¡VIVA LA REVOLUCION!

¡VIVA LA REVOLUCION!

A Revolução Industrial é a segunda fase do Capitalismo, composto pela fase comercial, a fase industrial e a econômica. Em todas as suas fases o capitalismo foi estruturado no sentido de manter e ampliar a lucratividade dos detentores dos meios de produção, gerando distorções econômico-sociais, desigualdade e conflitos entre a burguesia e o operariado. A exploração, jornadas extenuantes, baixíssimos salários, trabalho infantil e todo tipo de abuso contra o trabalhador começou a tornar-se o modus operandi do sistema produtivo. Foi a partir da compreensão da luta de classes existente na fase industrial do capitalismo, trazida à luz por Karl Marx, que se tornou possível a mobilização da classe trabalhadora e o início das revoluções libertadoras que deram ao homem comum a possibilidade de usufruir dos frutos de seu trabalho.

Calma, esta não é uma narrativa panfletária de esquerda, muito pelo contrário. Este texto pretende demonstrar, entre outras coisas, que a narrativa acima, apesar de ser majoritariamente apresentada nos livros didáticos, de Sociologia, Geografia e História, das redes pública e privada de ensino brasileira, está longe de ser apontada como um problema. De modo geral os holofotes são direcionados aos professores doutrinadores e pouco ou nada ao material que é disponibilizado aos corpos docente e discente. Assim, vejamos o que deve ser dito sobre a Revolução Industrial e a construção das narrativas.

Na era da Revolução Industrial, um filósofo que viveu durante esse período expressou suas preocupações com o sistema que observava. Karl Marx argumentou que o capitalismo estava prejudicando o desenvolvimento das sociedades humanas. Em sua visão, as contradições inerentes a esse sistema limitavam o progresso das forças produtivas. Ele acreditava que o capitalismo, ao favorecer apenas os mais ricos, estava restringindo o potencial produtivo dos trabalhadores em uma sociedade sem classes.

Em resumo, Marx via a exploração dos trabalhadores como um obstáculo ao avanço das nações. Ele acreditava que, com o fim do capitalismo e do conflito de classes, a humanidade estaria livre para progredir em direção a uma sociedade mais equitativa e próspera. Embora sua teoria seja plausível, vamos explorar um pouco mais o contexto da época.

Durante o período em que Karl Marx viveu, os conflitos de classe estavam particularmente acentuados na Inglaterra, onde a Revolução Industrial e o capitalismo estavam em pleno curso. Marx argumentava que a disparidade entre ricos e pobres estava aumentando. Se esse fosse o caso, a Inglaterra, com seu grande número de industriais ricos, deveria ter também a maior população de pessoas empobrecidas na Europa. Surpreendentemente, no entanto, a renda média dos ingleses em 1800 era pelo menos o dobro da renda de qualquer outro país europeu.

Além disso, durante o século XVIII, a Inglaterra testemunhou uma mobilidade social sem precedentes, com o surgimento de uma significativa classe média. Muitos trabalhadores, inicialmente empregados em fábricas, conseguiram estabelecer seus próprios negócios, como manufaturas, comércios, armazéns, padarias, jornais ou farmácias, e alcançaram a prosperidade. Antes do advento do capitalismo, todas as nações europeias enfrentavam níveis extremamente baixos de riqueza, com apenas a realeza e a alta nobreza desfrutando de condições de vida confortáveis. A maioria da população sofria com altas taxas de mortalidade infantil e frequentes epidemias que, de tempos em tempos, dizimavam até um terço da população. A partir da Revolução Industrial, a qualidade de vida na Inglaterra experimentou melhorias sem precedentes, impulsionadas pela produção em larga escala de inovações como a semeadeira mecânica, que foi inventada em 1701 e passou a ser produzida em massa a partir de 1750.

Isso possibilitou que muitos agricultores aumentassem sua produção de trigo, cereais e legumes em suas terras a preços mais acessíveis. A população britânica cresceu de 6 milhões em 1750 para 14 milhões em 1831, um aumento de 115%. Durante o mesmo período, a população francesa teve um crescimento de apenas 36%.

É importante observar que a Revolução Industrial ainda não havia chegado à França naquela época. O notável aumento na população britânica não se deveu à imigração nem a um aumento na taxa de natalidade, mas sim à redução das taxas de mortalidade. Em outras palavras, houve uma melhoria na qualidade de vida.

Entre 1740 e 1821, a taxa de mortalidade diminuiu em 41%. Portanto, a afirmação de que o capitalismo estava impedindo o progresso da sociedade carece de apoio histórico. Foi precisamente no berço do capitalismo industrial que a sociedade experimentou seu apogeu.

Além disso, a ideia de que a abolição do capitalismo levaria ao crescimento da humanidade era um mero exercício de imaginação por parte de Marx, já que naquela época não existia nenhum país socialista para fazer comparações. A primeira sociedade sem classes surgiu 34 anos após a morte de Marx, com a Revolução Russa. Desde então, nenhum país socialista alcançou os níveis de prosperidade do capitalismo. Em geral, ocorreu o oposto, com o socialismo oferecendo uma qualidade de vida inferior.

As empresas estatais geralmente operam sob as diretrizes de burocratas governamentais que não possuem conhecimento sobre os desejos dos consumidores. A ausência de concorrência significa que essas empresas não têm incentivo para aprimorar seus produtos ou serviços, já que o consumidor não tem outra opção. Isso, por sua vez, leva à estagnação e à falta de inovação, que normalmente ocorrem quando as empresas não buscam conquistar novos clientes.

Sem a pressão do lucro, as empresas estatais não têm motivação para reduzir custos ou melhorar a eficiência. Isso, por sua vez, resulta na escassez de produtos essenciais em todo o país, como alimentos, medicamentos, produtos de higiene pessoal e energia elétrica. Países comunistas, como Romênia, Tchecoslováquia, Ucrânia, Vietnã, Cuba e Coreia do Norte, frequentemente sofriam com apagões quase diários devido à falta de investimento e manutenção adequados.

Em resposta à queda na produtividade, líderes socialistas, muitas vezes sem experiência em gestão, recorriam à repressão dos trabalhadores. Isso resultava em um ambiente socialista que frequentemente se tornava mais opressivo do que qualquer patrão capitalista. Um exemplo notável disso foi a abordagem dos bolcheviques logo após chegarem ao poder. Leon Trotsky reconheceu que a abolição do capitalismo não levava a melhorias na produtividade dos trabalhadores, questionando as ideias de Marx e indicando que o socialismo dificilmente levaria à prosperidade para a humanidade.

Pode-se afirmar que, em geral, os seres humanos tendem a evitar o trabalho e são motivados a trabalhar quando o trabalho é compulsório. No entanto, o trabalho compulsório, muitas vezes chamado de escravidão, é uma prática que gera preocupações éticas. Em todos os 15 países da União Soviética, os trabalhadores não tinham a liberdade de escolher sua área de atuação, sendo obrigados a trabalhar em fábricas, mesmo que tivessem habilidades em outras áreas. Isso minava significativamente a motivação da maioria dos trabalhadores e, em muitos casos, tornava a situação ainda pior.

Mesmo os menos favorecidos nos países capitalistas geralmente desfrutam de melhores condições de vida do que a população em sociedades socialistas. Isso se deve à ausência de empresas privadas, que impede o aumento salarial com base na produtividade. Sem a perspectiva de enriquecimento pessoal, os trabalhadores perdem o incentivo para aumentar sua produção. Além disso, em vez de várias empresas competindo para fornecer alimentos, roupas, ferramentas e outros produtos essenciais, o socialismo costuma oferecer apenas uma empresa estatal em cada setor, o que leva à falta de incentivo para aprimorar produtos e serviços, já que não há competição pela atenção do consumidor.

Em muitas ocasiões, quando havia falta de mão de obra em regiões distantes, centenas de pessoas eram forçadas a se mudar para esses lugares sem seu consentimento. Isso frequentemente resultava na separação de famílias e parentes, muitas vezes contra a vontade dos envolvidos. Aqueles que se recusavam a cumprir tais ordens enfrentavam prisão ou até mesmo a morte. Uma forma de resistência adotada era a negligência no trabalho.

Esse tipo de coerção foi uma das formas de resistência dos escravos africanos no Brasil. Em contraposição à negligência, em 1940, uma lei soviética começou a punir atrasos de 20 minutos no trabalho, ausências e qualquer forma de indolência com penas de prisão de seis meses em campos de trabalho forçado. Durante o período de 1940 a 1955, mais de 36 milhões de soviéticos foram condenados por indolência, e cerca de 250 mil deles foram fuzilados.

Ao longo do século XX, esse modelo de controle e repressão se repetiu em várias nações. Por exemplo, em 1949, o regime comunista na China resultou em um dos países mais pobres do mundo. Esse padrão também se manifestou em países como Polônia, Hungria, Romênia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Vietnã, Camboja, Coreia do Norte, Angola, Moçambique, Gana, Etiópia, Cuba e Venezuela. Nenhuma experiência socialista conseguiu levar qualquer uma dessas nações à prosperidade.

Isso se deve em parte ao fato de que, para que um país prospere, pelo menos uma parcela significativa de sua população precisa prosperar. No entanto, o socialismo não estimula o surgimento de uma classe burguesa. A Revolução Industrial, por outro lado, gerou um grande número de empreendedores que abriram seus próprios negócios, aumentando a concorrência e tornando produtos anteriormente inacessíveis para as classes mais baixas, como medicamentos, roupas de qualidade, calçados duráveis, ferramentas, jornais e livros, mais acessíveis. Infelizmente, muitas vezes aprendemos sobre a Revolução Industrial sob a influência da visão negativa de Marx sobre o capitalismo.

É notável que as melhorias trazidas pela Revolução Industrial frequentemente tenham sido negligenciadas. Historiadores com uma perspectiva marxista frequentemente argumentam que a exploração do trabalho infantil começou com as primeiras indústrias na Inglaterra. No entanto, ao longo da história, as crianças eram frequentemente consideradas pequenos adultos e começavam a trabalhar em uma idade jovem. O Código de Hamurabi, datado de cerca de dois mil anos antes de Cristo, já estabelecia que as crianças começavam a aprender um ofício aos seis ou sete anos.

Esse padrão era comum na Grécia e Roma Antigas. Em Esparta, por exemplo, as crianças eram retiradas de suas famílias aos sete anos para serem treinadas como guerreiros. Em Roma, crianças trabalhavam tanto entre os escravos quanto na população livre. No Egito Antigo, crianças eram introduzidas ao trabalho aos cinco anos e geralmente seguiam a profissão dos pais.

Durante a Idade Média, pinturas e gravuras que retratavam a vida dos servos frequentemente mostravam crianças trabalhando ao lado dos adultos. A partir dos sete anos, elas se envolviam em tarefas como colheita, ofícios diversos, criação de animais, tecelagem, carpintaria e trabalhos domésticos. Aprendizes das guildas medievais eram frequentemente crianças e adolescentes. Na Inglaterra Medieval, uma lei proibia os artesãos de aceitarem aprendizes com menos de sete anos, indicando que essa prática era comum.

No entanto, a exploração se tornava evidente no tratamento dos aprendizes. Eles trabalhavam 16 horas por dia durante 10 anos para se tornarem artesãos, embora 3 ou 4 anos fossem suficientes. Durante esse período, não recebiam salários; em vez disso, as famílias dos aprendizes pagavam ao artesão para que ensinasse seus filhos. Os aprendizes dormiam frequentemente nas oficinas, muitas vezes no chão, não tinham férias e dependiam dos restos de comida das famílias dos mestres. Além disso, eram responsáveis por tarefas domésticas, como limpar a casa do mestre, acender o fogo e buscar água, tornando-se essencialmente dependentes da família do artesão. O mestre até tinha o direito de aplicar castigos físicos se o aprendiz não fosse disciplinado, tornando essa prática altamente exploradora. Assim viviam os pequeninos europeus. Mesmo em épocas posteriores crianças e adolescentes continuavam a servir às suas famílias ou a outras.

É notável que a história do trabalho infantil frequentemente seja omitida em currículos escolares e acadêmicos. Isso, por vezes, é conveniente, já que permite a percepção equivocada de que o capitalismo foi o responsável por iniciar a prática do trabalho infantil e empurrar milhões de pessoas para a miséria. No entanto, a realidade é que a miséria era a norma em todas as civilizações por mais de 6 mil anos.

Contrariamente ao argumento de Marx, foi o capitalismo que efetivamente impulsionou o progresso da sociedade e a levou ao seu auge. O trabalho infantil, uma prática comum em civilizações de todo o mundo, do Oriente ao Ocidente, só deixou de ser encarado como natural quando os salários se tornaram suficientes para sustentar uma família inteira na Inglaterra. Isso permitiu que crianças de famílias burguesas não precisassem mais contribuir para a renda familiar. Esse processo foi gradual, e somente no século XIX se tornou comum que crianças de classes média e alta não precisassem trabalhar.

O conceito de que as crianças não devem trabalhar, mas sim focar em seus estudos, surgiu com o crescimento da burguesia no século XIX. Antes da Revolução Industrial, as famílias eram responsáveis por produzir suas próprias roupas, calçados e alimentos, o que consumia cerca de 14 horas de trabalho diário. Todos os membros da família trabalhavam para garantir a sobrevivência, e ninguém podia se dar ao luxo de não contribuir.

A Revolução Industrial transformou a produção de roupas, calçados, remédios, alimentos, jornais e livros, tornando-os mais acessíveis à população em geral. Itens como roupas mais confortáveis e quentes para o inverno, que antes eram exclusividade da nobreza, passaram a ser produzidos em larga escala a preços mais acessíveis. Isso também se aplicou a remédios, alimentos, jornais e livros. A invenção das caixas de fósforo facilitou a iluminação e o aquecimento das casas no inverno. A redução de custos em centenas de produtos incentivou a abertura de mais negócios, como armazéns, padarias, cafeterias, farmácias, gráficas e livrarias, proporcionando um aumento geral na qualidade de vida das pessoas.

Até aqui já pudemos perceber as mudanças significativas para a prosperidade e melhoria da qualidade de vida a partir da Revolução Industrial, desde que não incorramos no anacronismo de entender as sociedades passadas sob o ponto de vista das sociedades atuais e, sem as lentes partidaristas ou ideológicas que costumam enviesar a compreensão dos fatos. A partir de nossa próxima edição, aprofundaremos as evidências e chegaremos à conclusão deste artigo. Até breve, e ¡Viva La Revolucion! (industrial).

Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 34

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Sobre o autor

Mauricio Motta

Mauricio Motta - Professor licenciado em História Pós-graduado em História do Brasil e colunista na Revista Conhecimento & Cidadania.

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BIOGRAFIA

Leandro Costa

Servidor público, advogado impedido, professor de Direito, Diretor Acadêmico do projeto Direito nas Escolas e editor-chefe da Revista Conhecimento & Cidadania.

Defensor de uma sociedade rica em valores, acredito que o Brasil despertou e luta para sair da lama vermelha que tentou nos engolir. Sob às bênçãos de Deus defenderemos nossa pátria, família e liberdade, tendo como arma a verdade.

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