babel. Muçulmanos acabam às vezes aderindo ao projeto por conta do seu indisfarçado e odiento anti-ocidentalismo, na vaga esperança de utilizá-lo mais tarde como trampolim para a criação do Califado Universal, que por sua vez os “eurasianos” acreditam poder usar para seus próprios fins”.

O risco de pessoas das mais diversas vertentes aderirem ao Eurasianismo, ou guardarem simpatia por tal movimento, é demasiado, não por acaso, observamos uma constante defesa do maior líder político eurasiano, o autocrata russo Vladimir Putin, em diversos espectros políticos, inclusive no ocidente, civilização que é objeto de desprezo e ódio da mentalidade eurasiana. Deve-se considerar que na linha de pensamento dos eurasianos, a civilização ocidental deve se submeter aos senhores do mundo, aquilo que os eurasianos chamam de “Santa Mãe Rússia”.

No caso dos muçulmanos é preciso abrir um parêntese para constatar que a aproximação entre aqueles que anseiam a criação de um Califado e o Eurasianismo é uma via de mão dupla, posto que, nutrindo em comum, o ódio pelo ocidente, tais forças somam-se com o único fim de subjugar a civilização ocidental, sendo que, ambas as elites acreditam que podem usar a outra para seus fins, podendo controlar seu “cúmplice” ou mesmo destruí-lo quando se tornar imprestável à sua escalada pela dominação global, isso é uma característica de todas as elites globais de poder, por isso a expressão, “acreditam poder usar para seus próprios fins”, o que, entre o Califado e o Eurasianismo, bem como as demais elites, é algo recíproco.

É preciso, portanto, explicar a superficialidade do Eurasianismo, apresenta uma boa definição, tratando como neo-eurasianismo, o que temos posteriormente, Valter Cláudio.

O neo-eurasianismo põe-se como uma alternativa à filosofia ocidental e à economia, será uma mistura entre geopolítica e espiritualidade tradicional, tendo em Alexander Dugin um dos principais teóricos. Ao longo da história tem existido uma competição constante entre as duas grandes esferas, a terrestre e a marítima. Na História antiga, as potências que se tornaram em símbolos da “civilização marítima” foram a Fenícia e Cartago. O império terrestre que se lhes opunha era Roma. Os EUA são uma potência marítima assim como a Grã-Bretanha. Tal como a Fenícia, a Grã-Bretanha utilizou o comércio marítimo e a colonização das regiões costeiras como o seu instrumento básico de domínio. Criaram um padrão de civilização, mercantil e capitalista, baseada nos princípios do liberalismo económico, pode assim dizer-se que a generalidade das civilizações marítimas tem estado sempre ligada à primazia da economia sobre a política. Já Roma dava prioridade ao controlo civil e administrativo, dando a primazia à política em detrimento da economia. É um exemplo de potência continental, com a assimilação dos povos conquistados, que foram romanizados após a conquista. Para os Eurasianistas, os seus sucessores são os Impérios Russo, Austro-Húngaro e Alemão”.

De forma gentil o autor aponta que há uma “competição constante” entre os eurasianos e aqueles que definem como “império terrestre”, que são liderados pela Rússia e a “civilização marítima”, chamados por outros autores como “atlântis”, referindo-se aos povos das Américas, África e Oceania, bem como o oeste europeu. Em verdade, o pensamento eurasiano impõe a destruição ou submissão do ocidente como um todo, uma vez que a civilização marítima, como exposto, prioriza o mercantilismo, sendo de menor valor moral que a terrestre, que tem a política como principal objetivo.

Não se trata de uma mera competição, como rivalidades entre cidades que disputam o título de mais bela, mas de uma busca constante pela supremacia do oriente sobre seus históricos rivais, como já tratamos. Uma busca pelo poder que, na melhor das hipóteses adormece e volta a tentara mente dos povos eurasianos sempre que consideram a possibilidade de tomar a Europa e o Novo Mundo. Tanto os saudosistas da abjeta União Soviética quanto os que soam com a criação do Califado, são movidos pelo nostálgico sonho de conquistar o ocidente, o que nos leva a pensar se as Américas não seriam sua realização final.

A gigante e não menos despótica China também figura nos planos dos eurasianos, buscando atrair o já pútrido partido que governa aquela país através do mesmo discurso de destruição do ocidente, atribuindo à “civilização marítima” uma postura imperialista que não se compara a dois russos e chineses no cenário geopolítica. O dragão vermelho tem seus próprios planos de poder, mas não pode descartar o forte alcance de um discurso ideológico como o apresentado pelos eurasianos, pelo fato da ideologia que sustenta o Partido no poder ter se esvasiado com o passar dos anos e sua economia sustentar-se na mão de obra escravizada do povo, no furto de tecnologia, na desinformação quanto a saúde financeira e, principalmente, no chamado capitalismo de Estado, em que marionetes assumem grandes empresas que aparentam não ser controladas pelo governo para se enraizarem na cadeia produtiva global, o que resulta em um perigo para o discurso do Estado chinês, a existência dos bilionários, sempre parceiros do governo, que acabam seduzidos por suas “próprias” riquezas. Nos mesmos moldes da praxe russa, como aponta Olavo de Carvalho.

Pior ainda, é a KGB com poder brutalmente ampliado: de um lado, se no regime comunista havia um agente da polícia secreta para cada 400 cidadãos, hoje há um para cada 200, caracterizando a Rússia, inconfundivelmente, como Estado policial; de outro, o rateio das propriedades estatais entre agentes e colaboradores da polícia política, que se transformaram da noite para o dia em “oligarcas” sem perder seus vínculos de submissão à KGB, concede a esta entidade o privilégio de atuar no Ocidente, sob camadas e camadas de disfarces, com uma liberdade de movimentos que seria impensável no tempo de Stalin ou de Kruschev.

Aproximar-se do centro eurasiano, pode dar aos senhores da China o verniz de um discurso atualizado e moralmente forte, além de uma base cultural para o enfrentamento face ao ocidente. Como bônus, a ditadura chinesa fortalece laços diplomáticos com o Califado, uma vez que, Irã e Síria são aliados quase indissociáveis de Moscou.

É de conhecimento geral que a ditadura chinesa emprega imenso esforço na construção daquilo que ela chama de “Nova Rota da Seda”, cujo nome oficial é “One Belt One Route” (em tradução livre, Um Cinto Uma Rota, ou, Um Cinturão Uma Rota), que liga justamente a Ásia à Europa e parte da África, firmando a influência chinesa naquilo que seria o maior bloco continental do mundo, em síntese, uma rota eurasiana incluindo o norte do continente africano, atualmente controlado por países muçulmanos.

Os tentáculos da besta eurasiano, assumindo que a China seja, de fato, assimilada pelo movimento, espalhar-se-ia por toda a região que realmente interessa aos senhores daquilo que se tornaria o Império Eurasiano desejado pelos seguidores de Dugin, criando um cinturão de grande relevância logística econômica e com potencial militar.

O próximo passo poderá ser a “desdolarização” do mundo, que pode parecer algo bom, de fato é, exceto de for gestado no útero do eurasianismo, hipótese em que trocar-se-á uma moeda que permite a uma democracia desequilibrar a balança em seu favor para substituí-la por um sistema cuja as rédeas estejam nas mão de tiranos com poderes absolutos. Como exposto por Olavo de Carvalho, mais uma promessa de salvação pela destruição que resultará em desgraça.

A Revolução Francesa prometeu salvar a França pela destruição do Antigo Regime: trouxe-a de queda em queda até à condição de potência de segunda classe. A Revolução Mexicana prometeu salvar o México pela destruição da Igreja Católica: transformou-o num fornecedor de drogas para o mundo e de miseráveis para a assistência social americana. A Revolução Russa prometeu salvar a Rússia pela destruição do capitalismo: transformou-a num cemitério. A Revolução Chinesa prometeu salvar a China pela destruição da cultura burguesa: transformou-a num matadouro. A Revolução Cubana prometeu salvar Cuba pela destruição dos usurpadores imperialistas: transformou-a numa prisão de mendigos.

A revolução é alimentada por falsas promessas, isso é inegável, logo, o Eurasianismo não passa de mais uma mentira que poderá resultar em uma terceira guerra, uma vez que, deseja sobrepujar o ocidente não importa o meio. Exportando a degradação moral e discursando contra a decadência da sociedade que sucumbira ao encantos da luxúria, bem como, demonizando o lucro e o imperialismo ao passo que o praticam em favor de seus líderes políticos. Bilionários chineses e oligarcas russos nada mais são que membros de seus respectivos sectos ávidos pelo poder, fazendo de suas riquezas instrumentos para a ascensão.

Evidente que a busca pelo poder é a força motriz do Califado e do Eurasianismo, que a economia, assim como a cultura, são armas para atingir os objetivos de tais grupos, tal como a força bélica, que é acionada quando as demais não forem o suficiente. As relações de poder dar-se-ão pela assimilação das ideias, ainda que de forma dissimulada, confundindo o real significado ou pela desinformação, por isso, o Eurasianismo torna-se uma ideologia eficiente, haja vista que, como já mencionado, consegue alcançar indivíduos de diversos espectros políticos. Aos que não se curvam ao discurso, será empregada a pressão econômica, dilapidando o patrimônio, ou mesmo, levando o contrarrevolucionário à miséria, para que não tenha forças de reação.

Finalmente, ao grupo que se resiste ainda que diante de condições de privações extremas, ser-lhe-á imputado todo o tipo de crime, ainda que não existentes, para que o expurgo seja completo e os demais entendam que não há como se rebelar contra o poder de seus mestres.

O Eurasianismo não nascera após a queda da famigerada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em verdade é anterior à criação da odiosa confederação, razão pela qual, alguns tratam a ideologia de Dugin como neo-eurasianismo, como sendo a proposta que nova, entremente, a visão de filósofo e professor da Universidade de Moscou não deixa de ser uma atualização do Eurasianismo do início do século passado, grupo que ombreou com os bolcheviques em sua doentia escalada ao poder. O próprio Alexander Dugin já integrou o Partido Nacionalista Bolchevique, cuja criação é apontada como um desdobramento de seu homônimo alemão, agremiação que existira na extinta República de Weimar, sendo dissolvido quando seu irmão chegou ao poder.

Por fim, Olavo de Carvalho salienta que a aparente distância entre o Eurasianismo e o regime que outrora se alimentou do sangue na, nada saudosa, União Soviética, não é nada além de uma visão quimérica que esconde a incansável sede de poder dos líderes revolucionários, criaturas que prometem a falsa salvação e escalam suas imaginárias Torres de Babel, acreditando que serão deuses em vida, subjugando a realidade ao seu bel prazer.

Ideologicamente, o eurasismo é diferente do comunismo. Mas ideologia, como definia o próprio Karl Marx, é apenas um “vestido de idéias” a encobrir um esquema de poder. O esquema de poder na Rússia trocou de vestido, mas continua o mesmo – com as mesmas pessoas nos mesmos lugares, exercendo as mesmas funções, com as mesmas ambições totalitárias de sempre”.

Não devemos cair nas armadilhas do Rei de Paus, pois ele odeia a nós e aos nossos filhos com as mesmas forças que tentou destruir nossos antepassados. O ocidente é seu maior alvo e desejo.

Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 38 – ISSN 2764-3867

Sobre o autor

Leandro Costa

Ideias conservadoras estão mudando o Brasil Todas as faces da esquerda, do socialismo mais radical à social democracia levaram nosso país para as trevas, destruíram a moral dos cidadãos e acabaram com os valores. Os conservadores estão tentando, desesperadamente, tirar o Brasil deste caos. Precisamos unir nossas forças enquanto é tempo de salvar nossa nação. Meu nome é Leandro Costa criei este site para divulgar ideias, trabalhos e contar com você para me ajudar a mudar o Rio de Janeiro e talvez o Brasil. Pretendo usar meus conhecimentos para, de fato, ajudar na construção de um mundo melhor. Convido você a fazer parte do meu time de apoiadores, amigos, entusiastas e todos que acreditam em minhas ideias. Defendo o conservadorismo e conto com sua ajuda para tirar o nosso povo da lama que a esquerda nos colocou.

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BIOGRAFIA

Leandro Costa

Servidor público, advogado impedido, professor de Direito, Diretor Acadêmico do projeto Direito nas Escolas e editor-chefe da Revista Conhecimento & Cidadania.

Defensor de uma sociedade rica em valores, acredito que o Brasil despertou e luta para sair da lama vermelha que tentou nos engolir. Sob às bênçãos de Deus defenderemos nossa pátria, família e liberdade, tendo como arma a verdade.

É preciso fazer a nossa parte como cidadãos, lutar incessantemente por nosso povo e deixar um legado para as futuras gerações. A política deve ser um meio do cidadão conduzir a nação, jamais uma forma de submissão a tiranos.

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